O RMS
Titanic, juntamente com seus navios irmãos Olympic e Britannic, representava o
auge da engenharia naval no início do século XX. Construído pela Harland &
Wolff em Belfast, o navio era movido por uma combinação avançada de dois
sistemas de propulsão.
Suas 29
caldeiras a vapor, distribuídas em seis salas, alimentavam dois motores de
tripla expansão com quatro cilindros cada, responsáveis por girar as duas
hélices laterais.
O vapor
excedente era canalizado para uma turbina de baixa pressão que acionava a
hélice central, permitindo ao Titanic atingir uma velocidade média de 21 nós
(aproximadamente 39 km/h). O consumo diário de carvão variava entre 638 e 737
toneladas, refletindo a imensa energia necessária para mover um navio de 46.328
toneladas.
A
energia elétrica do navio, essencial para iluminação, ventilação e outros
equipamentos, era fornecida por quatro dínamos de 400 kW. A fuligem resultante
da queima de carvão era expelida pelas três primeiras chaminés, enquanto a
quarta, ornamental, foi incluída para conferir ao Titanic e aos outros navios
da Classe Olympic uma aparência mais imponente, além de servir como ventilação
para a casa de máquinas e as cozinhas.
Na
parte frontal do convés dos botes, localizava-se a ponte de comando, que se
estendia por toda a largura do navio. Ela incluía dois passadiços, duas cabines
de observação laterais, uma sala de navegação e uma sala de cartas marítimas.
Atrás
da ponte, ficavam os alojamentos dos oficiais, com cabines proporcionais à
hierarquia. O capitão Edward Smith, por exemplo, ocupava uma suíte luxuosa com
escritório, banheiro privativo e até uma banheira, um privilégio raro na época.
Próximo
à primeira chaminé, a sala de comunicações sem fio era operada 24 horas por dia
pelos radiotelegrafistas Jack Phillips e Harold Bride, utilizando a tecnologia
de ponta da Marconi Company.
Na
proa, os alojamentos dos foguistas e mecânicos eram acessados por uma escada em
espiral e um longo corredor que levava às salas de máquinas. Um cesto de gávea,
localizado no mastro dianteiro, era acessado por uma escada interna e servia
como posto de observação. Uma passarela de navegação na popa complementava o
sistema de comando.
A comunicação
a bordo era facilitada por uma linha telefônica que conectava a ponte de
comando ao cesto de gávea, à casa do leme, à passarela de navegação e à casa de
máquinas, garantindo manobras rápidas e precisas. Uma segunda linha permitia
que os passageiros da primeira classe solicitassem serviços diretamente do
conforto de suas cabines.
Instalações de Luxo do Titanic
O
Titanic foi projetado para oferecer um nível de conforto e sofisticação sem
precedentes, superando qualquer outro navio de sua época. As instalações da
primeira classe, localizadas entre o convés dos botes e o convés E, incluíam um
ginásio equipado com aparelhos modernos, uma quadra de squash, uma sala de
fumar decorada com lareira e pinturas de Norman Wilkinson, um restaurante à lá
carte, dois cafés ornamentados com palmeiras, uma piscina coberta, banhos
turcos, uma sala de leitura com móveis de mogno e vitrais, além de um convés de
passeio coberto.
Algumas
cabines da primeira classe possuíam banheiros privativos, uma raridade na
época, e duas suítes de luxo contavam até com conveses privativos exclusivos.
Duas
grandes escadarias conectavam os conveses e instalações da primeira classe. A
escadaria dianteira, localizada entre a primeira e a segunda chaminé, era
coberta por uma cúpula de vidro e adornada por um relógio entalhado conhecido
como "Honra e Glória Coroando o Tempo".
Três
elevadores, operando entre os conveses A e E, serviam exclusivamente os
passageiros da primeira classe. No convés D, a escadaria desembocava em uma
grandiosa sala de jantar, decorada com detalhes opulentos. A segunda escadaria,
entre a terceira e a quarta chaminé, também era coberta por uma cúpula de
vidro, reforçando o esplendor do navio.
Os
passageiros da segunda classe desfrutavam de acomodações comparáveis às de
primeira classe de outros navios, com cabines confortáveis, uma sala de jantar
elegante e acesso a um convés de passeio.
Mesmo a
terceira classe, embora mais simples, oferecia condições melhores do que em
muitas embarcações contemporâneas, com dormitórios coletivos e áreas comuns bem
equipadas.

Medidas de Segurança do Titanic
O casco
do Titanic era dividido em 16 compartimentos estanques, projetados para
aumentar a segurança em caso de colisão. Doze comportas estanques,
estrategicamente posicionadas, podiam ser fechadas remotamente a partir da
ponte de comando ou automaticamente em caso de inundação.
No
entanto, os compartimentos centrais se estendiam apenas até o convés E,
enquanto os da proa e popa alcançavam o convés D. Os projetistas acreditavam
que o navio poderia permanecer flutuando mesmo com até quatro compartimentos da
proa inundados, ou dois compartimentos adjacentes em qualquer parte do casco.
O navio
também contava com um fundo duplo e oito bombas d’água capazes de extrair 400
toneladas de água por hora. Essas características levaram a imprensa a
popularizar o mito de que o Titanic era "inafundável", embora a White
Star Line nunca tenha feito tal afirmação oficialmente.
A ideia
de "praticamente inafundável" já havia sido usada para descrever
outros navios da companhia, como o RMS Cedric, em 1903. O Titanic estava
equipado com 20 botes salva-vidas: 14 botes padrão com capacidade para 65
pessoas, dois cúteres de emergência para 40 pessoas e quatro botes desmontáveis
Engelhardt, cada um capaz de acomodar 47 pessoas.
No
total, os botes poderiam transportar 1.178 pessoas, cerca de um terço da capacidade
total do navio, que era de aproximadamente 3.300 passageiros e tripulantes.
Embora
isso excedesse as exigências das leis marítimas da época, que priorizavam a
transferência de passageiros para navios de resgate em vez de evacuação total,
o número de botes era insuficiente para um desastre de grandes proporções.
O
engenheiro Alexander Carlisle propôs incluir mais botes, mas a ideia foi
rejeitada por J. Bruce Ismay, presidente da White Star Line, para evitar a
redução do espaço no convés dos botes e não comprometer a imagem de segurança
da empresa. Contudo, Carlisle conseguiu instalar turcos Wellin, capazes de
lançar até dois botes por unidade, como precaução para futuras mudanças na
legislação.
O Naufrágio do Titanic
Na
noite de 14 de abril de 1912, durante sua viagem inaugural de Southampton,
Inglaterra, para Nova York, EUA, o Titanic colidiu com um iceberg no Atlântico
Norte, a cerca de 600 km ao sul da Terra Nova. A colisão, às 23h40, abriu
brechas em pelo menos cinco compartimentos estanques da proa, superando o
limite de segurança projetado.
A água
inundou rapidamente o navio, que começou a afundar pela proa, impossibilitando
o fechamento completo de algumas comportas. Os radiotelegrafistas Jack Phillips
e Harold Bride enviaram sinais de socorro (CQD e SOS) por quase duas horas,
contatando navios próximos, como o RMS Carpathia.
No
entanto, a evacuação foi caótica. Muitos botes foram lançados com menos da
metade de sua capacidade, devido à falta de treinamento da tripulação e à
crença inicial de que o navio não afundaria rapidamente.
A
prioridade dada às mulheres e crianças, embora louvável, resultou em confusão,
e alguns botes partiram sem homens que poderiam ter auxiliado na remagem. Às
2h20 de 15 de abril, o Titanic desapareceu sob as águas geladas, levando
consigo cerca de 1.500 vidas.
Dos
2.224 passageiros e tripulantes a bordo, apenas 710 sobreviveram, resgatados
pelo Carpathia horas depois. A tragédia expôs falhas graves na segurança
marítima, incluindo a insuficiência de botes salva-vidas, a falta de exercícios
de evacuação e a negligência com alertas de icebergs enviados por outros
navios. A velocidade do Titanic, mantida mesmo em uma região conhecida por
icebergs, também foi amplamente debatida.
Impacto e Legado
O
naufrágio do Titanic chocou o mundo e gerou mudanças significativas nas
regulamentações marítimas. Em 1914, a Convenção Internacional para a
Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS) foi estabelecida, exigindo botes
salva-vidas suficientes para todos a bordo, exercícios regulares de evacuação e
monitoramento contínuo de comunicações por rádio.
A
tragédia também inspirou avanços na construção naval, como cascos mais robustos
e sistemas de detecção de obstáculos. O Titanic permanece um símbolo de
arrogância tecnológica e da fragilidade humana diante da natureza.
Sua
história foi imortalizada em livros, filmes (como o de 1997, dirigido por James
Cameron) e exposições, como a recuperação de artefatos do naufrágio, descoberto
em 1985 por Robert Ballard.
Até hoje, o Titanic fascina por sua grandiosidade, sua tragédia e as lições que deixou para a humanidade.
0 Comentários:
Postar um comentário