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domingo, outubro 12, 2025

O Martelo das Bruxas ou Malleus Maleficarum


 

O Malleus Maleficarum, ou O Martelo das Bruxas, foi o manual operacional da Inquisição durante o auge do Tribunal do Santo Ofício. Este livro tornou-se o principal instrumento ideológico e prático utilizado para identificar, julgar e condenar pessoas acusadas de bruxaria - especialmente mulheres - entre os séculos XV e XVIII.

Os processos inquisitoriais de bruxaria tiveram no Malleus Maleficarum o seu principal documento norteador. A obra foi escrita em 1486 pelos frades dominicanos Heinrich Kramer (também conhecido como Institoris) e James Sprenger, inspirando-se no Manual dos Inquisidores, elaborado cerca de cem anos antes por Nicolás Eymerich.

Mais do que um simples texto teológico, o Malleus Maleficarum representou o ápice da intolerância religiosa e do fanatismo que dominavam parte da Europa medieval.

É considerado, até hoje, uma das páginas mais sombrias da história do cristianismo, uma vez que foi utilizado por quase três séculos como a “Bíblia” dos inquisidores - uma espécie de guia para tortura, confissão e execução.

Durante esse período, milhares de mulheres foram perseguidas, torturadas e queimadas vivas, acusadas de bruxaria, heresia e pacto com o demônio. A mulher, vista como ser fraco, volúvel e ligado ao pecado original, tornou-se o principal alvo do medo e da repressão religiosa.

O celibato clerical e a repressão sexual da época também contribuíram para transformar a figura feminina em um símbolo de tentação e perigo espiritual. O Malleus Maleficarum baseava-se em sete teses centrais que sustentavam sua lógica cruel e misógina:

O demônio, com a permissão de Deus, busca causar o maior número possível de males aos homens, com o objetivo de conquistar suas almas. Esse mal se manifesta através do corpo, visto como o ponto mais vulnerável do ser humano. O corpo seria o único “território” onde o demônio poderia atuar.

O domínio demoníaco se expressa principalmente pela sexualidade - considerada o canal por onde o mal entra no mundo. As mulheres, por estarem mais próximas da sexualidade e da tentação, seriam as agentes privilegiadas do demônio.

A principal característica das feiticeiras seria a copulação com o demônio, tornando Satã o “senhor do prazer”. Após essa união profana, as bruxas passariam a causar desgraças: impotência masculina, abortos, pragas nas colheitas, doenças e até sacrifícios de crianças.

Esses pecados, segundo o manual, eram mais graves que os de Lúcifer, e, portanto, imperdoáveis, devendo ser punidos com tortura e morte.

A obra está dividida em três partes fundamentais:

Primeira parte: descreve o poder e as ações do demônio, ligando diretamente a bruxaria à influência satânica. Nessa seção, o autor reforça que as mulheres seriam naturalmente mais propensas à corrupção demoníaca.

Segunda parte: apresenta métodos para reconhecer a presença da bruxaria no cotidiano, transformando qualquer acontecimento - como doenças, tempestades, impotência ou desavenças - em possíveis sinais de pacto demoníaco.

Terceira parte: detalha os procedimentos dos julgamentos e punições, orientando os inquisidores sobre como conduzir interrogatórios, aplicar torturas e redigir sentenças, sem deixar margem à absolvição.

A influência do Malleus Maleficarum ultrapassou fronteiras. Sua aplicação foi intensa em países como Alemanha, França, Espanha e Inglaterra, onde as fogueiras consumiram inocentes sob o pretexto de “purificar o mal”.

Somente séculos depois, com o advento do Iluminismo e da valorização da razão sobre o dogma, a humanidade começou a reconhecer a brutalidade e o erro histórico daquelas perseguições.

Hoje, o Malleus Maleficarum é visto não apenas como um símbolo do obscurantismo medieval, mas também como um alerta atemporal sobre o perigo da intolerância, do fanatismo e da manipulação da fé.


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