Propaganda

domingo, agosto 17, 2025

A Tarde



Quando a tarde chegou, estávamos juntos, de mãos entrelaçadas como se o tempo pudesse ser nosso cúmplice. O céu se abriu em um azul infinito, um manto sem fim que abraçava o horizonte.

As águas do mar, revoltas e indomáveis, dançavam com fúria, mas ao tocarem a praia, transformavam-se em espuma suave, como se o próprio oceano quisesse nos oferecer sua poesia.

Os campos ao nosso redor eram um tapete de flores selvagens, pétalas vibrantes que pareciam pulsar com a vida da primavera. Era mais do que uma estação: a primavera da paixão florescia em nossos corações, aquecendo-nos com promessas de eternidade.

Naquelas tardes, o mundo parecia se dissolver, e nada mais existia além de um universo de paz, tecido pelos nossos olhares, silêncios e sorrisos.

Outras tardes vieram, trazendo consigo a brisa morna e o canto dos pássaros, mas também a sombra inevitável do efêmero. Alguns planos que construímos com tanto cuidado desmoronaram como castelos de areia, levados pelas ondas do destino.

Outros sonhos, porém, resistiram, gravados em memórias que o tempo não ousaria apagar. E, no fundo, o que realmente importava era simples e absoluto: éramos eu e você, duas almas entrelaçadas contra o vasto cenário do mundo.

Mas às vezes o mundo é ingrato, e os sonhos, frágeis como bolhas de sabão, estouram ao menor toque da realidade. Uma mão invisível nos sacudiu, arrancando-nos do devaneio.

Um raio feroz rasgou o azul imaculado do céu, partindo o véu da ilusão. Foi assim, num instante cruel, que o adeus se fez presente, frio e inevitável. Não me envergonho de confessar: chorei.

As lágrimas caíram como gotas de chuva em um deserto, tentando, em vão, regar o que já havia secado. A cortina do sonho desceu lentamente, e a porta da realidade se escancarou, trazendo com ela o vazio de uma tarde que não mais compartilhávamos.

Onde antes havia calor, restou apenas o eco da tua ausência. Talvez meu erro tenha sido amar demais, entregar-me inteiro a um sentimento que não podia ser contido.

Talvez eu tenha acreditado que o amor, por si só, poderia desafiar as leis do tempo e do destino. Mas o adeus aconteceu, silencioso e definitivo, como o último suspiro de uma tarde que se desvanece no crepúsculo.

Outras tardes vieram, cada uma mais silenciosa que a anterior. O mar continuou sua dança, as flores ainda enfeitavam os campos, mas eu... eu estava tão só.

Caminhava pelas mesmas praias, sob o mesmo céu, mas o azul parecia desbotado, e as ondas não mais cantavam para mim. Carregava no peito um vazio que pesava mais que o mundo, e no entanto, em algum canto escondido da alma, ainda guardava a lembrança de nós dois.

Hoje, quando o vento sopra suave e o sol acaricia a terra, fecho os olhos e vejo aquelas tardes. Elas vivem em mim, como um quadro que nunca envelhece, pintado com as cores do que fomos.

E, embora a solidão seja minha companhia agora, há uma estranha paz em saber que, por um breve momento, o universo foi nosso. E que, de alguma forma, sempre será.

Francisco Silva Sousa - Foto: Pixabay.

0 Comentários: