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quinta-feira, julho 10, 2025

Lou Andreas-Salomé: a mulher que nenhum homem conteve


 

Numa era em que as mulheres eram moldadas para o silêncio, para serem sombras discretas de homens ou enfeites em salões, nasceu uma que recusou o molde. Não pediu licença para existir, para pensar, para amar ou para incendiar o mundo com suas ideias.

Lou Andreas-Salomé.

Um nome que ressoa como trovão. Um corpo de mulher. Uma alma de furacão. Ela não foi musa - musas são frágeis, idealizadas, presas em pedestais.

Lou era o próprio incêndio, a chama que consumia convenções e iluminava o caminho para si mesma. Enquanto a Europa do século XIX erguia altares a homens de grandes nomes, Lou escrevia com a própria alma, dormia com a liberdade, desafiava os gigantes intelectuais - e saía de cada embate maior do que entrara.

Nietzsche, Rilke, Freud: os gigantes que a encontraram

Friedrich Nietzsche, o filósofo que queria dinamitar os alicerces da moral, encontrou em Lou algo que o desarmou: uma mulher que não se curvava, nem a ele, nem a seus abismos.

Ele a amou, implorou por ela, viu nela a encarnação de sua “Zaratustra” - uma força indomável, um espírito que dançava sobre o caos. Mas Lou não se deixou possuir.

Quando Nietzsche caiu na loucura, o nome dela ainda ardia em seus manuscritos, como um eco de algo que ele nunca conseguiu capturar. Rainer Maria Rilke, o jovem poeta de alma frágil, encontrou em Lou não apenas uma amante, mas uma mestra.

Com ela, aprendeu mais que o idioma russo; aprendeu a mergulhar no abismo da beleza, a escrever com as feridas abertas, a transformar dor em poesia. Lou foi a mulher que o fez poeta - e nunca permitiu que ele esquecesse disso.

Anos depois, mesmo separados, Rilke ainda escrevia cartas a ela, como quem presta tributo a uma deusa que o moldou. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, viu em Lou uma igual. Não uma discípula subserviente, mas uma mente brilhante que o desafiava.

Ele a ouviu, a respeitou, e juntos exploraram os mistérios do inconsciente. Lou tornou-se psicanalista, trazendo para a prática sua visão única sobre o desejo, a liberdade e a complexidade da alma humana.

Uma vida sem amarras

Lou não orbitava ninguém. Era o centro de sua própria constelação, o começo de suas próprias revoluções. Falou de desejo quando isso era tabu, quando mulheres eram condenadas por ousarem sentir.

Amou homens e ideias com a mesma voracidade, sem jamais se prender a um ou a outro. Escolheu um casamento aberto com Carl Andreas, um orientalista, numa época em que o mundo trancava mulheres em jaulas de boas maneiras e fidelidade cega.

Esse casamento, mais um pacto de liberdade que uma união tradicional, permitiu que ela continuasse a viver segundo suas próprias regras. Como escritora, filósofa e psicanalista, Lou deixou um legado que desafia categorizações.

Seus ensaios sobre o amor, a sexualidade e a religião - como em O Erotismo e Reflexões sobre o Problema do Amor - eram ousados, quase subversivos, numa sociedade que preferia mulheres caladas.

Seus romances, como Fenitschka e Desvio, exploravam a psique feminina com uma profundidade que poucos ousavam. Como pensadora, ela não apenas dialogava com as grandes mentes de sua época, mas as provocava, as transformava.

O contexto histórico e os últimos anos

Nascida em 1861 em São Petersburgo, na Rússia, numa família de origem alemã, Lou cresceu em um mundo em transformação, entre o colapso dos velhos impérios e o nascimento de ideias revolucionárias.

Sua juventude foi marcada por uma curiosidade insaciável e por encontros intelectuais que moldaram sua trajetória. Ela viajou pela Europa, frequentou círculos boêmios e acadêmicos, e construiu uma rede de relações que incluía nomes como Tolstoy, Wagner.

Quando o fascismo bateu à porta da Europa, Lou já era uma figura incômoda para o regime totalitário. Sua independência, sua escrita provocadora e sua recusa em se alinhar a qualquer dogma a tornavam em rota de colisão com a repressão.

Em 1937, aos 75 anos, ela morreu em Göttingen, na Alemanha, poucos dias antes que a Gestapo emitisse uma ordem de prisão contra ela. Sua morte, em 5 de fevereiro, foi quase um último ato de desafio: Lou partiu antes que a pudessem deter.

Lou Andreas-Salomé: a mulher que nenhum homem conteve

O legado de Lou

Lou Andreas-Salomé não cabia em dogmas. Não se encaixava em camas estreitas, em rótulos frágeis ou em correntes forjadas pelo patriarcado. Ela foi uma mulher que transborda ainda hoje, um século depois, desafiando-nos a repensar o que significa ser livre.

Seu legado não é apenas o que escreveu ou quem amou, mas o que representou: a ousadia de ser inteira num mundo que exigia metades. Como escritora, Lou deixou uma obra que pulsa com vida.

Seus ensaios, como O Erotismo e Reflexões sobre o Problema do Amor, desbravaram territórios proibidos, explorando o desejo e a sexualidade feminina com uma coragem que escandalizava e fascinava.

Seus romances, como Fenitschka e Desvio, mergulhavam na psique das mulheres, revelando suas contradições, anseios e forças com uma profundidade que antecipava as grandes vozes feministas do século XX.

Sua escrita não era apenas literária; era um ato de insubordinação, um grito de autonomia numa sociedade que silenciava vozes como a dela. Como psicanalista, Lou trouxe para o divã uma perspectiva única. Influenciada por Freud, mas nunca submissa a ele, ela explorou o inconsciente com a sensibilidade de quem entendia o amor, a dor e a liberdade.

Seus estudos sobre narcisismo e a relação entre criatividade e psique abriram novos caminhos na psicanálise, enquanto sua prática clínica era marcada por uma empatia que transcendia os rigores acadêmicos.

Lou não apenas analisava; ela conectava, transformava. Como filósofa, Lou desafiou as ideias de seu tempo. Sua amizade com Nietzsche a colocou no centro de debates sobre moral, religião e o “super-homem”, mas ela nunca se contentou em ecoar o pensamento alheio.

Em textos como Quando Nietzsche Chorou, ela refletiu sobre a fragilidade humana e a busca por sentido, sempre com um olhar que misturava intuição e rigor. Sua filosofia não era abstrata; era vivida, encarnada em cada escolha que fazia.

Uma vida contra o fascismo e a repressão

Nos anos finais de sua vida, Lou enfrentou o avanço do fascismo na Europa. Vivendo em Göttingen, na Alemanha, ela testemunhou a ascensão do nazismo e a destruição da liberdade intelectual que tanto prezava.

Seus escritos, com sua celebração da individualidade e da liberdade, eram uma afronta ao totalitarismo. Em 1937, quando a Gestapo confiscou sua biblioteca e planejava sua prisão, Lou já estava partindo.

Sua morte, em 5 de fevereiro, aos 75 anos, foi quase um ato final de resistência: ela escapou das garras da opressão, como escapara de todas as outras amarras ao longo da vida.

A mulher que inspirou o futuro

Lou Andreas-Salomé não foi apenas uma figura de seu tempo; ela foi uma precursora. Sua vida abriu portas para as mulheres que vieram depois, aquelas que ousaram pensar, amar e viver sem pedir permissão.

Ela influenciou o feminismo, ainda que nunca se rotulasse como feminista, ao mostrar que uma mulher podia ser intelectual, sensual, independente e poderosa sem se curvar às expectativas alheias.

Sua amizade com figuras como a escritora Ellen Key e sua correspondência com outras mulheres intelectuais da época mostram que Lou não caminhava sozinha; ela inspirava redes de pensamento e resistência. Seu impacto também se estende à literatura e à arte.

Rilke, que dedicou a ela algumas de suas mais belas linhas, é apenas um exemplo de como Lou moldava aqueles que cruzavam seu caminho. Sua influência pode ser sentida nas obras de autores que, direta ou indiretamente, beberam de sua visão sobre a beleza, o desejo e a existência.

Até hoje, ela é tema de biografias, romances e filmes, como o longa Lou Andreas-Salomé: The Audacity to be Free (2016), que tenta capturar sua essência indomável.

Um furacão que ainda sopra

Lou caminhou sozinha, sim - mas com o passo firme de quem sabe o próprio valor. Não era solitária; era soberana. Amou sem se prender, pensou sem se limitar, viveu sem se render.

Em cada linha que escreveu, em cada homem que desafiou, em cada ideia que defendeu, ela deixou claro: a liberdade não é dada, é conquistada. Hoje, num mundo que ainda luta para reconhecer a potência das mulheres, Lou Andreas-Salomé permanece como um farol.

Ela nos lembra que ser livre é um ato de coragem, que amar é uma escolha, que pensar é uma revolução. Ela foi a mulher que transbordou todos os homens, todas as épocas, todas as jaulas. E seu furacão ainda sopra, inquietando, inspirando, libertando.

quarta-feira, julho 09, 2025

Tragédia


 

A Verdadeira Tragédia: Não Viver o Agora

A vida é uma sucessão de acontecimentos imprevisíveis. Um jovem adoece no calor do verão, um idoso é atingido por um táxi em uma esquina qualquer, uma biópsia revela um tumor maligno. Essas coisas acontecem todos os dias.

E, ainda assim, saímos de casa com a certeza ingênua de que somos imunes ao caos, de que a dor e a perda são realidades distantes, reservadas para outros.

Mas a verdade é que a vida não faz distinção: um diagnóstico inesperado rouba um pai, uma moto cruza um sinal vermelho, um exame médico traz notícias que abalam o chão sob nossos pés.

Todos os dias, o imprevisível acontece, e, todos os dias, seguimos com nossos planos rotineiros - trabalho, almoço, trabalho, jantar - como se o amanhã fosse garantido.

Quando essas coisas nos atingem, é comum exclamarmos: “Que tragédia! A vida acabou tão cedo!”. Mas será que é mesmo uma tragédia? A vida, na sua essência, é um mosaico de caos, coincidências e momentos fugazes.

Hoje estamos aqui, amanhã podemos não estar. A verdadeira tragédia não é a morte ou o sofrimento inevitável que nos acomete. A verdadeira tragédia é passar por essa existência sem agradecer pelo tempo que temos, sem valorizar os instantes que realmente importam.

É deixar que o celular roube o sorriso de um filho, que as preocupações do trabalho apaguem a alegria de um passeio em família, que o medo ou a procrastinação adiem os abraços que poderíamos dar hoje.

A tragédia está em viver de aparências, em buscar a felicidade em coisas materiais - um carro novo, uma casa maior, um armário cheio - enquanto o coração permanece vazio.

É trabalhar dia após dia em algo que nos consome, que nos distancia de quem somos. É adiar os sonhos para um “um dia” que nunca chega: “Um dia eu mudo de emprego”, “Um dia eu digo que a amo”, “Um dia eu faço aquela viagem”, “Um dia eu me dedico àquele projeto voluntário”.

A vida vai ficando para depois, como se o tempo fosse um recurso infinito. A tragédia é aprender a valorizar o que temos apenas quando o perdemos - um ente querido, uma oportunidade, um momento que não volta.

Marcos Piangers, nos convida a refletir sobre o que realmente importa. Em um mundo acelerado, onde as redes sociais glorificam a perfeição e o consumo, é fácil cair na armadilha de viver para o futuro ou para as aparências.

Mas a vida é agora. É o café da manhã compartilhado com a família, a conversa despretensiosa com um amigo, o tempo que dedicamos a ouvir quem amamos.

A tragédia não é o fim da vida, mas a ausência de vida enquanto estamos aqui. É passar os dias em branco, sem cor, sem propósito, sem conexão. Para além da mensagem de Piangers, podemos olhar para exemplos concretos que ilustram essa reflexão.

Em 2020, a pandemia de COVID-19 escancarou a fragilidade da existência, forçando milhões de pessoas a repensarem suas prioridades. Muitos perceberam, tarde demais, que o tempo com a família, os momentos de afeto e as pequenas alegrias do cotidiano eram mais valiosos do que a correria por conquistas materiais.

Histórias de pessoas que, diante da perda, redescobriram o valor de um abraço ou de uma ligação para um parente distante reforçam a mensagem: o que nos define não é o que acumulamos, mas o que vivemos.

A filosofia de Piangers ecoa também em movimentos contemporâneos, como o minimalismo e a busca por uma vida mais intencional. Pessoas ao redor do mundo têm trocado carreiras estressantes por trabalhos que as realizem, priorizado experiências em vez de bens e buscado conexões humanas mais profundas. Esse despertar coletivo é um lembrete de que a vida é curta e imprevisível, e que cabe a nós preenchê-la com significado.

Portanto, a verdadeira tragédia não é o inevitável - a doença, o acidente, a morte. A tragédia é não ter vivido plenamente enquanto tínhamos a chance. É deixar que o medo, a rotina ou as distrações nos afastem do que realmente importa.

Que possamos, então, viver o hoje com gratidão, com coragem e com amor, porque o amanhã é apenas uma possibilidade, mas o agora é a única certeza.

Erupção do Vesúvio - A Destruição de Pompeia


 

A Erupção do Vesúvio e a Destruição de Pompeia e Herculano

No século I d.C., a região ao redor do Monte Vesúvio, na Campânia, era um centro florescente do Império Romano. Cidades como Pompeia, Herculano, Estábia e Oplontis prosperavam graças à fertilidade do solo vulcânico, que sustentava uma agricultura rica e um comércio vibrante.

Pompeia, em particular, era uma cidade cosmopolita com uma população estimada entre 10.000 e 20.000 habitantes, conhecida por seus mercados, templos, teatros e casas luxuosas decoradas com afrescos e mosaicos.

No entanto, a proximidade com o Vesúvio, um vulcão ativo, selou o destino trágico dessas comunidades.

A Erupção de 79 d.C.

A erupção do Vesúvio, ocorrida provavelmente em 23 de novembro de 79 d.C. (embora algumas fontes tradicionais citem 24 de agosto), foi um dos desastres naturais mais devastadores da antiguidade.

Estudos recentes, baseados em evidências arqueológicas, como moedas, trajes e produtos agrícolas encontrados em Pompeia, sugerem que o evento ocorreu no outono, e não no verão, como inicialmente proposto.

Por exemplo, as vítimas usavam roupas mais pesadas, típicas de meses mais frios, e as lojas continham frutas de outubro, como romãs frescas, enquanto frutas de verão, como uvas, estavam secas ou em conserva.

Além disso, jarras de vinho seladas, um processo comum no final de outubro, e uma moeda cunhada após meados de setembro reforçam a data de novembro.

A erupção começou com uma explosão colossal que lançou uma coluna de cinzas, pedra-pomes e gases tóxicos a mais de 30 quilômetros de altura. Durante aproximadamente 24 horas, a região foi assolada por uma chuva de material piroclástico, que cobriu Pompeia com até 25 metros de depósitos vulcânicos em camadas sucessivas.

Herculano, mais próxima do vulcão, foi soterrada por fluxos piroclásticos - correntes de gás superaquecido e detritos que viajavam a centenas de quilômetros por hora.

Estudos vulcanológicos e bioantropológicos modernos revelaram que o calor extremo foi a principal causa de morte, e não a asfixia por cinzas, como se acreditava anteriormente.

Temperaturas de pelo menos 250 °C, mesmo a 10 quilômetros do Vesúvio, causaram morte instantânea, vitimando até aqueles que buscavam abrigo em construções.

Em Herculano, esqueletos encontrados em armazéns à beira-mar mostram sinais de vaporização de tecidos moles devido a temperaturas superiores a 500 °C, um fenômeno conhecido como “síndrome de explosão térmica”.

Relatos Contemporâneos e o Testemunho de Plínio, o Jovem

O evento foi documentado por Plínio, o Jovem, que, aos 17 anos, testemunhou a erupção de Miseno, a cerca de 30 quilômetros do Vesúvio, do outro lado do Golfo de Nápoles.

Em cartas escritas 25 anos depois ao historiador Tácito, Plínio descreveu vividamente a nuvem em forma de pinheiro que se ergueu do vulcão, a escuridão que engoliu a região e os tremores que abalaram a terra.

Seu relato, marcado pelo trauma da experiência e pela perda de seu tio, Plínio, o Velho, tornou-se uma fonte inestimável para os estudiosos. Plínio, o Velho, um renomado naturalista e almirante da frota romana em Miseno, tentou organizar uma operação de resgate.

Ele ordenou que navios da Marinha Imperial cruzassem o golfo para evacuar as vítimas, mas morreu durante a missão, provavelmente asfixiado por gases vulcânicos ou vítima de um ataque cardíaco.

Os relatos de Plínio, o Jovem, foram tão detalhados que os vulcanologistas cunharam o termo “erupção pliniana” para descrever eventos vulcânicos explosivos semelhantes, caracterizados por colunas eruptivas massivas e depósitos piroclásticos extensos.

A Redescoberta de Pompeia e Herculano

Após a erupção, as cidades foram completamente soterradas por cinzas e detritos, e seus nomes e localizações caíram no esquecimento. Durante séculos, a região foi abandonada, e a memória das cidades se perdeu.

A redescoberta começou acidentalmente em 1599, quando a escavação de um canal para desviar o rio Sarno revelou muros antigos com pinturas e inscrições.

O arquiteto Domenico Fontana supervisionou a descoberta, mas, influenciado pelo moralismo da Contrarreforma, ordenou que os achados, muitos com conteúdo erótico, fossem novamente cobertos, possivelmente para protegê-los ou censurá-los.

Herculano foi oficialmente redescoberta em 1738, durante escavações para as fundações do pal cuestão de um palácio de verão do rei de Nápoles, Carlos III. Pompeia foi redescoberta em 1748, sob a direção do engenheiro militar espanhol Rocque Joaquin de Alcubierre.

As escavações revelaram um tesouro arqueológico: casas, templos, anfiteatros e objetos do cotidiano, preservados em detalhes impressionantes pelas cinzas vulcânicas.

Carlos III, entusiasmado com as descobertas, viu nelas uma oportunidade de reforçar o prestígio político e cultural de Nápoles, financiando escavações sistemáticas. Escavações e a Técnica de Giuseppe Fiorelli

As escavações profissionais começaram sob a supervisão de Karl Weber, seguidas por Francisco la Vega e, mais tarde, por Giuseppe Fiorelli, a partir de 1860.

Fiorelli revolucionou a arqueologia ao desenvolver a técnica de injetar gesso nos espaços vazios deixados por corpos decompostos nas camadas de cinzas. Esses moldes revelaram formas humanas em posições dramáticas, muitas com expressões de agonia, capturando os momentos finais das vítimas.

Hoje, a técnica usa resina, que é mais durável e permite análises osteológicas detalhadas sem danificar os restos.

Impacto Cultural e o “Gabinete Secreto”

As escavações revelaram não apenas a tragédia, mas também a riqueza cultural de Pompeia e Herculano. Afrescos, mosaicos e esculturas expuseram a sofisticação artística romana, mas também causaram controvérsia devido ao conteúdo explícito de algumas obras.

Em 1819, o rei Francisco I das Duas Sicilias, escandalizado com as representações eróticas, ordenou que fossem confinadas a um “gabinete secreto” no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, acessível apenas a adultos considerados de “moral respeitável”.

Essa câmara foi fechada e reaberta várias vezes, sendo definitivamente acessível ao público em 2000, com restrições para menores de idade.

Legado e Mistérios

Pompeia e Herculano são hoje Patrimônios Mundiais da UNESCO, atraindo milhões de visitantes e oferecendo uma janela única para a vida romana. A discrepância entre as datas de agosto e novembro para a erupção permanece um mistério.

Algumas teorias sugerem erros de transcrição nos textos de Plínio ou diferenças no calendário romano, mas nenhuma explicação é definitiva. Além disso, as escavações continuam a revelar novos achados, como esqueletos, objetos domésticos e até grafites que mostram o cotidiano e o humor dos habitantes.

A erupção do Vesúvio não foi apenas uma catástrofe, mas um evento que preservou, de forma paradoxal, um momento congelado no tempo. As cidades soterradas oferecem um testemunho incomparável da cultura, da arte e da fragilidade humana diante da força da natureza, continuando a fascinar cientistas, historiadores e visitantes do mundo todo.


terça-feira, julho 08, 2025

Comportamento Humano!


"Você nunca observa animais praticando as absurdas, e por vezes horríveis, enganações associadas à mágica ou à religião. Apenas o ser humano se entrega a tais ilusões com tamanha disposição e, muitas vezes, sem qualquer benefício evidente.

Esse é o preço que ele paga por sua inteligência - uma inteligência que o eleva acima das demais criaturas, mas que, paradoxalmente, não é suficiente para livrá-lo das armadilhas que ele mesmo cria."

Essa reflexão de Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo, aponta para uma característica singular da humanidade: a capacidade de criar narrativas complexas, sejam elas místicas, religiosas ou ilusionistas, que muitas vezes transcendem a realidade objetiva.

Diferentemente dos animais, que agem movidos por instintos e necessidades concretas, o homem utiliza sua inteligência para construir sistemas de crenças que, embora possam inspirar, unir ou consolar, também têm o potencial de manipular, dividir e causar sofrimento.

Huxley sugere que essa tendência à "enganação gratuita" é um subproduto da inteligência humana - uma inteligência que permite ao homem imaginar o impossível, mas que frequentemente falha em discernir entre o que é ilusão e o que é verdade.

A mágica, por exemplo, encanta ao desafiar as leis da física, criando momentos de espanto e deleite. No entanto, sua essência reside na manipulação da percepção, um truque que explora as limitações do cérebro humano.

Da mesma forma, Huxley critica certas manifestações religiosas que, em sua visão, podem se basear em dogmas ou promessas infundadas, levando as pessoas a agirem contra seus próprios interesses ou a perpetuarem conflitos.

Ao longo da história, essa propensão à enganação tem se manifestado de maneira trágica e fascinante. Guerras foram travadas em nome de crenças religiosas, enquanto charlatães e falsos profetas exploraram a fé alheia para enriquecer ou exercer poder.

No século XX, por exemplo, regimes totalitários usaram propaganda – uma forma moderna de "mágica" - para manipular milhões, criando ilusões de superioridade nacional ou utopias inalcançáveis.

Mesmo na era contemporânea, a disseminação de desinformação nas redes sociais reflete essa mesma vulnerabilidade humana: a predisposição a acreditar em narrativas que confirmem nossos desejos ou medos, mesmo que careçam de fundamento.

No entanto, a crítica de Huxley não deve ser lida como uma condenação absoluta da religião ou da imaginação humana. A espiritualidade, em suas formas mais genuínas, pode oferecer sentido e esperança, enquanto a mágica, como arte, celebra a criatividade e a capacidade de surpreender.

O problema reside no excesso, na manipulação e na falta de autocrítica. A inteligência humana, embora poderosa, exige humildade e discernimento para não se perder em suas próprias criações.

Assim, o desafio proposto por Huxley permanece atual: como podemos usar nossa inteligência para transcender as ilusões que nós mesmos criamos?

Talvez a resposta esteja em cultivar uma mente curiosa, que questione sem cinismo e busque a verdade sem arrogância. Somente assim poderemos pagar o preço da nossa inteligência sem sucumbir às enganações que ela nos impõe.

Chagas


Fui subjugado, reduzido à condição de um pedinte errante. Um andarilho sem chão firme sob os pés, um sem-teto vagando por caminhos sem destino, um caminhante perdido em rumos incertos, guiado apenas pelo eco de sonhos despedaçados.

A vida, com sua crueza, feriu-me com os espinhos afiados do mundo, e eu, pacientemente, carrego as chagas que me foram impostas, marcas visíveis e invisíveis de uma luta que não escolhi.

Cortaram meus pensamentos com lâminas precisas, afiadas pela indiferença. Sufocaram minhas ideias nas águas profundas do desencanto, onde a esperança luta para respirar.

Meu pranto, outrora livre, foi extraviado nos abismos da inconsciência, engolido por um vazio que não explica, apenas consome. Atormentaram-me com promessas frágeis, palavras ocas que se desfaziam ao toque, e profanaram meu corpo com delírios selvagens, brutais, impostos por mãos que não conheciam compaixão.

Ao meu redor, combatentes exaustos, companheiros de uma guerra invisível, lançavam-se às sombras do fim, abraçando as trevas de sua própria existência, como se a rendição fosse o único refúgio.

Taxaram-me de alienado por ousar proteger embriões puros, frágeis sementes de vida arrancadas do ventre por mãos impiedosas, movidas pelo desespero de mães frustradas, derrotadas por um sistema que as abandonou.

Acusaram-me de sonhador, de louco, por enxergar neles o potencial de um futuro que o mundo nega. Bombardeado fui pela força destrutiva de vozes intoxicadas, alimentadas por ultrajes e acusações sem fundamento, vindas de rostos conhecidos, outrora próximos, agora distorcidos por fantasias ilusórias.

Viviam imersos em um sono artificial, induzido pela modernidade cega, um torpor fabricado pelo desejo insaciável de poder, que consome tudo em seu caminho.

Fui golpeado por marginais entorpecidos, castigado por ousar ter vontade própria, por erguer a voz em defesa de um ideal que não era quimera, mas uma verdade inabalável, forjada no fogo da convicção.

Proclamaram-me amaldiçoado, feras humanas em trajes extravagantes, quando, no limite da minha resistência, curvei-me ao chão corrompido. Ali, prostrado diante da terra manchada por promessas quebradas e esperanças traídas, enxerguei meus erros refletidos no solo árido.

Com esforço, tentei reformar meus pensamentos, rearranjar os fragmentos do que restava de mim, buscando um sentido que ainda valesse a pena. E, no entanto, a jornada não terminou ali.

Caminhei por cidades cinzentas, onde o peso da opressão se misturava ao cheiro de fumaça e desespero. Vi homens e mulheres, como eu, marcados pela luta, carregando nos olhos a mesma chama que se recusava a apagar.

Encontrei, nas esquinas esquecidas, histórias de resistência: uma mãe que, mesmo exausta, cantava para seus filhos sob um teto improvisado; um velho que, com mãos calejadas, plantava sementes em terrenos estéreis, acreditando que um dia floresceriam.

Esses pequenos atos de coragem reacenderam em mim a certeza de que a dignidade não se rende, mesmo sob o peso do caos. Ainda assim, não desistirei.

Lutarei pela dignidade que nos foi negada, pela paciência que nos sustenta, pelo sossego que acalma a alma e pela felicidade que, apesar de tudo, ainda merecemos.

E me alegro, pois, mesmo nas noites mais escuras, vejo lampejos de luz. Enquanto houver homens e mulheres dispostos a resistir, haverá sempre um raio de esperança, uma centelha capaz de reacender a confiança e iluminar o caminho. E é por essa luz que sigo, com o coração ferido, mas jamais vencido.

segunda-feira, julho 07, 2025

Legisladores



Os criadores de leis parecem encontrar um prazer perverso em sua missão. Projetam normas, regulamentos, códigos e estatutos com palavras polidas e promessas de justiça, mas, por trás das portas fechadas, é no ato de violá-las que verdadeiramente se deleitam.

Reúnem-se em sessões opulentas, adornadas por tapetes vermelhos e jantares faustosos, onde o erário público escorre pelo ralo da vaidade e do desperdício.

No púlpito, travam batalhas retóricas, acusam-se mutuamente, trocam farpas e ofensas, como gladiadores de uma arena moral falida. Mas essas encenações, muitas vezes, não passam de cortinas de fumaça.

Por trás dos discursos inflamados, articulam acordos obscuros, legislam para si mesmos, empilham privilégios e reforçam os muros que os separam do povo. O bem comum é tratado como um detalhe inconveniente, um peso morto a ser arrastado apenas quando convém à própria imagem.

São como crianças brincando na praia, erguendo castelos de areia com gestos solenes, fingindo uma importância que não sustenta o sopro da maré. Sabem que, ao menor descuido - ou à menor denúncia -, tudo ruirá.

E mesmo assim, riem. Riem do colapso de suas obras, como se a ruína fosse apenas parte do jogo. Investem montes de areia - promessas, discursos, emendas e decretos - enquanto o mar, impassível, se encarrega de devolver-lhes o que não tem solidez. Uma dança fútil entre vaidade e efemeridade.

E assim seguem, entre risos e ondas, alheios à gravidade de suas funções. A natureza, sábia e implacável, zomba dos fracos, mas reserva desprezo especial àqueles que se curvam diante da ganância e se alimentam do egoísmo.

Os legisladores, por sua vez, riem do povo, como se a confiança neles depositada fosse apenas mais um punhado de areia a ser moldado, manipulado e descartado.

Constroem leis frágeis como brinquedos de criança, que desmoronam diante das marés da realidade: corrupção sistêmica, desigualdade crescente, crises sucessivas na educação, na saúde, na segurança.

E mesmo assim continuam a brincar, protegidos por seus salários astronômicos, por seus carros oficiais, por suas verbas de gabinete, por seus seguranças e imunidades parlamentares - escudos que os isolam das consequências das tempestades que ajudam a gerar.

Nos acontecimentos recentes, vemos o espelho dessa farsa: escândalos de corrupção que explodem com a frequência de tempestades tropicais; CPIs que nascem e morrem sem resultados; delações arquivadas; investigações soterradas pela burocracia.

Enquanto isso, a fome volta aos rostos magros das periferias, o abandono escolar assombra uma geração inteira, e hospitais sucateados se tornam retratos do colapso institucional. Em vez de soluções, o povo recebe discursos decorados, votos secretos, manobras regimentais.

Nas ruas, os gritos de indignação ecoam. Movimentos populares se erguem, protestos ganham corpo, vozes clamam por dignidade. Mas, nas câmaras e assembleias, o som que predomina ainda é o das risadas abafadas daqueles que se julgam intocáveis. A indiferença institucionaliza-se. A esperança, por vezes, parece escassa.

Mas nem tudo se desfaz com o vento. Em momentos decisivos, o povo desperta. Como um mar revolto, levanta-se em ondas que arrebentam castelos, que derrubam tronos.

Greves, manifestações, ocupações, denúncias, votos conscientes - pequenas revoluções cotidianas que lembram aos legisladores que a história não é escrita apenas por aqueles que têm a caneta nas mãos, mas por quem resiste com coragem e memória.

A verdadeira força não está nos palácios, mas na união dos que, mesmo exaustos, não desistem. Porque há sempre um momento em que a maré muda, e quando isso acontece, nenhuma muralha de privilégios é capaz de conter a fúria daqueles que foram traídos.

Que os legisladores não se esqueçam: o tempo cobra caro daqueles que constroem sobre a areia da mentira e da omissão. Enquanto eles riem, a história observa. E ela, implacável, não perdoa os que brincam com o que é sagrado - a confiança de uma nação. O mar, um dia, virá.

Visão


 

Meu coração saltou aos olhos e te encontrou. Depois, voltou ao peito, onde começou a te amar, como se já soubesse, desde sempre, que eras tu o destino que ele aguardava.

Foi tão fugaz - e, ainda assim, tão eterno - o instante em que teus olhos cruzaram os meus. O mundo, em sua pressa caótica, pareceu dissolver-se em silêncio, como se o próprio tempo, reverente, prendesse a respiração para nos contemplar existindo, um diante do outro, num instante sagrado.

As vozes ao redor se apagaram, o vento parou de sussurrar, e até as folhas das árvores, suspensas, pareceram esperar o desfecho daquele encontro. Teu rosto, banhado por uma luz que eu juro nunca ter visto antes, tornou-se o centro do universo.

Era como se todas as cores do mundo, em segredo, conspirassem para desenhar tua figura com traços de sonho e eternidade. Cada detalhe teu - o arco suave dos teus lábios, o brilho tímido nos teus olhos, o modo como teu cabelo dançava com a brisa que ousava voltar - gravou-se em mim como um quadro que nenhuma memória poderia apagar.

Naquele instante, meu coração, inquieto e atrevido, escapou do peito e correu aos meus olhos, ansioso por te conhecer primeiro. Bastou aquele breve encontro para que ele compreendesse seu propósito: amar-te, como quem encontra, enfim, o motivo de sua própria existência.

E desde então, carrego em mim um fogo manso, que aquece sem consumir, que ilumina sem cegar. O simples som do teu nome faz brotar primaveras em meu peito, e cada lembrança tua é um verso escrito na língua secreta do desejo, que só meu coração sabe recitar.

Naquele dia, o mundo não era mais o mesmo. Lembro-me do cenário que nos envolveu: uma praça qualquer, banhada pelo sol tímido de uma tarde de outono. As folhas douradas caíam lentas, como se quisessem testemunhar o milagre daquele encontro.

Havia o murmúrio distante de uma fonte, o riso leve de crianças brincando ao longe, e o aroma de café que pairava no ar, vindo de algum canto da cidade. Mas nada disso importava. Tudo se tornou pano de fundo, mera moldura para a tua presença, que preenchia cada espaço do meu ser.

Desde então, tudo em mim te procura: meus pensamentos, que desenham teu rosto em cada esquina da mente; minhas mãos, que anseiam pelo toque que ainda não ousaram buscar; meus passos, que parecem sempre caminhar em tua direção, mesmo sem saber para onde vais.

A vida ganhou o sabor das madrugadas estreladas, quando o silêncio do mundo me permite ouvir o eco do teu nome em meu coração. Cada manhã desperta com a promessa de um novo olhar teu, e cada noite adormece com a esperança de que, em sonhos, possamos nos encontrar novamente.

Ah, se soubesses o quanto teu olhar transformou meu mundo! Se ao menos percebesses que, naquele único segundo o tempo se curvou, e a eternidade se fez presente. Talvez sorrisses, com aquele sorriso que carrega o segredo de quem sabe, no fundo da alma, que o amor pode nascer num piscar de olhos e viver para sempre.

E eu, que agora carrego esse amor como um tesouro, sigo acreditando que o universo, em sua infinita bondade, conspirou para que nossos caminhos se cruzassem - e para que, a partir daquele dia, eu nunca mais fosse o mesmo.

(Francisco Silva Sousa) 

domingo, julho 06, 2025

És pequeno?


"Se você já sentiu que é pequeno demais para fazer diferença neste mundo, experimente dormir com um mosquito no quarto. Então, descobrirá quem realmente impede quem de descansar."

Contexto e Reflexão

A citação, atribuída ao Dalai Lama, é uma metáfora poderosa sobre o potencial de impacto de cada indivíduo, por menor que pareça. A imagem do mosquito - um ser minúsculo, quase insignificante - interrompendo o sono de uma pessoa ilustra como pequenas ações podem gerar grandes consequências.

A mensagem convida à reflexão sobre o poder das pequenas mudanças, sugerindo que ninguém é pequeno demais para influenciar o mundo, seja por meio de palavras, gestos ou atitudes.

Essa ideia ressoa com os ensinamentos do Dalai Lama sobre compaixão, paciência e responsabilidade individual. Ele frequentemente enfatiza que a transformação global começa com ações locais e individuais, como um sorriso, uma palavra gentil ou uma escolha consciente.

O mosquito, nesse contexto, simboliza a persistência e a capacidade de causar impacto, mesmo contra algo muito maior, como os desafios globais ou as injustiças do mundo.

O Mosquito e o Vilarejo

Era uma vez um pequeno vilarejo encravado entre montanhas, onde a vida seguia tranquila, mas sob a sombra de um problema persistente. Uma represa mal planejada, construída por uma empresa gananciosa, represava o rio que alimentava as plantações dos moradores.

A água, antes abundante, agora mal chegava às lavouras, e o vilarejo enfrentava dificuldades. Os moradores, exaustos de reclamar sem serem ouvidos, começaram a acreditar que eram pequenos demais para mudar a situação. "Somos apenas camponeses", diziam. "Quem somos nós contra uma empresa tão poderosa?"

Entre eles, vivia Clara, uma jovem conhecida por sua curiosidade e persistência. Ela ouviu a citação do Dalai Lama em um livro emprestado por um viajante que passou pelo vilarejo:

Se você já sentiu que é pequeno demais para fazer diferença, experimente dormir com um mosquito no quarto. Aquelas palavras ficaram ecoando em sua mente. "Um mosquito", pensou Clara, "tão pequeno, mas capaz de tirar o sono de qualquer um. Talvez eu seja pequena, mas também posso ser incômoda o suficiente para fazer diferença."

Inspirada, Clara começou a agir. Primeiro, conversou com seus vizinhos, ouvindo suas histórias e anotando cada detalhe sobre os problemas causados pela represa.

Ela escreveu uma carta contundente, mas educada, à empresa, descrevendo como a represa prejudicava o vilarejo. A carta foi ignorada, como esperado. Mas Clara não desistiu.

Como um mosquito zumbindo no escuro, ela persistiu. Organizou reuniões com os moradores, incentivando-os a se unir. Juntos, redigiram um abaixo-assinado e o enviaram ao jornal local.

A notícia, embora pequena no começo, começou a espalhar-se. Um repórter interessado visitou o vilarejo, publicou uma matéria, e logo o caso ganhou atenção nas redes sociais.

O zumbido de Clara, que começou como uma voz solitária, tornou-se um coro. ONGs ambientais se envolveram, e a pressão pública cresceu tanto que a empresa foi obrigada a rever o projeto da represa, liberando mais água para as plantações.

Clara, com sua persistência, provou que até o menor dos seres pode mudar o curso das coisas. Assim como um mosquito pode impedir uma noite de sono, uma pessoa determinada pode despertar a consciência de muitos.

O vilarejo floresceu novamente, e Clara, sorrindo ao ver as plantações verdes, lembrou-se das palavras do Dalai Lama. Ela não era pequena demais. Ninguém é.