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segunda-feira, agosto 19, 2024

A Ressureição


 

A escultura monumental e impactante conhecida como A Ressurreição (em italiano, La Resurrezione) é uma das obras mais emblemáticas do Vaticano e pode ser encontrada na Sala Paulo VI, também chamada de Sala delle Udienze Pontificie.

Criada pelo renomado artista italiano Pericle Fazzini, esta peça é considerada o ápice de sua carreira, combinando expressividade artística, simbolismo religioso e uma mensagem poderosa sobre a humanidade.

Contexto e Criação

Inaugurada em 28 de setembro de 1977, a escultura de bronze vermelho foi encomendada para marcar a conclusão da Sala Paulo VI, projetada pelo arquiteto italiano Pier Luigi Nervi.

A sala, destinada a receber as audiências públicas do Papa, foi planejada para ser um espaço moderno e funcional, e a inclusão da obra de Fazzini trouxe um elemento de profundidade espiritual ao ambiente.

A escolha de Fazzini para executar a obra não foi por acaso: suas habilidades como escultor, conhecidas por sua expressividade e dinamismo, já haviam chamado a atenção do Vaticano desde os anos 1960.

Os primeiros contatos entre Fazzini e o Vaticano ocorreram em 1966, mas foi apenas em 1970 que o Papa Paulo VI, impressionado pela visão artística do escultor, tomou a decisão definitiva de contratá-lo.

O processo criativo foi longo e árduo. Fazzini começou a trabalhar no esboço da obra em 1970, utilizando poliestireno para modelar a peça inicial. Esse esboço, finalizado no verão de 1975, foi seccionado e enviado para a fundição, onde cerca de oito toneladas de uma liga de bronze e latão foram usadas para dar forma à escultura.

Durante esse período, Fazzini enfrentou sérios problemas de saúde devido à exposição prolongada a gases tóxicos liberados durante o processo de fundição, o que demonstra o sacrifício pessoal do artista para completar sua visão.

Simbolismo e Interpretação

A escultura, com suas formas dinâmicas e quase caóticas, retrata Cristo emergindo de uma cratera no Jardim de Getsêmani, simbolizando a ressurreição em um contexto apocalíptico.

Para Fazzini, a obra não apenas celebra a vitória de Cristo sobre a morte, mas também reflete os horrores do século XX, como as guerras mundiais e a ameaça de uma catástrofe nuclear.

A cratera, que parece ter sido formada por uma explosão nuclear, é uma metáfora poderosa para os desafios enfrentados pela humanidade, enquanto a figura de Cristo, com sua energia ascendente, representa esperança, renovação e redenção.

Com dimensões impressionantes - cerca de 20 metros de largura por 7 metros de altura -, a escultura domina o espaço da Sala Paulo VI, criando um impacto visual que combina reverência espiritual com uma estética moderna.

Suas formas fluidas e orgânicas, características do estilo de Fazzini, contrastam com a arquitetura geométrica da sala, projetada por Nervi, resultando em uma harmonia entre arte e arquitetura.

Restauração e Reconhecimento

Em 2011, A Ressurreição passou por um minucioso processo de restauração para preservar sua integridade. O trabalho envolveu a remoção de poeira, graxa e outras partículas acumuladas ao longo de décadas, além da correção de oxidação, um problema comum em esculturas de bronze devido à presença de cobre.

A restauração devolveu à obra seu brilho original, destacando os tons avermelhados do bronze e a textura vibrante que Fazzini cuidadosamente planejou.

A importância cultural e religiosa da escultura foi celebrada em 2013, quando o Correio Vaticano emitiu um selo postal em homenagem à A Ressurreição durante as comemorações da Páscoa.

Esse reconhecimento reforçou o impacto da obra não apenas como um marco artístico, mas também como um símbolo de fé e renovação para a Igreja Católica.

Curiosidades e Impacto Cultural

A escultura também desperta curiosidade e, por vezes, controvérsia devido à sua aparência dramática e quase assustadora. Alguns visitantes, ao observarem a figura de Cristo emergindo de uma paisagem caótica, interpretam a obra como uma representação do apocalipse ou de um futuro distópico, o que reflete a intenção de Fazzini de conectar a ressurreição de Cristo aos desafios contemporâneos.

Apesar disso, a mensagem central da obra permanece profundamente cristã, enfatizando a vitória da vida sobre a morte e da esperança sobre o desespero.

Além disso, a Sala Paulo VI, onde a escultura está instalada, é um local de grande relevância para o Vaticano, sendo usada para eventos importantes, como audiências papais e encontros com líderes mundiais.

A presença da A Ressurreição nesse espaço reforça sua importância como um ponto de reflexão espiritual para os fiéis e visitantes que passam pelo local.

Legado de Pericle Fazzini

Pericle Fazzini, falecido em 1987, deixou um legado duradouro com A Ressurreição. A obra não apenas consolidou sua reputação como um dos grandes escultores do século XX, mas também demonstrou como a arte pode dialogar com questões espirituais e históricas de maneira profunda e inovadora.

Sua habilidade em combinar técnica, emoção e simbolismo faz da escultura uma peça única no acervo artístico do Vaticano, continuando a inspirar e provocar reflexões em todos que a contemplam.

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