Sorrisos
de plástico, estampados em rostos que esqueceram como sentir. Hierarquias de
fast-food, onde o tempo é rei e as pessoas, apenas engrenagens.
Nos
bolsos, uma inteligência artificial que sussurra promessas de futuro, mas nos
prende a telas que refletem um presente oco. Digo "te amo" como quem
aperta um botão, sem deixar o coração sangrar.
Murmuro
"sinto muito" enquanto a alma boceja, indiferente. Desejo "seja
feliz" como quem joga moedas ao vento, e lanço um "bom dia" sem
saber se a manhã é feita de luz ou sombras.
Vivemos
em filas intermináveis, correndo para lugar nenhum. Compramos sonhos embalados
em propagandas, trocamos afetos por curtidas, medimos o valor de uma vida por
números que piscam em aplicativos.
Não
raciocinamos - engolimos. Não questionamos - obedecemos. Seguimos scripts
escritos por mãos invisíveis, enquanto o mundo, lá fora, range sob o peso da
ganância, da pressa, do descaso. As florestas caem, os rios secam, e nós?
Trocamos filtros de selfie por aplausos virtuais.
Serão
essas pessoas, hipnotizadas por luzes artificiais, que vão consertar o mundo?
Serão elas, com seus corações adormecidos e suas vozes automáticas, que vão
tecer um planeta mais vivo, mais inteiro? Duvido.
São
peças de um jogo que não entendem, dançando ao som de uma música que não
escolheram. E, no entanto, entre as rachaduras desse asfalto cinzento, ainda
brota uma semente teimosa.
Alguém,
em algum lugar, para. Olha. Sente. Alguém decide que o peso de um "te
amo" verdadeiro vale mais que mil palavras vazias. Alguém escolhe ouvir o
silêncio do mundo e, nele, encontrar sentido.
E se
fossemos nós? E se, por um instante, silenciássemos as notificações,
quebrássemos os espelhos do ego e ousássemos criar? Não um mundo de plástico,
mas um feito de raízes, de mãos entrelaçadas, de verdades que doem e curam.
O
relógio não para, mas nós podemos. E, quem sabe, nesse instante, o futuro mude
de cor.
(Francisco Silva Sousa) – Foto: Pixabay
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