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sexta-feira, junho 20, 2025

A história de Marcelin e Francine


 

Em 15 de agosto de 1942, Marcelin e Francine Dumoulin, um casal suíço de agricultores, saiu para uma caminhada nos Alpes Suíços e nunca mais retornou. Setenta e cinco anos depois, o derretimento de uma geleira revelou a verdade por trás de um dos maiores mistérios da Suíça.

Marcelin, de 40 anos, e Francine, de 37, viviam na vila de Chandolin, no cantão de Valais, onde criavam seus sete filhos. Naquele dia fatídico, o casal partiu para os pastos alpinos próximos à geleira Tsanfleuron, a cerca de 2.600 metros de altitude, com o objetivo de verificar o gado, uma tarefa comum para os agricultores da região.

Era uma época marcada pela Segunda Guerra Mundial, embora a Suíça permanecesse neutra, e a vida nas montanhas seguia seu ritmo tradicional. No entanto, quando a noite caiu e o casal não retornou, a preocupação tomou conta da família e da comunidade.

Buscas intensas foram organizadas, envolvendo moradores locais, guias alpinos e autoridades. Durante semanas, equipes vasculharam trilhas, ravinas e encostas, mas não encontraram nenhum vestígio de Marcelin ou Francine.

A falta de pistas alimentou especulações: teriam eles sofrido um acidente, sido soterrados por uma avalanche ou talvez se perdido em uma tempestade súbita?

Sem respostas, o caso se tornou uma lenda local, e os sete filhos, órfãos de pais desaparecidos, cresceram carregando a incerteza e a dor da perda. A filha mais nova, Marceline Udry-Dumoulin, tinha apenas quatro anos na época e passou a vida sem memórias concretas dos pais.

O mistério permaneceu intacto até julho de 2017, quando as mudanças climáticas trouxeram à tona o que as montanhas haviam escondido por décadas.

O aquecimento global acelerou o recuo da geleira Tsanfleuron, expondo áreas antes cobertas por gelo. Foi então que funcionários de uma estação de esqui nas proximidades fizeram uma descoberta extraordinária: dois corpos perfeitamente preservados, deitados lado a lado, emergiram do gelo.

Junto a eles, estavam mochilas, uma garrafa de água, um relógio de bolso, botas e roupas típicas dos anos 1940, intactas apesar do passar dos anos. A cena, descrita como comovente, sugeria que o casal havia enfrentado seu destino junto.

A polícia do cantão de Valais foi acionada, e os restos mortais foram enviados para análise no Instituto de Medicina Legal da Universidade de Lausanne.

Testes de DNA confirmaram que os corpos eram, de fato, de Marcelin e Francine Dumoulin. A hipótese mais provável, segundo os investigadores, é que o casal caiu em uma fenda glacial durante a caminhada, sendo rapidamente envoltos pelo gelo, que os preservou como uma cápsula do tempo.

A descoberta trouxe um misto de alívio e tristeza para os filhos sobreviventes, que, já idosos, finalmente puderam encerrar um capítulo de suas vidas. Marceline, então com 79 anos, expressou gratidão por saber a verdade, embora lamentasse que a resposta tivesse chegado tão tarde.

O caso dos Dumoulin não é isolado. Nos últimos anos, o derretimento de geleiras nos Alpes devido às mudanças climáticas tem revelado outros segredos congelados: desde corpos de montanhistas desaparecidos até destroços de aviões e artefatos históricos.

Esses achados são um lembrete sombrio do impacto do aquecimento global, que transforma paisagens e expõe histórias há muito esquecidas. Para a família Dumoulin, a descoberta permitiu um funeral digno, realizado em 2017 na igreja de Chandolin, onde parentes e membros da comunidade se reuniram para prestar suas homenagens.

A história de Marcelin e Francine, agora parte da memória coletiva da Suíça, é um testemunho da resiliência da natureza e da fragilidade humana. É também um convite à reflexão sobre como o passado, mesmo quando sepultado sob camadas de gelo, pode ressurgir para contar suas verdades.

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