Crise em Maceió: Risco de Colapso de Mina de Sal-Gema Ameaça População
Maceió,
capital de Alagoas, enfrenta, desde o final de novembro de 2023, uma crise de
proporções alarmantes devido ao risco iminente de colapso de uma mina de
exploração de sal-gema operada pela empresa Braskem.
Há
cinco dias, a cidade vive sob tensão, com milhares de moradores de cinco
bairros - Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol - sendo forçados
a evacuar suas residências após alertas emitidos pela Defesa Civil.
O
problema, que teve início em 2018 com o surgimento de rachaduras em casas, ruas
e prédios, é atribuído à instabilidade geológica causada pela mineração de
sal-gema, conforme apontado por relatórios do Serviço Geológico do Brasil
(CPRM).
Origem da Crise
A
mineração de sal-gema, realizada pela Braskem desde a década de 1970, é
apontada como a principal responsável pela desestabilização do solo na região.
O
processo de extração, feito por lavra por solução - que envolve a injeção de
água para dissolver o sal e extrair a salmoura -, teria causado o colapso de
cavidades subterrâneas, resultando em subsidência (afundamento do terreno).
Segundo
a CPRM, a área afetada já afundou cerca de dois metros, e cinco tremores de
terra foram registrados apenas em novembro de 2023, intensificando os temores
de um colapso total da mina.
A
instabilidade ameaça não apenas a segurança dos moradores, mas também a
infraestrutura urbana, com rachaduras em escolas, hospitais e vias públicas.
A
Defesa Civil de Maceió emitiu um alerta crítico em 29 de novembro de 2023, após
monitoramento indicar um aumento significativo na movimentação do solo.
Desde
então, mais de 60 mil pessoas foram retiradas de suas casas, em uma operação
marcada por angústia e incerteza. Muitas famílias, especialmente de comunidades
socioeconomicamente vulneráveis, perderam seus bens e enfrentam dificuldades
para se realocar, enquanto aguardam indenizações e soluções da Braskem e das
autoridades.
Impactos Socioambientais
O caso
de Maceió é considerado um dos maiores desastres socioambientais urbanos do
Brasil. Além do impacto imediato na vida de milhares de moradores, o
afundamento do solo ameaça o ecossistema local, incluindo a Lagoa Mundaú, que pode
ser contaminada caso ocorra um colapso total da mina.
O dano
ambiental e econômico é estimado em bilhões de reais, com prejuízos que vão
desde a desvalorização de imóveis até a interrupção de atividades comerciais e
industriais na região.
A crise
também reacende debates sobre a responsabilidade corporativa e a exploração
desenfreada de recursos naturais. Organizações ambientalistas e movimentos
sociais classificam o episódio como mais um “crime contra a natureza e as
populações mais pobres”, exigindo maior rigor na fiscalização de atividades
minerárias e reparação integral às vítimas.
O Sal-Gema: Características e Usos
O
sal-gema, ou halita, é um mineral composto principalmente por cloreto de sódio
(NaCl), frequentemente acompanhado de cloretos de potássio e magnésio.
Classificado
como uma rocha sedimentar quimiogênica do tipo evaporito, ele se forma pela
precipitação de sais em ambientes de baixa profundidade, como antigas bacias
marinhas, devido à evaporação de água salgada.
No caso
de Maceió, as jazidas de sal-gema estão localizadas em camadas subterrâneas,
exploradas por métodos como a lavra por solução, que dissolve o mineral para
extração, ou por lavra subterrânea convencional.
O
sal-gema é essencial para diversas indústrias. Na produção química, serve como
matéria-prima para a obtenção de cloro, ácido clorídrico, soda cáustica e
bicarbonato de sódio, utilizados em setores como vidro, papel, celulose,
higiene (sabões, detergentes, pastas de dente), farmacêutico, têxtil,
agricultura (fertilizantes e corretivos de solo) e até na indústria bélica.
Na
alimentação, é consumido diretamente ou como veículo para suplementação de
iodo, combatendo deficiências nutricionais em populações distantes do litoral.
Em
regiões de clima frio, a mistura de sal-gema com cloreto de cálcio é amplamente
usada para derreter neve e gelo em estradas. No Brasil, a produção de sal
marinho, obtido por evaporação direta da água do mar, é comum em regiões
tropicais como o Nordeste, onde a radiação solar favorece o processo.
Já o
sal-gema, extraído de depósitos subterrâneos, é mais comum em contextos
industriais, como o da Braskem em Maceió.
Perspectivas e Desafios
A crise
em Maceió expõe a necessidade de revisão das práticas de mineração e de maior
transparência nas operações industriais. A Braskem, uma das maiores
petroquímicas da América Latina, enfrenta críticas pela demora em reconhecer a
gravidade do problema e por insuficiências no plano de reparação às vítimas.
Até o
momento, a empresa anunciou o fechamento de poços e a suspensão das atividades
de mineração na região, mas a instabilidade do solo persiste, e não há previsão
para a estabilização completa da área.
Para os
moradores, o futuro é incerto. Muitos relatam traumas psicológicos, perda de
laços comunitários e dificuldades financeiras. Organizações como o Movimento
dos Atingidos pela Mineração (MAM) e a Defensoria Pública de Alagoas têm
pressionado por justiça, exigindo não apenas indenizações, mas também a
recuperação ambiental da região e garantias de que desastres semelhantes não se
repitam.
Conclusão
O caso
de Maceió é um alerta sobre os riscos da exploração mineral sem planejamento
adequado e fiscalização rigorosa. A combinação de negligência corporativa,
impactos socioambientais e a vulnerabilidade das populações afetadas evidencia
a urgência de políticas públicas que priorizem a segurança e o bem-estar das
comunidades.
Enquanto
a cidade aguarda uma solução, a solidariedade e a mobilização social tornam-se
fundamentais para apoiar as vítimas e cobrar responsabilidades. Fonte Adaptada:
BBC Brasil, Serviço Geológico do Brasil (CPRM), e relatórios técnicos sobre
sal-gema.