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terça-feira, julho 22, 2025

O Bebê no Balde - Gueto de Lviv, Ucrânia, 1943


No Gueto de Lviv, estabelecido pelos nazistas em 8 de novembro de 1941 no bairro pobre de Zamarstynów, uma jovem mãe judia enfrentou o desespero de um mundo em colapso.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Lviv, então parte do Governo Geral sob ocupação alemã, viu sua vibrante comunidade judaica - cerca de 99.595 pessoas, ou 32% da população da cidade antes da guerra - ser confinada em um espaço superlotado e degradante.

O gueto, que chegou a abrigar 120.000 judeus, foi palco de fome, doenças e deportações em massa para campos de extermínio como Bełżec e o campo de trabalhos forçados de Janowska. Entre 1941 e 1943, a população judaica foi reduzida a poucas centenas devido a massacres, deportações e condições desumanas.

Em meio a esse cenário de terror, a jovem mãe, cujo nome a história não preservou, tomou uma decisão que desafiava a lógica do desespero: salvar seu filho.

Ela entrou em contato com um grupo de trabalhadores poloneses do esgoto, liderados por figuras como Leopold Socha, um inspetor de esgotos que, junto com colegas como Stefan Wróblewski e Jerzy Kowalów, arriscava a vida para esconder judeus nos túneis fétidos sob a cidade.

Esses trabalhadores, inicialmente motivados por pagamento, desenvolveram laços de compaixão com os judeus que salvaram, enfrentando o risco constante de execução pela Gestapo.

Socha, que mais tarde seria reconhecido como "Justo entre as Nações" pelo Yad Vashem, ajudou a salvar cerca de 20 judeus, incluindo crianças, mantendo-os escondidos nos esgotos por mais de um ano.

Na noite da fuga, sob a ameaça iminente de uma das "ações" nazistas - operações de deportação ou extermínio -, a mãe envolveu seu bebê em um xale desgastado, mas ainda impregnado do calor de seu corpo.

Com o coração partido, ela o colocou em um balde de metal, um objeto frio e improvável que se tornaria o instrumento de sua salvação. Beijando a testa do filho, ela deixou que suas lágrimas caíssem sobre ele, sussurrando:

"Cresça onde eu não posso ir." O balde foi descido por um bueiro até as mãos de um trabalhador do esgoto, que o levou pelos túneis úmidos e escuros, onde o cheiro pútrido e o frio cortante desafiavam a sobrevivência.

A mãe, sabendo que sua própria fuga era improvável, ficou para trás, provavelmente vítima das deportações para Bełżec ou dos fuzilamentos em massa nas ravinas próximas à cidade, como os que ocorreram entre 5 e 7 de janeiro de 1943, quando 15.000 a 20.000 judeus foram executados.

O bebê sobreviveu, criado por uma família adotiva que o protegeu do horror da guerra. Décadas depois, já adulto, ele retornou a Lviv, uma cidade transformada, mas ainda marcada pelas cicatrizes do Holocausto.

Com uma rosa vermelha na mão, ele se aproximou de um bueiro, o mesmo ou um semelhante àquele que serviu como portal para sua sobrevivência. "Foi aqui que minha vida começou", disse ele, em voz baixa, depositando a rosa no chão como um tributo à mãe que sacrificou tudo e aos trabalhadores que arriscaram suas vidas por estranhos.

Contexto Histórico Ampliado

O Gueto de Lviv foi criado como parte da política nazista de segregação e extermínio, sob o comando do Generalgouverneur Hans Frank. Após a invasão alemã de Lviv em 30 de junho de 1941, pogroms organizados pela Milícia Popular Ucraniana, com apoio de nacionalistas ucranianos da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), resultaram na morte de cerca de 6.000 judeus em julho de 1941.

Esses massacres, muitas vezes realizados com crueldade extrema, como espancamentos e humilhações públicas, precederam a formação do gueto.

A vida no gueto era marcada por condições desumanas. Com uma densidade populacional insustentável - cerca de 120.000 pessoas em um espaço projetado para muito menos -, a fome e as doenças, como tifo, eram endêmicos.

Entre 1942 e 1943, deportações sistemáticas para Bełżec e Janowska dizimaram a população. Em janeiro de 1943, o gueto foi transformado em um campo de trabalho (Judenlager Lemberg), com cerca de 12.000 judeus "legais" forçados a trabalhar para a indústria de guerra nazista, enquanto outros, principalmente mulheres, crianças e idosos, viviam escondidos em bunkers ou tentavam escapar pelos esgotos.

A resistência no Gueto de Lviv, embora menos conhecida que a do Gueto de Varsóvia, também existiu. Em junho de 1943, quando os nazistas iniciaram a liquidação final do gueto, encontraram resistência armada esporádica, com judeus usando granadas e coquetéis Molotov.

No entanto, a maioria dos moradores tentou escapar ou se esconder, muitos através do sistema de esgoto, onde enfrentavam condições extremas: escuridão, frio, ratos e a constante ameaça de serem descobertos. Os alemães e seus colaboradores ucranianos perderam 9 homens e tiveram 20 feridos nesses confrontos, mas a resistência foi esmagada, e a maioria dos judeus foi morta ou deportada. Quando o Exército Vermelho libertou Lviv em 26 de julho de 1944, apenas 200 a 900 judeus restavam na cidade.

O Papel dos Trabalhadores do Esgoto

Os trabalhadores do esgoto de Lviv, como Leopold Socha, desempenharam um papel crucial na resistência humanitária. Socha, um ex-presidiário que trabalhava na manutenção dos esgotos, começou ajudando judeus por pagamento, mas com o tempo desenvolveu um compromisso pessoal com sua segurança.

Ele e seus colegas escondiam grupos de judeus em túneis, trazendo-lhes comida, roupas e notícias do mundo exterior, mesmo sob o risco de serem denunciados.

Um dos sobreviventes, Ignacy Chiger, descreveu em memórias como Socha os protegia, guiando-os por túneis alagados e claustrofóbicos. Essas ações não eram apenas atos de coragem, mas também de desafio às políticas nazistas, que puniam severamente qualquer ajuda aos judeus.

A Ucrânia, apesar da colaboração de alguns nacionalistas com os nazistas, também produziu 2.515 "Justos entre as Nações", incluindo Socha, reconhecidos por salvar judeus durante o Holocausto.

Legado

A história do bebê no balde reflete não apenas o sacrifício de uma mãe, mas também a resistência silenciosa de indivíduos comuns que, em meio ao horror, escolheram a humanidade.

A rosa deixada pelo filho junto ao bueiro é um símbolo de memória e gratidão, não apenas à sua mãe, mas a todos que, como Socha e seus companheiros, transformaram os esgotos de Lviv em um improvável refúgio de esperança.

O Gueto de Lviv, como outros guetos, foi um palco de tragédia, mas também de coragem, onde atos de resistência, armados ou humanitários, desafiaram a máquina de extermínio nazista.

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