Quando
a tarde chegou, estávamos juntos, de mãos entrelaçadas como se o tempo pudesse
ser nosso cúmplice. O céu se abriu em um azul infinito, um manto sem fim que
abraçava o horizonte.
As
águas do mar, revoltas e indomáveis, dançavam com fúria, mas ao tocarem a
praia, transformavam-se em espuma suave, como se o próprio oceano quisesse nos
oferecer sua poesia.
Os
campos ao nosso redor eram um tapete de flores selvagens, pétalas vibrantes que
pareciam pulsar com a vida da primavera. Era mais do que uma estação: a
primavera da paixão florescia em nossos corações, aquecendo-nos com promessas
de eternidade.
Naquelas
tardes, o mundo parecia se dissolver, e nada mais existia além de um universo
de paz, tecido pelos nossos olhares, silêncios e sorrisos.
Outras
tardes vieram, trazendo consigo a brisa morna e o canto dos pássaros, mas
também a sombra inevitável do efêmero. Alguns planos que construímos com tanto
cuidado desmoronaram como castelos de areia, levados pelas ondas do destino.
Outros
sonhos, porém, resistiram, gravados em memórias que o tempo não ousaria apagar.
E, no fundo, o que realmente importava era simples e absoluto: éramos eu e
você, duas almas entrelaçadas contra o vasto cenário do mundo.
Mas às
vezes o mundo é ingrato, e os sonhos, frágeis como bolhas de sabão, estouram ao
menor toque da realidade. Uma mão invisível nos sacudiu, arrancando-nos do
devaneio.
Um raio
feroz rasgou o azul imaculado do céu, partindo o véu da ilusão. Foi assim, num
instante cruel, que o adeus se fez presente, frio e inevitável. Não me
envergonho de confessar: chorei.
As
lágrimas caíram como gotas de chuva em um deserto, tentando, em vão, regar o
que já havia secado. A cortina do sonho desceu lentamente, e a porta da
realidade se escancarou, trazendo com ela o vazio de uma tarde que não mais
compartilhávamos.
Onde antes
havia calor, restou apenas o eco da tua ausência. Talvez meu erro tenha sido
amar demais, entregar-me inteiro a um sentimento que não podia ser contido.
Talvez
eu tenha acreditado que o amor, por si só, poderia desafiar as leis do tempo e
do destino. Mas o adeus aconteceu, silencioso e definitivo, como o último
suspiro de uma tarde que se desvanece no crepúsculo.
Outras
tardes vieram, cada uma mais silenciosa que a anterior. O mar continuou sua
dança, as flores ainda enfeitavam os campos, mas eu... eu estava tão só.
Caminhava
pelas mesmas praias, sob o mesmo céu, mas o azul parecia desbotado, e as ondas
não mais cantavam para mim. Carregava no peito um vazio que pesava mais que o
mundo, e no entanto, em algum canto escondido da alma, ainda guardava a lembrança
de nós dois.
Hoje,
quando o vento sopra suave e o sol acaricia a terra, fecho os olhos e vejo
aquelas tardes. Elas vivem em mim, como um quadro que nunca envelhece, pintado
com as cores do que fomos.
E,
embora a solidão seja minha companhia agora, há uma estranha paz em saber que,
por um breve momento, o universo foi nosso. E que, de alguma forma, sempre
será.
Francisco
Silva Sousa - Foto: Pixabay.
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