Dalai Lama - O Chamado do Agora
Reflexões
do Dalai Lama sobre a Vida e a Impermanência"
Perguntaram
ao Dalai Lama: - O que mais o surpreende na humanidade?
Com a
serenidade de quem observa a vida de uma perspectiva elevada, ele respondeu: -
Os homens.
Porque
sacrificam a saúde para acumular riqueza, e depois gastam a riqueza tentando
recuperar a saúde perdida.
Vivem
tão obcecados pelo futuro que negligenciam o presente, e assim, não vivem nem o
agora, nem o que está por vir.
Passam
pela vida como se fossem imortais, e partem como se jamais tivessem vivido de
verdade.
Essa
reflexão, atribuída ao Dalai Lama, expõe com clareza e profundidade uma das
maiores contradições da existência humana: a incapacidade de priorizar o que
realmente importa.
Em
busca de segurança, sucesso ou validação externa, as pessoas frequentemente
sacrificam o que há de mais precioso: o tempo, a saúde e os relacionamentos.
Essa
sabedoria, embora simples, ressoa como um convite urgente à introspecção em um
mundo cada vez mais acelerado e desconectado. A sociedade contemporânea, movida
por uma cultura de produtividade desenfreada, intensifica esse ciclo vicioso.
A
pressão para alcançar metas, conquistar status ou acumular bens materiais leva
muitos a trabalhar exaustivamente, ignorando sinais do corpo e da mente.
Estudos
recentes apontam que o estresse crônico, alimentado por essa busca incessante,
está diretamente ligado ao aumento de doenças como ansiedade, depressão e
problemas cardiovasculares.
Por
exemplo, segundo a Organização Mundial da Saúde, transtornos mentais afetam
mais de 700 milhões de pessoas globalmente, muitos deles desencadeados por
estilos de vida que priorizam o acúmulo em detrimento do bem-estar.
Além
disso, a ilusão de controle é outro pilar dessa contradição. Ao tentar dominar
o futuro por meio de planejamento obsessivo ou acumulação de recursos, o ser
humano esquece a impermanência - a única certeza da vida.
Essa
mentalidade é agravada por um mundo hiper conectado, onde redes sociais e a
cultura do "sempre mais" criam a falsa ideia de que a felicidade está
em conquistas externas.
Um
exemplo marcante é a ascensão do movimento de "desistência
silenciosa" (quiet quitting), que ganhou força em 2022 e continua
relevante em 2025.
Muitos
trabalhadores, exaustos pela pressão de carreiras insustentáveis, começaram a
estabelecer limites, priorizando a saúde mental e o tempo pessoal em vez de
ambições corporativas.
Essa
reflexão do Dalai Lama encontra eco em diversas tradições filosóficas e
espirituais. No budismo, a prática da atenção plena (mindfulness) enfatiza a
importância de viver o momento presente, reconhecendo que o passado é apenas
memória e o futuro, uma projeção incerta.
O
estoicismo, por sua vez, nos ensina a focar no que está sob nosso controle -
nossas ações e atitudes no agora - e aceitar a transitoriedade da vida. Até
mesmo o existencialismo, com sua ênfase na criação de sentido em um mundo sem
garantias, nos convida a abraçar o presente como o único espaço onde a
existência ganha forma.
Um
exemplo recente que ilustra essa sabedoria é a história de movimentos como o
"slow living", que ganhou adeptos em todo o mundo, especialmente após
a pandemia de 2020. Pessoas de diferentes culturas começaram a reavaliar suas
prioridades, buscando uma vida mais simples e significativa.
No
Japão, por exemplo, o conceito de ikigai - encontrar propósito na interseção
entre paixão, habilidade e contribuição ao mundo - tem inspirado muitos a
redescobrir a alegria nas pequenas coisas do cotidiano, em vez de perseguir
objetivos grandiosos e distantes.
Contudo,
viver no presente não significa abandonar sonhos ou responsabilidades. É,
antes, um convite a equilibrar ambição com gratidão, ação com pausa,
planejamento com aceitação.
Como o
Dalai Lama sugere, a verdadeira vida acontece no agora - no abraço de um ente
querido, na contemplação de uma paisagem, no silêncio que nos reconecta com nós
mesmos.
Quando
ignoramos isso, corremos o risco de chegar ao fim da jornada com
arrependimentos, percebendo, tarde demais, que o que buscávamos sempre esteve ao
nosso alcance.
Portanto, a mensagem do Dalai Lama é um chamado à presença. Em um mundo que nos puxa constantemente para o próximo objetivo, a próxima conquista, talvez a maior rebeldia seja parar, respirar e viver - de verdade - o momento que temos agora.
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