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terça-feira, setembro 03, 2024

Ettore ou Heitor


 

Heitor, o Herói de Tróia: “Aquele que Resiste”

O nome Heitor, ou Ettore em algumas tradições, deriva do grego e significa “aquele que resiste” ou “o que mantém firme”. Na mitologia grega, Heitor é uma das figuras mais emblemáticas da Ilíada de Homero, representando a coragem, a honra e o dever para com sua cidade, Tróia.

Filho primogênito de Príamo, rei de Tróia, e de Hécuba, sua esposa, Heitor era o herdeiro legítimo do trono troiano. Segundo a tradição registrada por autores como o pseudo-Apolodoro, Príamo teve cinquenta filhos, sendo dezenove com Hécuba e os demais com outras mulheres, mas foi Heitor quem se destacou como o maior defensor de Tróia durante a Guerra de Tróia.

Heitor surge pela primeira vez no Livro II da Ilíada, liderando o exército troiano com autoridade e bravura. Ele não era apenas um guerreiro formidável, mas também um símbolo de lealdade à sua família e à sua cidade.

Um dos momentos mais marcantes de sua história ocorre no Livro VI, em uma cena que se tornou célebre por sua profundidade emocional: a despedida de Heitor de sua esposa, Andrômaca, e de seu filho, Astíanax.

Nesse encontro, Heitor expressa sua consciência do destino trágico que o aguarda, mas também seu compromisso inabalável de lutar por Tróia. A cena, em que ele tira o elmo para não assustar o filho pequeno, é uma das mais comoventes da literatura épica, destacando sua humanidade em meio à brutalidade da guerra.

Como chefe militar de Tróia, Heitor resistiu aos gregos durante os nove anos iniciais do cerco, liderando as defesas da cidade contra guerreiros lendários como Ájax, Diomedes e o próprio Aquiles.

Protegido pelo deus da guerra, Ares, Heitor alcançou feitos extraordinários no campo de batalha, derrotando inúmeros guerreiros gregos. Seu feito mais notável, e também o que selou seu destino, foi a morte de Pátroclo, o melhor amigo de Aquiles, no Livro XVI.

Pátroclo, vestindo a armadura de Aquiles, liderava os gregos em uma tentativa de reverter a vantagem troiana, mas foi derrotado por Heitor em um combate feroz.

A morte de Pátroclo desencadeou a fúria de Aquiles, que, até então, se recusava a lutar devido a um desentendimento com Agamêmnon, líder dos gregos.

Movido pela dor e pelo desejo de vingança, Aquiles desafiou Heitor para um duelo singular. No Livro XXII, ocorre um dos momentos mais dramáticos da Ilíada: Heitor, inicialmente hesitante, enfrenta Aquiles sozinho fora das muralhas de Tróia.

Perseguido três vezes ao redor da cidade, ele é finalmente alcançado e morto pelo herói grego, que, em um ato de desrespeito, amarra o corpo de Heitor à sua carruagem e o arrasta até o acampamento grego.

Esse gesto reflete a desumanização causada pela guerra, mas também a profundidade da dor de Aquiles. A tragédia de Heitor não termina com sua morte.

Quando Príamo, seu pai, descobre que Aquiles planeja negar ao corpo de Heitor os ritos fúnebres tradicionais, ele, com a ajuda do deus Hermes, toma a corajosa decisão de visitar o acampamento inimigo.

Em um encontro carregado de emoção, descrito no Livro XXIV, Príamo implora a Aquiles pela devolução do corpo de seu filho. Comovido pela coragem e pela dor do velho rei, Aquiles, em um raro momento de empatia, concorda com o pedido e declara uma trégua de onze dias para que os troianos possam realizar o funeral de Heitor.

O enterro, descrito com detalhes solenes, marca o ápice da Ilíada e reforça a humanidade de Heitor, cuja morte simboliza a inevitável queda de Tróia.

Além da Ilíada, Heitor também desempenha um papel importante na Eneida de Virgílio. Durante a noite em que Tróia é finalmente conquistada pelos gregos, por meio do estratagema do cavalo de madeira, Heitor aparece em sonho a Enéias, um dos poucos sobreviventes troianos.

Nesse momento, ele entrega a Enéias a missão sagrada de salvar os Penates, os deuses protetores de Tróia, e levá-los para além do mar, onde fundará uma nova cidade - a futura Roma.

Essa aparição reforça o papel de Heitor como guardião do legado troiano, mesmo após sua morte. Heitor é, portanto, muito mais do que um guerreiro. Ele é o símbolo da resistência, do sacrifício e da dignidade em face da adversidade.

Sua história, imortalizada por Homero e Virgílio, continua a ressoar como um retrato poderoso da condição humana, da tensão entre o dever e a família, e da tragédia inevitável da guerra.

Diferentemente de Aquiles, movido pela glória pessoal, Heitor luta por sua cidade e por aqueles que ama, o que o torna, para muitos, o verdadeiro herói da Ilíada. 

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