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sexta-feira, julho 26, 2024

Sylvia Plath



 

Na noite mais fria de 1963, em 11 de fevereiro, a poetisa Sylvia Plath tirou a própria vida. Com apenas 30 anos, ela se tornaria, a partir daquele momento, um dos maiores mitos da literatura mundial, uma figura cuja obra e tragédia pessoal continuam a ecoar décadas depois.

Sylvia Plath vivia em Londres, na casa que outrora pertencera ao poeta W. B. Yeats, em Primrose Hill. Naquela noite gélida, a poetisa norte-americana tomou medidas meticulosas para proteger seus filhos, Frieda e Nicholas, de apenas dois e um ano de idade, respectivamente.

Ela os deitou no quarto do primeiro andar, esperou que adormecessem, abriu a janela para garantir ventilação, selou as frestas da porta com toalhas e fita adesiva e deixou pão com manteiga e copos de leite na mesa de cabeceira.

 Depois, desceu até a cozinha, enfiou a cabeça no forno a gás e abriu a válvula. O gesto, planejado com precisão, marcou o fim de uma vida breve, mas intensamente criativa, e o início de sua transformação em ícone literário.

O suicídio, embora trágico, não define Sylvia Plath por completo. Ela era muito mais que a melancolia que a acompanhava ou a imagem de uma jovem em busca de um "Eu" idealizado, onde todas as possibilidades de vida permanecessem intactas.

Plath era uma poetisa de talento excepcional, cuja obra transcendeu sua própria existência, conquistando leitores e críticos com sua intensidade emocional e precisão técnica.

Seus poemas, como os reunidos em Ariel (publicado postumamente em 1965), e seu romance semiautobiográfico A Redoma de Vidro (1963), revelam uma voz única, capaz de transformar dores pessoais em experiências universais.

Desde a adolescência, Sylvia enfrentava episódios depressivos, agravados pela morte precoce de seu pai, Otto Plath, um entomologista de origem alemã, que faleceu de complicações de diabetes quando ela tinha apenas nove anos.

Esse luto moldou sua poesia, que se tornou um ato de resistência contra a ausência e a dor. A escrita, para Plath, era uma forma de confrontar o vazio, de dar forma ao caos interior.

Como afirmou o escritor português Helder Macedo, “como todos os bons poetas, Sylvia conseguia dar expressão às percepções que mais doem, conferindo uma voz pessoal e única ao que é potencialmente universal, transformando o específico em algo partilhável”.

Além de sua luta pessoal, Sylvia Plath viveu em um contexto de tensões sociais e pessoais. Casada com o poeta britânico Ted Hughes, com quem teve dois filhos, ela enfrentou um casamento marcado por amor intenso, mas também por traições e dificuldades emocionais.

Em 1962, após a separação de Hughes, Plath mergulhou em um período de produtividade febril, escrevendo alguns de seus poemas mais célebres, como “Lady Lazarus” e “Daddy”, nos quais explora temas de morte, renascimento e conflito com figuras paternas.

Esses poemas, escritos em um ritmo quase diário, são hoje considerados marcos da poesia confessional, um gênero que Plath ajudou a definir ao lado de poetas como Robert Lowell e Anne Sexton.

A morte de Sylvia Plath, embora trágica, não eclipsou sua genialidade. Sua obra continua a ser estudada e admirada, não apenas pela profundidade emocional, mas também pela habilidade técnica e pela coragem de expor as complexidades da psique humana.

Seu legado vai além do mito: é a prova de que a arte pode transformar a dor em algo eterno, capaz de tocar gerações. Como ela mesma escreveu em “Lady Lazarus”: “Das cinzas eu me levanto com meu cabelo vermelho / E devoro homens como se fossem ar”.

Sylvia Plath, em sua vida e em sua poesia, foi e continua sendo uma força indomável.

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