A imagem mais nítida da vida vazia é a do homem do
subúrbio, que se levanta todas as manhãs no mesmo horário, de segunda a
sexta-feira, e embarca no mesmo trem lotado rumo ao trabalho na cidade.
No trabalho, executa as mesmas tarefas monótonas,
almoça no mesmo restaurante, deixa a mesma gorjeta modesta para a garçonete e
retorna para casa no mesmo trem barulhento todas as noites.
Tem dois ou três filhos, cuida de um pequeno jardim
nos fins de semana, passa duas semanas de férias na praia todo verão - um
ritual que, no fundo, não o diverte, mas que ele repete por hábito ou pressão
social.
Visita a igreja no Natal e na Páscoa, mais por
tradição do que por fé, e atravessa uma existência rotineira e mecânica, ano
após ano, até que, aos sessenta e cinco anos, se aposenta.
Pouco tempo depois, morre de insuficiência cardíaca,
talvez resultado de uma hostilidade reprimida, de sonhos sufocados ou de uma
vida que nunca ousou desafiar o script imposto.
Assim é a vida urbana de milhões de pessoas,
domesticadas por um sistema que as prende em regras rígidas e invisíveis.
Elegem líderes que prometem salvação, mas que, na prática, apenas roubam e
escravizam, legislando em causa própria.
Criam políticas que desempregam, que adoecem, que
desarmam, enquanto sugam tudo em impostos abusivos. Quando o emprego some,
resta ao cidadão se virar para não morrer de fome e evitar que os filhos
padeçam.
Quando a doença
chega, o abandono é quase certo: morre-se à míngua, sem cuidados decentes. E
quando a violência bate à porta, o desfecho é previsível - o cidadão, desarmado
e vulnerável, sucumbe ao bandido, que anda armado e protegido por um sistema
que parece favorecê-lo.
Esse ciclo é rotineiro e só tende a piorar. O que se
vê nos noticiários e nas redes sociais é um sistema que trabalha incansavelmente
para dominar tudo e todos, reservando privilégios a uma minoria escolhida a
dedo.
Enquanto isso, a maioria segue anestesiada, conformada ou exausta demais para reagir. Talvez o verdadeiro vazio não esteja apenas na rotina, mas na aceitação silenciosa de uma vida que poderia ser mais - uma vida que, em algum momento, foi sonhada, mas que se perdeu nas engrenagens de um mundo que não perdoa quem para de girar. Pronto, falei!
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