Uma
antiga tábua de argila descoberta em Uruk, no sul do Iraque, oferece um
fascinante vislumbre do passado. Gravada com escrita cuneiforme e adornada com
três círculos geométricos contendo cálculos astronômicos, essa relíquia é
datada do período babilônico antigo, evidenciando o avançado conhecimento
matemático e astronômico daquela civilização.
Uruk,
onde a tábua foi encontrada, não era uma cidade qualquer: foi uma das primeiras
e mais influentes urbes da antiga Suméria, situada na parte sul da Mesopotâmia,
próxima ao rio Eufrates, que desempenhava um papel vital no sustento e
desenvolvimento da região.
Fundada
por volta de 4000 a.C., Uruk alcançou seu apogeu durante o terceiro milênio
a.C., tornando-se um centro político, cultural e religioso. A cidade era
renomada por suas impressionantes muralhas, que chegavam a ter até 25 pés de
espessura e 40 pés de altura, uma façanha arquitetônica que demonstrava tanto
sua riqueza quanto sua necessidade de proteção.
Outro
marco de Uruk era sua ziggurat, um grandioso complexo de templos erguido em
homenagem ao deus Anu, o senhor dos céus na mitologia suméria. Essa estrutura
monumental não apenas simbolizava a devoção religiosa, mas também a habilidade
técnica e organizacional dos seus habitantes.
A
escrita cuneiforme presente na tábua de Uruk – cujo nome deriva do latim cuneus
("cunha"), devido às marcas em forma de cunha – é um testemunho da
sofisticação intelectual da época.
Composta
por mais de 1.200 caracteres distintos, essa escrita era versátil o suficiente
para ser adaptada a diversas línguas, como o sumério, o acadiano, o assírio e o
babilônico.
Cada
símbolo podia representar uma palavra inteira ou apenas uma sílaba, e a leitura
era feita da esquerda para a direita, uma convenção que se consolidou ao longo
do tempo.
Os
escribas, figuras essenciais na sociedade mesopotâmica, utilizavam um estilete
de junco ou madeira para pressionar a argila úmida, criando as características
incisões. Após o registro, as tábuas eram secas ao sol ou cozidas em fornos,
garantindo sua durabilidade por milênios.
Mais do
que um simples sistema de escrita, a cuneiforme era uma ferramenta
multifacetada. Ela servia para documentar leis, contratos de comércio,
registros contábeis, poemas épicos – como a famosa Epopeia de Gilgamesh,
originada em Uruk –, histórias, mitos e até mesmo observações científicas, como
os cálculos astronômicos da tábua em questão.
Esses
registros revelam que os babilônios não apenas observavam os céus por razões
religiosas, mas também desenvolviam modelos matemáticos para prever eventos celestes,
como eclipses e movimentos planetários, o que os coloca entre os pioneiros da
astronomia.
A
descoberta dessa tábua em Uruk reforça a importância da escrita cuneiforme como
um dos pilares da civilização humana. Ela não apenas preservou o conhecimento e
a cultura da Mesopotâmia, mas também influenciou sistemas de escrita
posteriores, como os do Antigo Egito e do Vale do Indo.
Além
disso, os cálculos astronômicos nela contidos sugerem uma conexão entre ciência
e religião, mostrando como os povos da Mesopotâmia buscavam compreender o
cosmos e seu lugar nele.
Assim,
a tábua de Uruk é mais do que um artefato: é uma janela para o intelecto e a
espiritualidade de uma das primeiras grandes civilizações da história.
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