Em 15 de agosto de 1942, Marcelin e Francine Dumoulin,
um casal suíço de agricultores, saiu para uma caminhada nos Alpes Suíços e
nunca mais retornou. Setenta e cinco anos depois, o derretimento de uma geleira
revelou a verdade por trás de um dos maiores mistérios da Suíça.
Marcelin, de 40 anos, e Francine, de 37, viviam na
vila de Chandolin, no cantão de Valais, onde criavam seus sete filhos. Naquele
dia fatídico, o casal partiu para os pastos alpinos próximos à geleira Tsanfleuron,
a cerca de 2.600 metros de altitude, com o objetivo de verificar o gado, uma
tarefa comum para os agricultores da região.
Era uma época marcada pela Segunda Guerra Mundial,
embora a Suíça permanecesse neutra, e a vida nas montanhas seguia seu ritmo
tradicional. No entanto, quando a noite caiu e o casal não retornou, a
preocupação tomou conta da família e da comunidade.
Buscas intensas foram organizadas, envolvendo
moradores locais, guias alpinos e autoridades. Durante semanas, equipes
vasculharam trilhas, ravinas e encostas, mas não encontraram nenhum vestígio de
Marcelin ou Francine.
A falta de pistas alimentou especulações: teriam eles
sofrido um acidente, sido soterrados por uma avalanche ou talvez se perdido em
uma tempestade súbita?
Sem respostas, o caso se tornou uma lenda local, e os
sete filhos, órfãos de pais desaparecidos, cresceram carregando a incerteza e a
dor da perda. A filha mais nova, Marceline Udry-Dumoulin, tinha apenas quatro
anos na época e passou a vida sem memórias concretas dos pais.
O mistério permaneceu intacto até julho de 2017,
quando as mudanças climáticas trouxeram à tona o que as montanhas haviam
escondido por décadas.
O aquecimento global acelerou o recuo da geleira
Tsanfleuron, expondo áreas antes cobertas por gelo. Foi então que funcionários
de uma estação de esqui nas proximidades fizeram uma descoberta extraordinária:
dois corpos perfeitamente preservados, deitados lado a lado, emergiram do gelo.
Junto a eles, estavam mochilas, uma garrafa de água,
um relógio de bolso, botas e roupas típicas dos anos 1940, intactas apesar do
passar dos anos. A cena, descrita como comovente, sugeria que o casal havia
enfrentado seu destino junto.
A polícia do cantão de Valais foi acionada, e os
restos mortais foram enviados para análise no Instituto de Medicina Legal da
Universidade de Lausanne.
Testes de DNA confirmaram que os corpos eram, de fato,
de Marcelin e Francine Dumoulin. A hipótese mais provável, segundo os
investigadores, é que o casal caiu em uma fenda glacial durante a caminhada,
sendo rapidamente envoltos pelo gelo, que os preservou como uma cápsula do
tempo.
A descoberta trouxe um misto de alívio e tristeza para
os filhos sobreviventes, que, já idosos, finalmente puderam encerrar um
capítulo de suas vidas. Marceline, então com 79 anos, expressou gratidão por
saber a verdade, embora lamentasse que a resposta tivesse chegado tão tarde.
O caso dos Dumoulin não é isolado. Nos últimos anos, o
derretimento de geleiras nos Alpes devido às mudanças climáticas tem revelado
outros segredos congelados: desde corpos de montanhistas desaparecidos até
destroços de aviões e artefatos históricos.
Esses achados são um lembrete sombrio do impacto do
aquecimento global, que transforma paisagens e expõe histórias há muito
esquecidas. Para a família Dumoulin, a descoberta permitiu um funeral digno,
realizado em 2017 na igreja de Chandolin, onde parentes e membros da comunidade
se reuniram para prestar suas homenagens.
A história de Marcelin e Francine, agora parte da memória coletiva da Suíça, é um testemunho da resiliência da natureza e da fragilidade humana. É também um convite à reflexão sobre como o passado, mesmo quando sepultado sob camadas de gelo, pode ressurgir para contar suas verdades.
0 Comentários:
Postar um comentário