Roque
Santeiro é uma icônica telenovela brasileira, considerada uma das maiores
produções da Rede Globo e um marco na teledramaturgia nacional. A trama foi
baseada na peça O Berço do Herói, escrita por Dias Gomes em 1965, que, por sua
vez, já havia inspirado uma primeira versão da novela em 1975, censurada pelo
regime militar antes de sua estreia.
A
versão definitiva, exibida entre 24 de junho de 1985 e 22 de fevereiro de 1986,
no horário das 20 horas, contou com 209 capítulos e conquistou o público com
sua mistura de crítica social, humor, sátira política e elementos de realismo
fantástico.
O
roteiro da telenovela foi assinado por Dias Gomes e Aguinaldo Silva, com a
colaboração de Marcílio Moraes e Joaquim Assis. Dias Gomes escreveu os
capítulos iniciais (1 a 51) e do 162 até o final, enquanto Aguinaldo Silva foi
responsável pelos capítulos 52 a 161, sempre respeitando a essência da obra
original de Gomes.
A
direção ficou a cargo de Gonzaga Blota, Paulo Ubiratan, Marcos Paulo e Jayme
Monjardim, com direção geral de Paulo Ubiratan e gerência de produção de Carlos
Henrique de Cerqueira Leite.
A
combinação de um texto afiado, direção competente e produção caprichada
resultou em uma novela que marcou época.
O
elenco de Roque Santeiro era estelar, reunindo alguns dos maiores nomes da televisão
brasileira. José Wilker brilhou no papel-título, interpretando o mítico Roque
Santeiro, um homem comum transformado em lenda após ser dado como morto.
Ao seu
lado, Regina Duarte deu vida à viúva Porcina, uma figura carismática e ambígua,
enquanto Lima Duarte encarnou o inesquecível Sinhozinho Malta, um fazendeiro
poderoso e carismático.
Outros
destaques incluíram Yoná Magalhães, Ary Fontoura, Waldyr Sant’anna, Regina
Dourado, Eloísa Mafalda, Armando Bógus, Lucinha Lins, Fábio Jr., Lídia Brondi,
Cláudio Cavalcante, Rui Rezende, Cássia Kis, Ewerton de Castro, Patrícia
Pillar, Paulo Gracindo, Wanda Kosmo, Arnaud Rodrigues, Maurício do Valle, Luiz
Armando Queiroz e Lilian Lemmertz, todos em atuações memoráveis que
enriqueceram a trama.
A
história se passa na fictícia cidade de Asa Branca, onde a suposta morte de
Roque Santeiro, um jovem que teria morrido defendendo a população, cria um mito
alimentado por interesses políticos, religiosos e econômicos.
A
novela aborda temas como falsos milagres, corrupção, luta pelo poder, traição,
injustiça social e fanatismo religioso, tudo embalado por um humor ácido e
inteligente.
A
crítica à sociedade brasileira, com suas contradições e desigualdades, é feita
de forma brilhante, misturando elementos de comédia e drama.
Personagens
como a viúva Porcina, com seu passado inventado, e Sinhozinho Malta, com sua
mistura de charme e autoritarismo, tornaram-se ícones culturais, enquanto
bordões como “Tô certo ou tô errado?” entraram para o imaginário popular.
Na
minha opinião, Roque Santeiro é a melhor telenovela já produzida pela Rede
Globo. Sua capacidade de entreter enquanto provoca reflexões sobre a sociedade
brasileira é incomparável.
A trama
soube equilibrar humor, crítica social e emoção, criando uma narrativa
envolvente que conquistou milhões de telespectadores. Em 2016, a revista Veja
elegeu Roque Santeiro como a terceira melhor telenovela brasileira de todos os
tempos, ficando atrás apenas de Avenida Brasil (2012) e Vale Tudo (1988), o que
reforça sua relevância e qualidade.
Um
episódio pessoal marcante ocorreu durante a exibição da novela. Na época, eu
estava em Juazeiro do Norte, no Ceará, a trabalho. Em um dia triste, José
Wilker, que era natural da cidade, retornou para se despedir de sua avó, que
havia falecido.
A presença
do ator, que vivia o auge da fama como Roque Santeiro, causou grande comoção.
As proximidades da residência da família de Wilker ficaram lotadas, e a cidade
parecia pulsar de forma diferente.
Era
como se, por um dia, a popularidade de José Wilker tivesse ofuscado até mesmo a
figura de Padre Cícero, o lendário “Padim Ciço”, tão reverenciado na região.
A
passagem de Wilker por Juazeiro do Norte reforçou o impacto cultural da novela,
que parecia transcender a televisão e se entrelaçar com a vida real.
Além
disso, Roque Santeiro também foi um fenômeno de audiência, alcançando picos de
mais de 60 pontos no Ibope, números impressionantes para a época.
A
novela inspirou debates, análises acadêmicas e até releituras em outras mídias,
como minisséries e adaptações teatrais. Sua trilha sonora, com músicas como
“Dona” de Roupa Nova, tornou-se um clássico, evocando nostalgia até hoje.
O
sucesso da trama também abriu portas para outras produções que exploraram o
realismo fantástico e a crítica social, consolidando o gênero na
teledramaturgia brasileira.
Em
resumo, Roque Santeiro não foi apenas uma novela, mas um fenômeno cultural que
capturou o espírito de uma época, misturando humor, crítica e emoção de forma
magistral.
Sua
relevância perdura, e a obra continua sendo referência para produtores,
roteiristas e amantes da televisão brasileira.