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terça-feira, julho 23, 2024

Cazumbis


Sorrisos de plástico, estampados em rostos que esqueceram como sentir. Hierarquias de fast-food, onde o tempo é rei e as pessoas, apenas engrenagens.

Nos bolsos, uma inteligência artificial que sussurra promessas de futuro, mas nos prende a telas que refletem um presente oco. Digo "te amo" como quem aperta um botão, sem deixar o coração sangrar.

Murmuro "sinto muito" enquanto a alma boceja, indiferente. Desejo "seja feliz" como quem joga moedas ao vento, e lanço um "bom dia" sem saber se a manhã é feita de luz ou sombras.

Vivemos em filas intermináveis, correndo para lugar nenhum. Compramos sonhos embalados em propagandas, trocamos afetos por curtidas, medimos o valor de uma vida por números que piscam em aplicativos.

Não raciocinamos - engolimos. Não questionamos - obedecemos. Seguimos scripts escritos por mãos invisíveis, enquanto o mundo, lá fora, range sob o peso da ganância, da pressa, do descaso. As florestas caem, os rios secam, e nós? Trocamos filtros de selfie por aplausos virtuais.

Serão essas pessoas, hipnotizadas por luzes artificiais, que vão consertar o mundo? Serão elas, com seus corações adormecidos e suas vozes automáticas, que vão tecer um planeta mais vivo, mais inteiro? Duvido.

São peças de um jogo que não entendem, dançando ao som de uma música que não escolheram. E, no entanto, entre as rachaduras desse asfalto cinzento, ainda brota uma semente teimosa.

Alguém, em algum lugar, para. Olha. Sente. Alguém decide que o peso de um "te amo" verdadeiro vale mais que mil palavras vazias. Alguém escolhe ouvir o silêncio do mundo e, nele, encontrar sentido.

E se fossemos nós? E se, por um instante, silenciássemos as notificações, quebrássemos os espelhos do ego e ousássemos criar? Não um mundo de plástico, mas um feito de raízes, de mãos entrelaçadas, de verdades que doem e curam.

O relógio não para, mas nós podemos. E, quem sabe, nesse instante, o futuro mude de cor.

(Francisco Silva Sousa) – Foto: Pixabay

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