Gustav
Franz Wagner: A Besta de Sobibor
Gustav
Franz Wagner, nascido em 18 de julho de 1911, em Viena, Áustria, foi um dos
mais cruéis oficiais da Schutzstaffel (SS) durante a Segunda Guerra Mundial.
Conhecido por sua brutalidade desumana, Wagner, que alcançou o posto de
sargento-intendente, tornou-se uma figura temida no campo de extermínio de
Sobibor, na Polônia ocupada pelos nazistas.
Sob sua
supervisão, entre 200.000 e 250.000 judeus foram assassinados nas câmaras de
gás durante a Operação Reinhard, o plano nazista para exterminar
sistematicamente milhões de judeus.
Sua
crueldade lhe rendeu os apelidos de “A Besta” e “Lobo” entre prisioneiros e
sobreviventes, que o descreviam como um sádico que matava com prazer.
Início
de Vida e Ascensão no Nazismo
Wagner
ingressou no exército austríaco em 1928, servindo como soldado raso antes de
abraçar o ideário nazista. Em 1931, tornou-se membro do Partido Nazista na
Áustria, então ilegal, sob o número de registro 443.217.
Suas
atividades de propaganda e agitação nacional-socialista levaram à sua prisão,
mas ele fugiu para a Alemanha, onde se juntou às SA (Sturmabteilung), a milícia
paramilitar nazista.
No
final da década de 1930, Wagner ingressou na SS, a elite do regime, iniciando
sua trajetória em campos de concentração, embora o local exato de seu primeiro
posto permaneça incerto.
Em maio
de 1940, Wagner foi designado para o programa ação T4, a campanha nazista de
“eutanásia” que assassinou dezenas de milhares de pessoas com deficiências
físicas ou mentais.
No
centro de extermínio de Hartheim, ele desempenhou funções administrativas,
supervisionando a logística macabra, incluindo a cremação de corpos. Sua
eficiência e frieza nesse programa o qualificaram para papéis ainda mais
sinistros.
Em
março de 1942, Wagner foi enviado para Sobibor, onde ajudou a construir o campo
de extermínio, supervisionando a instalação de câmaras de gás, alojamentos e
cercas de segurança, projetadas para maximizar a eficiência do genocídio.
Sobibor:
O Reinado do Terror
Inaugurado
em maio de 1942, o campo de Sobibor foi um dos três centros de extermínio da
Operação Reinhard, ao lado de Treblinka e Belzec. Como vice comandante,
subordinado a Franz Stangl, Wagner era a face mais visível da brutalidade no
campo. Ele supervisionava a chegada de trens abarrotados de judeus deportados
de guetos na Polônia e outros países ocupados.
Com um
olhar frio, selecionava os poucos que seriam poupados temporariamente para
trabalhos forçados, enquanto a maioria - homens, mulheres e crianças - era
enviada diretamente para as câmaras de gás. Durante suas ausências, como em
períodos de licença, suas funções eram assumidas por Karl Frenzel, outro
oficial notoriamente cruel.
Diferentemente
de outros oficiais, Wagner mantinha contato direto e diário com os
prisioneiros, o que amplificava sua reputação de sádico. Sobreviventes como
Moshe Bahir relataram que ele espancava e matava sem motivo, muitas vezes com
um sorriso no rosto.
“Ele
parecia gostar do sofrimento alheio”, afirmou Bahir. Wagner não apenas
executava ordens, mas parecia encontrar prazer na violência, o que o tornava
uma figura singularmente temida. Sua presença era tão opressiva que os
prisioneiros planejavam suas ações com base em sua ausência.
Na
primavera de 1943, após a fuga de dois prisioneiros, Wagner comandou a
instalação de campos minados ao redor de Sobibor para impedir novas evasões.
Contudo, suas medidas não conseguiram conter a determinação dos prisioneiros.
Em 14
de outubro de 1943, ocorreu a histórica revolta de Sobibor, uma das poucas
rebeliões bem-sucedidas em um campo de extermínio nazista. Naquele dia, Wagner
estava ausente, de licença para celebrar o nascimento de sua filha, Marion, com
sua esposa Karin.
Os
prisioneiros, liderados por Alexander Pechersky e Leon Feldhendler,
aproveitaram sua ausência, sabendo que Wagner era o oficial mais implacável do
campo. Durante a revolta, cerca de 300 prisioneiros conseguiram escapar, embora
muitos tenham sido recapturados ou mortos posteriormente.
Após o
levante, Wagner retornou e recebeu ordens para desmantelar Sobibor e apagar as
evidências dos crimes. Ele supervisionou os Arbeitsjuden, prisioneiros forçados
a demolir as instalações e desenterrar corpos para cremação.
Quando
o trabalho terminou, Wagner executou esses prisioneiros sem hesitação,
demonstrando sua lealdade à máquina de extermínio nazista. Sua eficiência foi
tão notável que Heinrich Himmler, um dos principais arquitetos do Holocausto, o
elogiou como “um dos homens mais merecedores da Operação Reinhard”.
Fuga e
Vida no Brasil
Com a
derrota da Alemanha em 1945, Wagner conseguiu escapar da justiça. Disfarçado
como motociclista militar, foi brevemente detido em um campo de prisioneiros de
guerra, mas liberado por falta de identificação precisa.
Após
trabalhar na construção civil na Alemanha, foi condenado à morte in absentia
por tribunais aliados, mas já havia fugido. Por uma coincidência, encontrou
Franz Stangl, seu ex-comandante, durante a demolição de uma casa.
Juntos,
cruzaram a fronteira para a Itália, onde receberam abrigo no Collegio Teutonico
di Santa Maria dell’Anima, em Roma, uma instituição que, segundo historiadores,
auxiliava nazistas em fuga por meio das chamadas linhas de rato.
Com a
ajuda de redes de simpatizantes nazistas, Wagner e Stangl obtiveram passagens
para a Síria e, posteriormente, para o Brasil. No Brasil, Wagner foi admitido
como residente permanente sob o pseudônimo “Günther Mendel”.
Ele
viveu discretamente nos arredores de São Paulo, trabalhando inicialmente como
empregado doméstico para uma família abastada e, mais tarde, como fabricante de
estacas de concreto em uma fazenda.
Casou-se
com uma viúva brasileira, adotando os filhos dela, e levou uma vida
aparentemente comum, longe dos horrores de seu passado.
Captura
e Morte Misteriosa
Wagner
permaneceu foragido até 30 de maio de 1978, quando foi localizado após uma
investigação liderada por Simon Wiesenthal, o famoso caçador de nazistas. A
pista surgiu após a publicação de uma foto de teuto-brasileiros celebrando o
aniversário de Hitler, na qual Wiesenthal erroneamente identificou Wagner.
A
exposição pública forçou Wagner a se entregar às autoridades brasileiras.
Israel, Áustria, Iugoslávia, Alemanha Ocidental e Polônia solicitaram sua
extradição, mas o Brasil, sob o governo militar da época, recusou todos os
pedidos, alegando questões de soberania e prazos prescricionais.
Em
1979, Wagner concedeu uma entrevista chocante à BBC, na qual demonstrou total
ausência de remorso. “Não tinha sentimentos. Era apenas um trabalho. À noite,
nunca falávamos sobre isso; apenas bebíamos e jogávamos cartas”, declarou,
exibindo uma frieza que horrorizou o mundo. Sua recusa em reconhecer a
gravidade de seus atos reforçou sua imagem como um monstro desprovido de
humanidade.
Em 3 de
outubro de 1980, Wagner foi encontrado morto em Atibaia, São Paulo, com uma
faca cravada no peito. Oficialmente, sua morte foi classificada como suicídio,
mas a versão nunca foi plenamente aceita.
Sobreviventes
como Szlomo Szmaizner, que escapou de Sobibor, sugeriram a historiadores como
Jules Schelvis e Richard Rashke que a morte de Wagner poderia ter sido um
acerto de contas.
Alguns
especulam que ele foi assassinado por ex-prisioneiros ou grupos que buscavam
justiça pelas atrocidades do Holocausto. Outros apontam para a possibilidade de
um suicídio motivado pela pressão crescente após sua identificação. A verdade
permanece envolta em mistério, mas o fim de Wagner não apagou o legado de
terror que ele deixou.
Legado
e Reflexão
A
história de Gustav Wagner é um lembrete sombrio da capacidade humana para a
crueldade e da complexidade da justiça no pós-guerra. Sua participação na
Operação Reinhard e na administração de Sobibor o coloca entre os responsáveis
diretos por um dos capítulos mais trágicos da história.
A
revolta de Sobibor, por outro lado, simboliza a resistência e a coragem dos
prisioneiros diante de um sistema desumano. A recusa do Brasil em extraditá-lo
reflete as tensões políticas da época e a dificuldade de punir criminosos
nazistas que encontraram refúgio na América Latina.
A morte
de Wagner, seja por suicídio ou assassinato, não trouxe encerramento para as
vítimas ou sobreviventes. Sua vida e seus crimes continuam a ser estudados por
historiadores, servindo como um alerta sobre os perigos do fanatismo, da
obediência cega e da desumanização.
Sobreviventes
como Moshe Bahir e Szlomo Szmaizner, ao compartilharem suas histórias,
garantiram que o nome de Wagner não fosse esquecido, mas lembrado como sinônimo
de crueldade e como um chamado à vigilância contra o ódio e a intolerância.