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quarta-feira, maio 28, 2025

Milagres que não se repetem


Milagres que não se repetem: Reflexões sobre a narrativa bíblica e a realidade contemporânea.

Segundo o livro de Êxodo, o Deus descrito na Bíblia realizou feitos extraordinários, como fazer chover maná - um alimento milagrosamente produzido - para sustentar os israelitas durante sua jornada pelo deserto rumo à Terra Prometida.

Esse relato, para muitos, é uma demonstração do poder divino e de sua providência. No entanto, surge uma questão inevitável: por que esse mesmo Deus, que outrora supriu as necessidades de um povo, não intervém hoje, fazendo chover pelo menos farinha nas regiões mais necessitadas do mundo, onde milhões sofrem com a fome?

A crença em narrativas como a do maná pode parecer ingênua para alguns, especialmente quando confrontada com a dura realidade de um mundo onde a miséria persiste.

Em países africanos, como Sudão do Sul e Somália, e em outras regiões devastadas por conflitos, desastres naturais ou desigualdades estruturais, milhões de pessoas, incluindo crianças, enfrentam a fome diariamente.

Dados da ONU estimam que, em 2024, cerca de 258 milhões de pessoas em 58 países sofreram insegurança alimentar aguda. Diante disso, a ausência de intervenção divina levanta questionamentos: se milagres como o maná ocorreram no passado, por que não se repetem agora?

Nem Deus, nem seus supostos representantes na Terra, parecem oferecer soluções concretas para aliviar esse sofrimento. A narrativa bíblica afirma que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26-27).

Se isso é verdade, como explicar a existência de opressores que submetem povos inteiros à violência, à fome e à exploração? Por que alguns são "bons" e outros "maus"?

Os habitantes de Sodoma e Gomorra, destruídos por Deus segundo Gênesis 19, ou as vítimas do Dilúvio, narrado em Gênesis 6-8, foram criados por quem?

Se Deus é o criador de tudo, seria Ele também o responsável por criar tanto os justos quanto os pecadores, os que sofrem e os que causam sofrimento?

Essas perguntas desafiam a lógica de uma divindade onipotente e benevolente. Muitos crentes respondem com argumentos baseados na fé, como o "livre-arbítrio" ou os "desígnios insondáveis de Deus".

No entanto, essas explicações frequentemente soam insuficientes ou até evasivas diante da escala do sofrimento humano. Por exemplo, o conceito de livre-arbítrio pode justificar ações humanas, mas não esclarece por que catástrofes naturais, como secas e inundações, agravam a fome em regiões já vulneráveis.

Será que a fé exige aceitar que o mesmo Deus que proveu maná no deserto agora escolhe permanecer em silêncio? Além disso, a narrativa dos milagres bíblicos muitas vezes é usada para reforçar a crença em uma intervenção divina que, na prática, não se manifesta.

Enquanto isso, a humanidade segue lidando com problemas concretos: guerras, como o conflito no Sudão, que deslocou milhões de pessoas em 2024, ou crises climáticas que destroem colheitas em regiões como o Chifre da África.

A ausência de milagres modernos força a humanidade a buscar soluções práticas, como a ajuda humanitária, que muitas vezes é insuficiente ou mal distribuída devido a interesses políticos e econômicos.

Assim, a insistência em narrativas milagrosas pode parecer não apenas desconexa da realidade, mas também uma forma de perpetuar a passividade diante de problemas que exigem ação humana.

Questionar essas histórias não é apenas um exercício de ceticismo, mas uma tentativa de compreender por que o mundo, criado por um suposto Deus perfeito, parece tão cheio de contradições.

Enquanto alguns defendem essas narrativas com fervor, outros veem nelas apenas mitos que, embora culturalmente significativos, não oferecem respostas práticas para os desafios do presente.

A humanidade, portanto, segue dividida entre a fé cega em milagres que não se repetem e a necessidade de enfrentar, com suas próprias mãos, as mazelas de um mundo que parece abandonado por qualquer providência divina.

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