Na
noite mais fria de 1963, em 11 de fevereiro, a poetisa Sylvia Plath tirou a
própria vida. Com apenas 30 anos, ela se tornaria, a partir daquele momento, um
dos maiores mitos da literatura mundial, uma figura cuja obra e tragédia pessoal
continuam a ecoar décadas depois.
Sylvia
Plath vivia em Londres, na casa que outrora pertencera ao poeta W. B. Yeats, em
Primrose Hill. Naquela noite gélida, a poetisa norte-americana tomou medidas
meticulosas para proteger seus filhos, Frieda e Nicholas, de apenas dois e um
ano de idade, respectivamente.
Ela os
deitou no quarto do primeiro andar, esperou que adormecessem, abriu a janela
para garantir ventilação, selou as frestas da porta com toalhas e fita adesiva
e deixou pão com manteiga e copos de leite na mesa de cabeceira.
Depois, desceu até a cozinha, enfiou a cabeça
no forno a gás e abriu a válvula. O gesto, planejado com precisão, marcou o fim
de uma vida breve, mas intensamente criativa, e o início de sua transformação
em ícone literário.
O suicídio,
embora trágico, não define Sylvia Plath por completo. Ela era muito mais que a
melancolia que a acompanhava ou a imagem de uma jovem em busca de um
"Eu" idealizado, onde todas as possibilidades de vida permanecessem
intactas.
Plath
era uma poetisa de talento excepcional, cuja obra transcendeu sua própria
existência, conquistando leitores e críticos com sua intensidade emocional e
precisão técnica.
Seus
poemas, como os reunidos em Ariel (publicado postumamente em 1965), e seu
romance semiautobiográfico A Redoma de Vidro (1963), revelam uma voz única,
capaz de transformar dores pessoais em experiências universais.
Desde a
adolescência, Sylvia enfrentava episódios depressivos, agravados pela morte
precoce de seu pai, Otto Plath, um entomologista de origem alemã, que faleceu
de complicações de diabetes quando ela tinha apenas nove anos.
Esse
luto moldou sua poesia, que se tornou um ato de resistência contra a ausência e
a dor. A escrita, para Plath, era uma forma de confrontar o vazio, de dar forma
ao caos interior.
Como
afirmou o escritor português Helder Macedo, “como todos os bons poetas, Sylvia
conseguia dar expressão às percepções que mais doem, conferindo uma voz pessoal
e única ao que é potencialmente universal, transformando o específico em algo partilhável”.
Além de
sua luta pessoal, Sylvia Plath viveu em um contexto de tensões sociais e
pessoais. Casada com o poeta britânico Ted Hughes, com quem teve dois filhos,
ela enfrentou um casamento marcado por amor intenso, mas também por traições e
dificuldades emocionais.
Em
1962, após a separação de Hughes, Plath mergulhou em um período de
produtividade febril, escrevendo alguns de seus poemas mais célebres, como
“Lady Lazarus” e “Daddy”, nos quais explora temas de morte, renascimento e
conflito com figuras paternas.
Esses
poemas, escritos em um ritmo quase diário, são hoje considerados marcos da
poesia confessional, um gênero que Plath ajudou a definir ao lado de poetas
como Robert Lowell e Anne Sexton.
A morte
de Sylvia Plath, embora trágica, não eclipsou sua genialidade. Sua obra
continua a ser estudada e admirada, não apenas pela profundidade emocional, mas
também pela habilidade técnica e pela coragem de expor as complexidades da
psique humana.
Seu
legado vai além do mito: é a prova de que a arte pode transformar a dor em algo
eterno, capaz de tocar gerações. Como ela mesma escreveu em “Lady Lazarus”:
“Das cinzas eu me levanto com meu cabelo vermelho / E devoro homens como se
fossem ar”.
Sylvia Plath, em sua vida e em sua poesia, foi e continua sendo uma força indomável.
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