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quarta-feira, julho 24, 2024

Projeto MK Ultra


 

Projeto MKULTRA: Experimentos Ilegais da CIA em Controle Mental.

O Projeto MKULTRA, frequentemente estilizado como MK-ULTRA, foi um programa secreto e ilegal da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) voltado para experimentos em humanos, com foco no desenvolvimento de técnicas de controle mental e lavagem cerebral.

Idealizado durante o auge da Guerra Fria, sob a liderança do agente químico Sidney Gottlieb, o programa buscava criar métodos para manipular a mente humana, debilitar indivíduos e extrair confissões em interrogatórios e situações de tortura.

Essas técnicas incluíam o uso de drogas psicoativas, como LSD, mescalina e barbitúricos, além de privação sensorial, eletrochoques e outras formas de manipulação psicológica.

Origens e Objetivos

Iniciado no início dos anos 1950, o MKULTRA foi autorizado pelo então diretor da CIA, Allen Dulles, em abril de 1953, e conduzido pela Diretoria de Ciência e Tecnologia da CIA, especificamente pelo Escritório de Inteligência Científica.

O programa foi motivado pelo clima de paranoia da Guerra Fria, com os Estados Unidos temendo que nações adversárias, como a União Soviética e a China, estivessem desenvolvendo técnicas avançadas de controle mental.

A CIA buscava métodos para "quebrar" a psique humana, forçando indivíduos a confessar segredos ou realizar ações contra sua vontade. Sidney Gottlieb, conhecido como o "químico da CIA", foi o principal arquiteto do projeto, desenvolvendo experimentos que incluíam a administração de drogas sem o conhecimento ou consentimento das vítimas.

O MKULTRA não se limitava a laboratórios controlados. Experimentos foram realizados em universidades, hospitais, prisões e até em ambientes sociais, muitas vezes sem que os participantes soubessem que estavam sendo usados como cobaias.

Estrangeiros, cidadãos americanos e até pessoas em situações vulneráveis, como pacientes psiquiátricos, foram alvos. Estima-se que o programa tenha continuado oficialmente até o final dos anos 1960, embora alguns pesquisadores e ex-agentes da CIA, como Victor Marchetti, afirmem que as pesquisas podem ter prosseguido clandestinamente, sob outros nomes ou formatos.

Experimentos e Técnicas

As experiências do MKULTRA envolveram uma ampla gama de métodos invasivos e antiéticos. Entre as técnicas utilizadas estavam:

Administração de drogas psicoativas: LSD foi amplamente usado, muitas vezes em doses elevadas, para induzir estados alterados de consciência. Outras substâncias, como mescalina, psilocibina e barbitúricos, também foram testadas.

Privação sensorial e de sono: Indivíduos eram submetidos a longos períodos sem estímulos sensoriais ou privados de sono para quebrar sua resistência psicológica.

Eletrochoques e terapias invasivas: Técnicas como a "terapia de eletrochoque regressivo" foram aplicadas, especialmente pelo psiquiatra Ewen Cameron, que acreditava ser possível "reprogramar" a mente humana.

Manipulação psicológica: Experimentos incluíam a exposição a mensagens subliminares, fitas de áudio repetitivas e ataques verbais destinados a causar estresse extremo.

Muitas dessas técnicas foram documentadas nos Manuais KUBARK, um conjunto de diretrizes da CIA para interrogatórios, que mais tarde influenciariam métodos de tortura usados em locais como Abu Ghraib e Guantánamo. Esses manuais, parcialmente desclassificados, detalhavam como combinar privação sensorial, drogas e pressão psicológica para extrair informações.

Envolvimento Internacional

Embora o MKULTRA fosse um programa americano, ele teve alcance internacional. No Canadá, o psiquiatra Ewen Cameron, do Allan Memorial Institute, afiliado à Universidade McGill, conduziu experimentos financiados pela CIA.

Cameron utilizava técnicas extremas, como doses massivas de LSD, privação de sono e "reprogramação" mental através de mensagens repetitivas.

Seus métodos, realizados sem o consentimento dos pacientes, muitas vezes resultaram em danos psicológicos permanentes, incluindo perda de memória e traumas graves.

Na Inglaterra, o psiquiatra William Sargant colaborou com a CIA, realizando experimentos semelhantes. Sargant, que também trabalhava com privação de sono e drogas alucinógenas, compartilhava informações com Cameron, criando uma rede transnacional de pesquisas antiéticas.

Essas colaborações reforçam a natureza global do MKULTRA, que envolveu instituições acadêmicas e médicas de prestígio, muitas vezes camufladas por fundações aparentemente legítimas, como a Fundação Rockefeller, usada para canalizar recursos sem levantar suspeitas.

Vítimas e Impactos

As vítimas do MKULTRA incluíam uma ampla gama de indivíduos, desde prisioneiros e pacientes psiquiátricos até estudantes universitários e civis desavisados.

Um caso notável ocorreu na Universidade de Harvard, onde o psicólogo Henry Murray conduziu experimentos entre 1959 e 1962, submetendo estudantes a situações de estresse extremo, incluindo ataques verbais e psicológicos.

Entre os participantes estava Theodore "Ted" Kaczynski, que mais tarde se tornaria conhecido como o Unabomber. Alguns pesquisadores sugerem que os experimentos de Murray podem ter contribuído para o desequilíbrio psicológico de Kaczynski, embora essa conexão permaneça especulativa.

Um dos casos mais trágicos foi o do Dr. Frank Olson, um cientista da CIA que, sem seu conhecimento, foi drogado com LSD em 1953. Dias depois, Olson caiu (ou foi jogado) de uma janela de hotel em Nova York, em circunstâncias que permanecem controversas.

Sua morte é frequentemente citada como uma das poucas fatalidades diretamente ligadas ao MKULTRA, embora o número real de vítimas seja desconhecido devido à destruição de registros.

Revelações e Investigações

O MKULTRA permaneceu secreto até 1975, quando investigações do Congresso dos Estados Unidos, conduzidas pelo Comitê Church e pela Comissão Rockefeller, expuseram as atividades ilegais da CIA.

As investigações foram desencadeadas por reportagens jornalísticas e pela pressão pública, mas enfrentaram obstáculos significativos. Em 1973, o então diretor da CIA, Richard Helms, ordenou a destruição de quase todos os arquivos do MKULTRA, dificultando a reconstrução completa do programa.

Mesmo assim, testemunhos de ex-agentes e documentos sobreviventes revelaram a extensão das violações éticas. Em 1977, o senador Ted Kennedy abordou o caso no Senado, denunciando que mais de 30 universidades e instituições participaram dos experimentos, muitos envolvendo a administração de LSD a indivíduos sem seu consentimento.

Kennedy destacou a morte de Frank Olson e criticou a falta de rigor científico nos experimentos, conduzidos por agentes sem qualificação adequada. Victor Marchetti, ex-agente da CIA, afirmou em entrevistas que o programa nunca foi completamente encerrado.

Segundo ele, a agência continuou pesquisas de controle mental sob outros codinomes, usando campanhas de desinformação para desviar a atenção pública. Marchetti sugeriu que as próprias revelações do MKULTRA poderiam ser parte de uma estratégia para encobrir operações ainda mais secretas.

Ação Judicial e Consequências

Um dos casos judiciais mais significativos relacionados ao MKULTRA foi movido por Velma Orlikow, paciente do Allan Memorial Institute, e outros oito ex-pacientes de Ewen Cameron.

Velma, esposa do parlamentar canadense David Orlikow, foi submetida a doses massivas de LSD e sessões de "lavagem cerebral" sem seu consentimento. Em 1979, após ler um artigo do New York Times sobre os experimentos, ela e outras vítimas entraram com uma ação contra a CIA.

O caso, conhecido como Orlikow et al. v. United States, resultou em um acordo em 1988, com a CIA pagando indenizações às vítimas. Apesar disso, a maioria das informações sobre o programa permanece classificada, e poucas vítimas receberam compensação adequada.

Legado e Controvérsias

O Projeto MKULTRA deixou um legado sombrio, expondo a disposição de agências governamentais de violar direitos humanos em nome da segurança nacional.

Suas técnicas influenciaram métodos de interrogatório modernos, como os usados em Guantánamo e Abu Ghraib, conforme documentado por historiadores como Alfred W. McCoy em Uma Questão de Tortura e Darius Rejali em Tortura e Democracia.

Esses autores traçam a evolução das práticas de tortura desde a Guerra Fria até a Guerra ao Terror, destacando a continuidade das abordagens desenvolvidas no MKULTRA.

Além disso, o programa alimentou teorias da conspiração, muitas vezes usadas pela CIA, segundo Marchetti, para desacreditar denúncias legítimas. A falta de transparência e a destruição de documentos dificultam a compreensão total do alcance do MKULTRA, mas seu impacto nas vítimas e na ética da pesquisa científica permanece inegável.

Conclusão

O Projeto MKULTRA representa um dos capítulos mais obscuros da história da CIA, revelando até onde uma agência pode ir na busca por poder e controle.

Suas práticas antiéticas, conduzidas sem consentimento e com consequências devastadoras, continuam a levantar questões sobre a responsabilidade governamental e a proteção dos direitos humanos.

Embora as investigações dos anos 1970 tenham trazido alguma luz ao programa, a verdade completa permanece obscurecida, e as cicatrizes deixadas nas vítimas e em suas famílias persistem como um lembrete dos perigos do abuso de poder.

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