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sexta-feira, julho 25, 2025

A Morte do Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos Queimado Vivo


Uma violência brutal em 20 de abril de 1997

Em 22 de abril de 1500, quando as caravelas de Pedro Álvares Cabral aportaram no que hoje chamamos de Brasil, foram os indígenas Pataxó, entre outros povos, que receberam os portugueses com curiosidade e hospitalidade.

Eles não apenas acolheram os recém-chegados, mas, de certa forma, entregaram-lhes as terras que, séculos depois, seriam conhecidas como Brasil.

No entanto, 497 anos após esse encontro inaugural, a história de convivência entre indígenas e não indígenas foi marcada por um ato de violência brutal: na madrugada de 20 de abril de 1997, Galdino Jesus dos Santos, um líder do povo Pataxó-Hã-Hã-Hãe, foi assassinado em Brasília, queimado vivo por cinco jovens em uma parada de ônibus.

O crime chocou o país e expôs a persistente invisibilidade e violência contra os povos indígenas no Brasil. Galdino, de 44 anos, estava na capital federal para participar de manifestações em defesa dos direitos indígenas, durante as comemorações do Dia do Índio.

Ele dormia em um ponto de ônibus, próximo à Praça do Índio, quando foi abordado por cinco jovens, incluindo menores de idade, que, em um ato de crueldade, jogaram combustível sobre seu corpo e atearam fogo, alegando tratar-se de uma “brincadeira”.

Galdino não resistiu aos ferimentos e faleceu horas depois, vítima de queimaduras em 95% do corpo. O caso tornou-se um símbolo da violência e do preconceito enfrentados pelos povos indígenas, que, apesar de serem os primeiros habitantes do território brasileiro, continuam marginalizados e desrespeitados.

O indigenista Orlando Villas-Bôas, ao comentar o assassinato, expressou sua indignação com as palavras: “Talvez agora o presidente Fernando Henrique Cardoso saiba que existem índios no Brasil.”

Essa frase reflete a frustração de décadas de luta pela visibilidade e pelos direitos indígenas, que, mesmo no final do século XX, permaneciam ignorados por grande parte da sociedade e do poder público.

A morte de Galdino não foi um evento isolado, mas parte de um contexto histórico de genocídio, expropriação territorial e discriminação sistemática contra os povos originários.

O assassinato de Galdino Jesus dos Santos gerou comoção nacional e internacional, reacendendo o debate sobre a situação dos indígenas no Brasil. Protestos e atos públicos foram organizados, exigindo justiça e políticas públicas efetivas para proteger os povos originários.

Os responsáveis pelo crime foram julgados e condenados, mas as penas, consideradas leves por muitos, não aplacaram o sentimento de impunidade.

O caso também revelou a fragilidade das políticas indigenistas no Brasil, que, apesar de avanços como a Constituição de 1988, que reconhece os direitos indígenas à terra e à cultura, ainda enfrentam resistência na implementação.

A tragédia de Galdino é um lembrete doloroso de que a hospitalidade dos Pataxó e de outros povos indígenas em 1500 não encontrou reciprocidade ao longo dos séculos.

Em vez disso, a história brasileira foi marcada por violência, desapropriação e tentativa de apagamento cultural. A morte de Galdino, no entanto, também inspirou resistência: os Pataxó-Hã-Hã-Hãe e outros povos indígenas continuam lutando pela demarcação de suas terras, pelo respeito à sua cultura e pelo direito de existirem em um país que, em sua essência, nasceu deles.

Hoje, o legado de Galdino Jesus dos Santos vive nas mobilizações indígenas que buscam justiça e na memória coletiva de um Brasil que precisa reconhecer e reparar as dívidas históricas com seus povos originários.

Sua morte não foi apenas um crime hediondo, mas um grito de alerta para que a sociedade brasileira enfrente seu passado colonial e construa um futuro onde os indígenas sejam vistos, respeitados e valorizados como protagonistas de sua própria história.


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