Sorrisos
de plástico, estampados em rostos que desaprenderam a sentir. Vivemos em
hierarquias de fast-food, onde o tempo reina absoluto, e as pessoas, reduzidas
a engrenagens, giram sem questionar.
Nos
bolsos, carregamos uma inteligência artificial que sussurra promessas de um
futuro brilhante, mas nos acorrenta a telas que refletem um presente oco,
desprovido de alma.
Dizemos
"te amo" como quem aperta um botão, sem deixar o coração sangrar.
Murmuramos "sinto muito" enquanto a alma boceja, indiferente.
Desejamos "seja feliz" como quem joga moedas ao vento, e lançamos um
"bom dia" sem saber se a manhã é feita de luz ou apenas de sombras.
Vivemos
enfileirados, correndo para lugar nenhum. Compramos sonhos embrulhados em
propagandas coloridas, trocamos afetos por curtidas efêmeras, medimos o valor
de uma vida por números que piscam em aplicativos.
Não
raciocinamos - engolimos. Não questionamos - obedecemos. Seguimos scripts
escritos por mãos invisíveis, enquanto o mundo, lá fora, geme sob o peso da
ganância, da pressa, do descaso.
As
florestas tombam, os rios secam, os céus se enchem de fumaça. E nós? Trocamos
filtros de selfie por aplausos virtuais, anestesiados por luzes artificiais que
nos cegam para a realidade.
O Contexto do Caos
Nos
últimos anos, o planeta tem gritado por socorro. Em 2023, o Brasil testemunhou
enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul, que deslocaram milhares de pessoas
e expuseram a fragilidade de nossas infraestruturas diante das mudanças
climáticas.
Na
Amazônia, o desmatamento, embora reduzido em algumas áreas, continua a engolir
hectares de floresta, enquanto comunidades indígenas lutam para proteger suas
terras de invasores movidos pela cobiça.
No
mundo, eventos extremos - ondas de calor na Europa, incêndios na Austrália,
secas na África - escancaram que o tempo de ignorar o colapso ambiental acabou.
Mas, enquanto a Terra range, muitos seguem hipnotizados por telas,
compartilhando memes enquanto o futuro queima.
As
redes sociais, que prometiam conectar, fragmentam. Em 2025, estudos apontam que
o tempo médio diário gasto em plataformas digitais ultrapassa 7 horas para
muitos jovens, um reflexo da nossa dependência de validação virtual.
Movimentos
como o #DigitalDetox ganham força em resposta, com pessoas tentando
reconquistar o tempo perdido, mas a corrente é forte. Algoritmos ditam o que
vemos, o que pensamos, até o que sentimos.
Nesse
cenário, as palavras perdem peso: um "te amo" vira emoji, um
"sinto muito" vira mensagem automática. E a empatia? Essa se dissolve
em notificações.
A Dança dos Autômatos
Serão
essas pessoas, hipnotizadas por luzes artificiais, que vão consertar o mundo?
Serão elas, com seus corações adormecidos e suas vozes robotizadas, que vão
tecer um planeta mais vivo, mais inteiro?
Duvido.
São peças de um jogo que não compreendem, dançando ao som de uma música que não
escolheram. Governos e corporações, em nome do lucro, alimentam a máquina:
produzem mais plástico, mais gadgets, mais promessas vazias de progresso.
Em
2024, a ONU alertou que a produção global de plástico deve triplicar até 2060
se nada mudar, sufocando oceanos e vidas. Enquanto isso, influenciadores vendem
"sustentabilidade" em posts patrocinados, e o ciclo de hipocrisia
continua.
E, no
entanto, entre as rachaduras desse asfalto cinzento, brota uma semente teimosa.
Há quem pare. Há quem olhe. Há quem sinta. Em pequenos atos de resistência,
pessoas pelo mundo começam a despertar.
No
Brasil, movimentos como o Fridays for Future mobilizam jovens para exigir ações
climáticas concretas. Comunidades locais, de vilarejos na Puglia a favelas em
São Paulo, reinventam formas de viver com menos, de cuidar com mais.
Alguém
decide que o peso de um "te amo" verdadeiro vale mais que mil
palavras vazias. Alguém escolhe ouvir o silêncio do mundo e, nele, encontrar
sentido.
Um Chamado à Coragem
E se
fossemos nós? E se, por um instante, silenciássemos as notificações,
quebrássemos os espelhos do ego e ousássemos criar? Não um mundo de plástico,
mas um feito de raízes, de mãos entrelaçadas, de verdades que doem e curam.
Imagine
um movimento global onde cada pessoa dedica um dia - apenas um - para
desconectar, refletir, plantar uma árvore, ouvir um estranho, reconstruir
laços. Em 2025, iniciativas como o Earth Hour e o World Cleanup Day mostram que
pequenas ações coletivas podem gerar impacto. Mas é preciso mais: coragem para
questionar, para sentir, para mudar.
O
relógio não para, mas nós podemos. Podemos escolher ouvir o canto dos pássaros
sobre o barulho das notificações. Podemos decidir que o valor de uma vida não
se mede em likes, mas em olhares trocados, em mãos que constroem, em silêncios
que falam.
E, quem
sabe, nesse instante, o futuro mude de cor - do cinza do asfalto para o verde
de uma semente que insiste em crescer.
(Francisco Silva Sousa) – Foto: Pixabay
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