A
Inquisição Espanhola é, entre
as demais inquisições, a mais famosa. Davis Landes relata: "A
perseguição levou a uma interminável caça às bruxas, completa com denunciantes
pagos, vizinhos bisbilhoteiros e uma mania racista do sangue ("limpieza de
sangre").
Conversos judaizantes eram apanhados por intrigas e
vestígios reveladores de prática mosaica: recusa de carne de porco, toalhas
lavadas à sexta-feira, uma prece escutada à soslaia, frequência irregular à
igreja, uma palavra mal ponderada.
A higiene em si era uma causa de suspeita e tomar
banho era visto como uma prova de apostasia para marramos e mouriscos. A
frase "o acusado era conhecido por tomar banho" é uma frase comum nos
registros da Inquisição. Sujidade herdada: as pessoas limpas não têm de se
lavar.
Em tudo isto, os espanhóis e portugueses
rebaixaram-se. A intolerância pode prejudicar o perseguidor (ainda) mais do que
a vítima. Deste modo, a Ibéria, e na verdade toda a Europa Mediterrânica,
perderam o comboio da chamada revolução científica".
Rino Cammilleri diz: "As fontes históricas
demonstram muito claramente que a inquisição recorria à tortura muito
raramente. O especialista Bartolomé Benassa, que se ocupou da Inquisição mais
dura, a espanhola, fala de um uso da tortura 'relativamente pouco frequente e
geralmente moderado'".
"O número proporcionalmente pequeno de execuções,
segundo o historiador Henry Kamen, constitui um argumento eficaz contra a lenda
negra de um tribunal sedento de sangue", pois, como ele sustenta,
"as cenas de sadismo que descrevem os escritores que se inspiraram no tema
possuem pouca relação com a realidade".
Esta visão não é partilhada pela maioria dos
historiadores; os próprios milhares de registros da Inquisição, muitos ainda
por estudar, assim como alguns testemunhos pessoais, a contrariam.
O historiador Toby Green aceitando embora ter
existido certa demonização da Inquisição Espanhola, em comparação com outras
perseguições suas contemporâneas, sustenta por exemplo que não se deve negar o
uso habitual de tortura; corrigir a "lenda negra" não deve significar
a substituição por uma "lenda branca".
Segundo Michael Baigent e Richard Leigh, a 1 de
novembro de 1478, uma Bula do papa Sixto IV autorizava a criação de uma
Inquisição Espanhola. Confiou-se então o direito de nomear e demitir aos
monarcas espanhóis.
O primeiro Auto de fé foi realizado a 6 de
fevereiro de 1481, e seis indivíduos foram queimados vivos na fogueira. Em
Servilha, só em novembro, 288 pessoas foram queimadas, enquanto setenta e nove
foram condenadas à prisão perpétua.
Em fevereiro de 1482 o Papa autorizou a nomeação de
mais sete dominicanos como Inquisidores, entre eles, Tomás de Torquemada. Este
viria a passar à história como a face mais aterrorizante da Inquisição.
Em abril de 1482, o próprio Papa emitiu uma bula, na
qual concluía: "A Inquisição há algum tempo é movida não por zelo pela fé
e a salvação das almas, mas pelo desejo de riqueza". Após essa conclusão,
revogaram-se todos os poderes confiados à Inquisição e o Papa exigiu que os
Inquisidores ficassem sob o controle dos bispos locais.
O Rei Fernando ficou indignado e ameaçou o Papa. A 17
de outubro de 1483, uma nova bula estabelecia o Consejo de La Suprema y
General Inquisición para funcionar como a autoridade última da
Inquisição, sendo criado o cargo de Inquisidor Geral.
Seu primeiro ocupante foi Tomás de Torquemada. Até a sua morte em 1498, Torquemada teve poder e influência que rivalizavam com os próprios monarcas Fernando e Isabel. O número de execuções durante o mandato de Torquemada como inquisidor é muito controverso, mas o número mais consensual é normalmente 2000.
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