A
escultura monumental e impactante conhecida como A Ressurreição (em italiano,
La Resurrezione) é uma das obras mais emblemáticas do Vaticano e pode ser
encontrada na Sala Paulo VI, também chamada de Sala delle Udienze Pontificie.
Criada
pelo renomado artista italiano Pericle Fazzini, esta peça é considerada o ápice
de sua carreira, combinando expressividade artística, simbolismo religioso e
uma mensagem poderosa sobre a humanidade.
Contexto e Criação
Inaugurada
em 28 de setembro de 1977, a escultura de bronze vermelho foi encomendada para
marcar a conclusão da Sala Paulo VI, projetada pelo arquiteto italiano Pier
Luigi Nervi.
A sala,
destinada a receber as audiências públicas do Papa, foi planejada para ser um
espaço moderno e funcional, e a inclusão da obra de Fazzini trouxe um elemento
de profundidade espiritual ao ambiente.
A
escolha de Fazzini para executar a obra não foi por acaso: suas habilidades
como escultor, conhecidas por sua expressividade e dinamismo, já haviam chamado
a atenção do Vaticano desde os anos 1960.
Os
primeiros contatos entre Fazzini e o Vaticano ocorreram em 1966, mas foi apenas
em 1970 que o Papa Paulo VI, impressionado pela visão artística do escultor,
tomou a decisão definitiva de contratá-lo.
O
processo criativo foi longo e árduo. Fazzini começou a trabalhar no esboço da
obra em 1970, utilizando poliestireno para modelar a peça inicial. Esse esboço,
finalizado no verão de 1975, foi seccionado e enviado para a fundição, onde
cerca de oito toneladas de uma liga de bronze e latão foram usadas para dar
forma à escultura.
Durante
esse período, Fazzini enfrentou sérios problemas de saúde devido à exposição
prolongada a gases tóxicos liberados durante o processo de fundição, o que
demonstra o sacrifício pessoal do artista para completar sua visão.
Simbolismo e Interpretação
A
escultura, com suas formas dinâmicas e quase caóticas, retrata Cristo emergindo
de uma cratera no Jardim de Getsêmani, simbolizando a ressurreição em um
contexto apocalíptico.
Para
Fazzini, a obra não apenas celebra a vitória de Cristo sobre a morte, mas
também reflete os horrores do século XX, como as guerras mundiais e a ameaça de
uma catástrofe nuclear.
A
cratera, que parece ter sido formada por uma explosão nuclear, é uma metáfora
poderosa para os desafios enfrentados pela humanidade, enquanto a figura de
Cristo, com sua energia ascendente, representa esperança, renovação e redenção.
Com
dimensões impressionantes - cerca de 20 metros de largura por 7 metros de altura
-, a escultura domina o espaço da Sala Paulo VI, criando um impacto visual que
combina reverência espiritual com uma estética moderna.
Suas
formas fluidas e orgânicas, características do estilo de Fazzini, contrastam
com a arquitetura geométrica da sala, projetada por Nervi, resultando em uma
harmonia entre arte e arquitetura.
Restauração e Reconhecimento
Em
2011, A Ressurreição passou por um minucioso processo de restauração para
preservar sua integridade. O trabalho envolveu a remoção de poeira, graxa e
outras partículas acumuladas ao longo de décadas, além da correção de oxidação,
um problema comum em esculturas de bronze devido à presença de cobre.
A
restauração devolveu à obra seu brilho original, destacando os tons
avermelhados do bronze e a textura vibrante que Fazzini cuidadosamente
planejou.
A
importância cultural e religiosa da escultura foi celebrada em 2013, quando o
Correio Vaticano emitiu um selo postal em homenagem à A Ressurreição durante as
comemorações da Páscoa.
Esse
reconhecimento reforçou o impacto da obra não apenas como um marco artístico,
mas também como um símbolo de fé e renovação para a Igreja Católica.
Curiosidades e Impacto Cultural
A
escultura também desperta curiosidade e, por vezes, controvérsia devido à sua
aparência dramática e quase assustadora. Alguns visitantes, ao observarem a
figura de Cristo emergindo de uma paisagem caótica, interpretam a obra como uma
representação do apocalipse ou de um futuro distópico, o que reflete a intenção
de Fazzini de conectar a ressurreição de Cristo aos desafios contemporâneos.
Apesar
disso, a mensagem central da obra permanece profundamente cristã, enfatizando a
vitória da vida sobre a morte e da esperança sobre o desespero.
Além
disso, a Sala Paulo VI, onde a escultura está instalada, é um local de grande
relevância para o Vaticano, sendo usada para eventos importantes, como
audiências papais e encontros com líderes mundiais.
A
presença da A Ressurreição nesse espaço reforça sua importância como um ponto
de reflexão espiritual para os fiéis e visitantes que passam pelo local.
Legado de Pericle Fazzini
Pericle
Fazzini, falecido em 1987, deixou um legado duradouro com A Ressurreição. A
obra não apenas consolidou sua reputação como um dos grandes escultores do
século XX, mas também demonstrou como a arte pode dialogar com questões
espirituais e históricas de maneira profunda e inovadora.
Sua
habilidade em combinar técnica, emoção e simbolismo faz da escultura uma peça
única no acervo artístico do Vaticano, continuando a inspirar e provocar
reflexões em todos que a contemplam.
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