Propaganda

quinta-feira, maio 29, 2025

Charles Joughin - Titanic



Charles John Joughin: O Sobrevivente Improvável do Titanic

Charles John Joughin, nascido em 3 de agosto de 1878, foi o pasteleiro-chefe a bordo do RMS Titanic durante sua fatídica viagem inaugural em 1912.

Sua história de sobrevivência no naufrágio do navio, um dos desastres marítimos mais emblemáticos da história, é notável não apenas pela coragem demonstrada, mas também pela sua capacidade de resistir por um período excepcionalmente longo nas águas gélidas do Atlântico Norte, entre 1 e 2 horas, antes de ser resgatado pelo bote salva-vidas desmontável B.

Juventude e Início da Carreira

Nascido em Patten Street, West Float, Birkenhead, Cheshire, Inglaterra, Charles Joughin teve uma infância humilde em uma cidade portuária. Aos 11 anos, em 1889, embarcou pela primeira vez em um navio, iniciando uma carreira marítima que o levaria a trabalhar em várias embarcações da prestigiada White Star Line.

Sua habilidade como pasteleiro o destacou, e ele rapidamente ascendeu ao posto de pasteleiro-chefe em navios como o RMS Olympic, irmão do Titanic, antes de ser escalado para a viagem inaugural do maior e mais luxuoso transatlântico da época.

A Bordo do Titanic

Joughin integrou a tripulação do Titanic desde sua construção em Belfast, acompanhando o navio até Southampton, onde a viagem transatlântica rumo a Nova York teve início em 10 de abril de 1912.

Como pasteleiro-chefe, ele comandava uma equipe de 13 subordinados, responsável pela produção de pães, bolos e sobremesas que atendiam tanto os passageiros da primeira classe quanto os da tripulação.

Seu salário mensal de £12 (equivalente a cerca de £880 ou €1.047/R$2.413 em valores ajustados para a inflação atual) refletia a importância de sua posição em um navio que simbolizava o auge da engenharia naval e do luxo.

Na noite de 14 de abril de 1912, às 23h40, o Titanic colidiu com um iceberg no Atlântico Norte, a cerca de 600 km da costa da Terra Nova. Joughin, que estava fora de serviço e dormindo em sua cabine, foi despertado pelo impacto.

Ele relatou ter sentido a vibração do choque e imediatamente se levantou para avaliar a situação. Informações dos conveses superiores indicavam que os oficiais estavam preparando os botes salva-vidas, e Joughin agiu rapidamente, ordenando que seus 13 subordinados levassem provisões alimentares para os botes.

Cada pasteleiro carregou quatro grandes pães, totalizando cerca de 18 kg de suprimentos por pessoa, garantindo que os sobreviventes tivessem alimentos nos botes.

O Papel de Joughin Durante o Naufrágio

Por volta das 00h30, Joughin chegou ao convés superior, onde se juntou ao oficial Henry Wilde próximo ao Bote 10. Ele desempenhou um papel crucial ao ajudar mulheres e crianças a embarcarem nos botes salva-vidas, uma tarefa complicada pelo pânico generalizado.

Algumas mulheres, convencidas de que o Titanic era mais seguro que os botes, resistiam em deixar o navio. Joughin, com determinação, foi até o Convés A e, em um ato de coragem, forçou algumas delas a embarcarem, literalmente carregando-as para os botes.

Embora estivesse designado para tripular o Bote 10, Joughin abriu mão de seu lugar, permitindo que mais mulheres fossem salvas, já que dois marujos e um criado já estavam a bordo.

Ele então retornou à sua cabine no navio, onde, segundo seu depoimento, bebeu meio copo de licor - uma decisão que mais tarde seria especulada como um fator que pode ter ajudado a mantê-lo aquecido nas águas geladas.

Ao voltar aos conveses superiores, encontrou-se com o Dr. William O'Loughlin, médico do navio, em um encontro que seria a última vez que o doutor foi visto com vida.

Com todos os botes já lançados ao mar, Joughin desceu ao Convés B, na promenade coberta, e começou a jogar cerca de 50 espreguiçadeiras ao oceano, na esperança de que servissem como flutuadores para os passageiros que ficassem na água.

À medida que o navio afundava, ele se dirigiu à popa, que se elevava gradualmente fora da água devido à inclinação do casco. Enquanto subia pelo convés inclinado, o navio sofreu uma súbita guinada para bombordo, jogando a maioria das pessoas ao chão.

Joughin, com reflexos rápidos, conseguiu se segurar ao corrimão de estibordo, posicionando-se do lado externo do navio. Quando o Titanic finalmente submergiu, por volta das 2h20 de 15 de abril, Joughin descreveu sua descida à água como se estivesse em um "elevador".

Ele afirmou que sua cabeça mal ficou molhada, um testemunho impressionante que reflete a calma com que enfrentou o momento final do navio. Como último tripulante a deixar o Titanic, Joughin tornou-se uma figura singular na tragédia.

Sobrevivência nas Águas Gélidas

Nas águas geladas do Atlântico Norte, com temperaturas próximas de -2°C, a expectativa de sobrevivência era de poucos minutos. No entanto, Joughin conseguiu boiar por cerca de duas horas, um feito extraordinário que desafia explicações médicas.

Ele atribuiu sua resistência ao licor que havia consumido, que poderia ter ajudado a manter a circulação sanguínea, embora historiadores e cientistas especulem que sua calma e condicionamento físico também foram fatores decisivos.

Com os primeiros raios de sol da manhã, Joughin avistou o Bote Desmontável B, que estava virado de cabeça para baixo devido a um lançamento inadequado.

Comandado pelo segundo-oficial Charles Lightoller e ocupado por cerca de 25 homens, o bote não tinha espaço para mais pessoas. Joughin nadou até ele e foi reconhecido pelo cozinheiro Isaac Maynard, que o segurou pela mão enquanto ele permanecia parcialmente submerso, com pernas e pés na água.

Mais tarde, outro bote salva-vidas apareceu, e Joughin conseguiu nadar até ele, sendo finalmente resgatado e levado a bordo do RMS Carpathia, o navio que socorreu os sobreviventes do Titanic e os transportou até Nova York.

Após o Desastre

De volta à Inglaterra, Joughin foi um dos tripulantes convocados para depor no Inquérito Britânico sobre o naufrágio, presidido por Lord Mersey. Suas descrições detalhadas dos eventos a bordo do Titanic forneceram informações valiosas sobre o caos e a organização durante a evacuação.

Em 1920, ele se mudou permanentemente para os Estados Unidos, estabelecendo-se em Paterson, Nova Jersey. Durante sua vida nos EUA, continuou a trabalhar em navios, incluindo os da American Export Lines e embarcações que transportavam tropas durante a Segunda Guerra Mundial.

Notavelmente, ele sobreviveu a outro naufrágio, o do SS Oregon, que afundou no porto de Boston, reforçando sua reputação como um sobrevivente improvável.

Vida Pessoal e Legado

Joughin casou-se duas vezes. De seu primeiro casamento, teve uma filha, Agnes. Após se mudar para os EUA, casou-se com Annie E. Ripley, com quem criou a enteada, Rose.

A morte de Annie em 1943 foi um golpe devastador, do qual ele nunca se recuperou completamente. Em 1955, Joughin foi entrevistado por Walter Lord para o livro A Tragédia do Titanic (A Night to Remember), que ajudou a imortalizar sua história.

Sua saúde, no entanto, deteriorou-se rapidamente, e ele faleceu em 9 de dezembro de 1956, aos 78 anos, após duas semanas internado com pneumonia em um hospital em Paterson. Foi sepultado ao lado de Annie no Cemitério de Cedar Lawn.

Representações na Cultura Popular

A história de Joughin ganhou destaque em produções sobre o Titanic. Ele foi interpretado por George Rose no filme A Night to Remember (1958), baseado no livro de Walter Lord, e por Liam Tuohy no blockbuster Titanic (1997), de James Cameron.

Embora sua participação nesses filmes seja secundária, sua figura como o pasteleiro que sobreviveu às águas geladas tornou-se um símbolo de resiliência e coragem.

Contexto e Reflexões

A sobrevivência de Joughin é um testemunho não apenas de sua força física, mas também de sua compostura em meio ao caos. O naufrágio do Titanic, que resultou na morte de mais de 1.500 pessoas, expôs falhas na segurança marítima da época, como a insuficiência de botes salva-vidas e a confiança excessiva na invulnerabilidade do navio.

Joughin, com suas ações para garantir suprimentos nos botes e sua decisão de ceder seu lugar, exemplifica o heroísmo anônimo de muitos tripulantes que colocaram a segurança dos passageiros em primeiro lugar.

Sua resistência nas águas geladas permanece um mistério fascinante. A ciência moderna sugere que o consumo moderado de álcool pode ter ajudado a retardar a hipotermia, mas a determinação de Joughin e sua habilidade em manter a calma foram igualmente cruciais.

Sua história, embora menos conhecida que a de figuras como o capitão Edward Smith ou o oficial Lightoller, é um lembrete da força do espírito humano em momentos de crise.

0 Comentários: