Heitor, o Herói de Tróia: “Aquele que Resiste”
O nome
Heitor, ou Ettore em algumas tradições, deriva do grego e significa “aquele que
resiste” ou “o que mantém firme”. Na mitologia grega, Heitor é uma das figuras
mais emblemáticas da Ilíada de Homero, representando a coragem, a honra e o
dever para com sua cidade, Tróia.
Filho
primogênito de Príamo, rei de Tróia, e de Hécuba, sua esposa, Heitor era o
herdeiro legítimo do trono troiano. Segundo a tradição registrada por autores
como o pseudo-Apolodoro, Príamo teve cinquenta filhos, sendo dezenove com
Hécuba e os demais com outras mulheres, mas foi Heitor quem se destacou como o
maior defensor de Tróia durante a Guerra de Tróia.
Heitor
surge pela primeira vez no Livro II da Ilíada, liderando o exército troiano com
autoridade e bravura. Ele não era apenas um guerreiro formidável, mas também um
símbolo de lealdade à sua família e à sua cidade.
Um dos
momentos mais marcantes de sua história ocorre no Livro VI, em uma cena que se
tornou célebre por sua profundidade emocional: a despedida de Heitor de sua
esposa, Andrômaca, e de seu filho, Astíanax.
Nesse
encontro, Heitor expressa sua consciência do destino trágico que o aguarda, mas
também seu compromisso inabalável de lutar por Tróia. A cena, em que ele tira o
elmo para não assustar o filho pequeno, é uma das mais comoventes da literatura
épica, destacando sua humanidade em meio à brutalidade da guerra.
Como
chefe militar de Tróia, Heitor resistiu aos gregos durante os nove anos
iniciais do cerco, liderando as defesas da cidade contra guerreiros lendários
como Ájax, Diomedes e o próprio Aquiles.
Protegido
pelo deus da guerra, Ares, Heitor alcançou feitos extraordinários no campo de
batalha, derrotando inúmeros guerreiros gregos. Seu feito mais notável, e
também o que selou seu destino, foi a morte de Pátroclo, o melhor amigo de
Aquiles, no Livro XVI.
Pátroclo,
vestindo a armadura de Aquiles, liderava os gregos em uma tentativa de reverter
a vantagem troiana, mas foi derrotado por Heitor em um combate feroz.
A morte
de Pátroclo desencadeou a fúria de Aquiles, que, até então, se recusava a lutar
devido a um desentendimento com Agamêmnon, líder dos gregos.
Movido
pela dor e pelo desejo de vingança, Aquiles desafiou Heitor para um duelo
singular. No Livro XXII, ocorre um dos momentos mais dramáticos da Ilíada:
Heitor, inicialmente hesitante, enfrenta Aquiles sozinho fora das muralhas de
Tróia.
Perseguido
três vezes ao redor da cidade, ele é finalmente alcançado e morto pelo herói
grego, que, em um ato de desrespeito, amarra o corpo de Heitor à sua carruagem
e o arrasta até o acampamento grego.
Esse
gesto reflete a desumanização causada pela guerra, mas também a profundidade da
dor de Aquiles. A tragédia de Heitor não termina com sua morte.
Quando
Príamo, seu pai, descobre que Aquiles planeja negar ao corpo de Heitor os ritos
fúnebres tradicionais, ele, com a ajuda do deus Hermes, toma a corajosa decisão
de visitar o acampamento inimigo.
Em um
encontro carregado de emoção, descrito no Livro XXIV, Príamo implora a Aquiles
pela devolução do corpo de seu filho. Comovido pela coragem e pela dor do velho
rei, Aquiles, em um raro momento de empatia, concorda com o pedido e declara
uma trégua de onze dias para que os troianos possam realizar o funeral de
Heitor.
O
enterro, descrito com detalhes solenes, marca o ápice da Ilíada e reforça a
humanidade de Heitor, cuja morte simboliza a inevitável queda de Tróia.
Além da
Ilíada, Heitor também desempenha um papel importante na Eneida de Virgílio.
Durante a noite em que Tróia é finalmente conquistada pelos gregos, por meio do
estratagema do cavalo de madeira, Heitor aparece em sonho a Enéias, um dos
poucos sobreviventes troianos.
Nesse
momento, ele entrega a Enéias a missão sagrada de salvar os Penates, os deuses
protetores de Tróia, e levá-los para além do mar, onde fundará uma nova cidade -
a futura Roma.
Essa
aparição reforça o papel de Heitor como guardião do legado troiano, mesmo após
sua morte. Heitor é, portanto, muito mais do que um guerreiro. Ele é o símbolo
da resistência, do sacrifício e da dignidade em face da adversidade.
Sua
história, imortalizada por Homero e Virgílio, continua a ressoar como um
retrato poderoso da condição humana, da tensão entre o dever e a família, e da
tragédia inevitável da guerra.
Diferentemente de Aquiles, movido pela glória pessoal, Heitor luta por sua cidade e por aqueles que ama, o que o torna, para muitos, o verdadeiro herói da Ilíada.









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