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sexta-feira, julho 19, 2024

Guerra de Canudos - Filme sobre o Movimento religioso liderado por Antônio Conselheiro


 

Guerra de Canudos: Um Retrato da Resistência e da Tragédia Sertaneja

A Guerra de Canudos (1896–1897) foi um dos episódios mais marcantes e trágicos da história brasileira, um conflito civil que expôs as profundas desigualdades sociais e a negligência do poder público no sertão nordestino.

Este movimento, liderado pelo carismático e controverso Antônio Conselheiro, foi retratado de forma poderosa no filme brasileiro Guerra de Canudos (1997), do gênero drama, dirigido por Sérgio Rezende.

Com um orçamento de cerca de 6 milhões de dólares e quase quatro anos de produção, o longa é uma adaptação cinematográfica que mergulha na complexidade histórica e humana desse conflito, apresentando-o tanto como uma luta de resistência quanto como uma tragédia inevitável.

O filme, que contou com atuações memoráveis de José Wilker (como Antônio Conselheiro), Cláudia Abreu (Luíza), Paulo Betti (Zé Lucena), Marieta Severo (Penha) e Selton Mello (Tenente Luís Gama), foi um marco no cinema brasileiro.

Além de sua exibição nos cinemas, foi adaptado como uma minissérie exibida pela Rede Globo entre 16 e 19 de dezembro de 1997, em quatro capítulos. Essa foi a primeira vez que a emissora transformou um longa-metragem em minissérie, um formato que se tornaria mais comum nos anos seguintes.

A produção também ganhou notoriedade por contar com a participação, como figurante, do jovem Daniel Alves, futuro craque do futebol, que, na época, viu na gravação uma oportunidade de ganhar alguns reais e alimentação no sertão baiano.

O Contexto Histórico

No final do século XIX, o Nordeste brasileiro vivia um cenário de extrema precariedade. Secas devastadoras, fome, miséria, violência endêmica e abandono político castigavam a população, especialmente os mais pobres.

A Proclamação da República, em 1889, trouxe mudanças que nem todos acolheram bem. A introdução do casamento civil, a cobrança de impostos e a secularização do Estado foram vistas por muitos sertanejos como afrontas aos valores tradicionais e religiosos.

Nesse contexto de desespero e desamparo, surgiu Antônio Conselheiro, um beato que, após anos peregrinando pelo sertão, tornou-se uma figura messiânica para milhares de nordestinos.

Antônio Conselheiro acreditava ter sido enviado por Deus para combater as injustiças sociais e os "pecados" da jovem República. Ele pregava a igualdade, condenava a opressão dos poderosos e prometia uma sociedade mais justa, inspirada em princípios cristãos.

Em 1893, ele e seus seguidores fundaram o povoado de Belo Monte, em Canudos, no sertão da Bahia, uma comunidade autossuficiente que atraía sertanejos, ex-escravizados, jagunços e outros marginalizados.

Para o governo republicano, no entanto, Canudos representava uma ameaça: rumores de que Conselheiro planejava restaurar a monarquia e desafiar a ordem republicana alimentaram a paranoia das elites.

A Guerra e o Filme

O conflito teve início em novembro de 1896, quando uma expedição militar foi enviada para reprimir os "fanáticos" de Canudos. Subestimando a resistência dos conselheiristas, as forças do governo sofreram derrotas humilhantes em emboscadas organizadas pelos jagunços, que conheciam bem o terreno árido e hostil do sertão.

O governo da Bahia, incapaz de conter o movimento, pediu apoio ao governo federal, liderado pelo presidente Prudente de Morais. Até outubro de 1897, quatro expedições militares foram enviadas, culminando na destruição total de Canudos e no massacre de milhares de seus habitantes, incluindo mulheres, crianças e idosos.

O filme de Sérgio Rezende retrata essa tragédia sob a perspectiva de uma família sertaneja dividida. Zé Lucena (Paulo Betti) e Penha (Marieta Severo), fervorosos seguidores de Antônio Conselheiro, decidem abandonar tudo para se juntar à comunidade de Belo Monte.

Sua filha mais velha, Luíza (Cláudia Abreu), rejeita a peregrinação e as ideias do beato, optando por seguir seu próprio caminho. Em um ato de rebeldia, ela foge de casa e, para sobreviver, acaba se tornando prostituta, vivendo de forma independente, mas marcada pela solidão e pela violência do sertão.

Enquanto Luíza enfrenta suas próprias batalhas, sua família tenta resistir em Canudos, onde a situação se agrava com os ataques do Exército. A fome força os moradores a comerem qualquer animal que encontram, e a fé em Conselheiro é testada diante do cerco implacável.

O filme intercala cenas de combates intensos, com emboscadas dos jagunços contra os soldados, e momentos de profunda humanidade, como as orações coletivas dos conselheiristas e os conflitos internos de Luíza.

A Jornada de Luíza

A narrativa ganha contornos ainda mais dramáticos com a trajetória de Luíza. Após a morte de seu marido, Arimateia (Tuca Andrade), ela se envolve com soldados, usando sua posição para sobreviver.

Um dos militares, o tenente Luís Gama (Selton Mello), apaixona-se por ela, e Luíza, apesar de sua desconfiança inicial, também se deixa envolver por ele. No entanto, o destino a coloca novamente frente a frente com Canudos.

Após a morte brutal de sua mãe, Penha, assassinada durante o conflito, Luíza decide lutar ao lado dos conselheiristas, movida por um misto de culpa, raiva e lealdade à sua origem.

Em uma das cenas mais impactantes do filme, Luíza, agora imersa na resistência, acaba matando o próprio amante, o tenente Luís Gama, durante um confronto.

Esse ato simboliza o trágico destino de Canudos, onde laços pessoais são destruídos pela violência e pela guerra. O filme termina com uma imagem poderosa: Luíza e sua irmã mais nova, únicas sobreviventes da família, rezam entre os destroços fumegantes de Belo Monte, cercadas por corpos e ruínas, em um lamento silencioso pela perda de tudo o que conheciam.

Curiosidades e Impacto

Um detalhe curioso da produção é a participação de Daniel Alves, então um jovem de Juazeiro, como figurante. Em entrevistas anos depois, o jogador relembrou com humor sua experiência: “Eles precisavam de figurantes, e pagavam R$ 5 ou R$ 10 por dia, além de comida. Era uma oportunidade que ninguém queria perder. Apareci no filme, mas duvido que alguém me reconheça no meio da multidão!”

Essa história reflete o impacto da produção na região, que mobilizou comunidades locais e deixou um legado cultural.

O filme também se destaca por sua reconstrução histórica, com cenários que retratam fielmente o sertão baiano, e pela trilha sonora, que reforça a tensão e a melancolia da narrativa.

A atuação de José Wilker como Antônio Conselheiro é especialmente marcante, capturando a dualidade do líder: um homem de fé inabalável, mas cuja visão utópica conduziu seus seguidores a um fim trágico.

Reflexão

Guerra de Canudos não é apenas um filme sobre um conflito histórico; é um retrato das desigualdades que persistem no Brasil e da força de uma comunidade que, apesar de derrotada, resistiu até o fim por seus ideais.

A história de Luíza reflete as escolhas difíceis impostas pela miséria e pela guerra, enquanto Antônio Conselheiro simboliza a busca por esperança em meio ao abandono.

O filme nos convida a refletir: quantas “Canudos” ainda existem, onde a fé e a resistência são as únicas armas contra a opressão?

Universo 25



  

O experimento "Universo 25" é considerado um dos estudos mais intrigantes e inquietantes da história da ciência, oferecendo uma análise do comportamento de uma colônia de camundongos como uma metáfora para explorar dinâmicas de sociedades humanas.

Conduzido pelo etólogo americano John B. Calhoun, o experimento buscava compreender como a superpopulação e a abundância de recursos afetam o comportamento social e a sustentabilidade de uma comunidade.

A Criação do "Paraíso dos Ratos"

Na década de 1960, Calhoun projetou um ambiente utópico para roedores, conhecido como "Universo 25". Esse espaço, cuidadosamente construído, oferecia condições ideais: comida e água ilimitadas, ausência de predadores, temperatura controlada e amplo espaço para moradia.

O experimento começou com a introdução de quatro pares de camundongos, que rapidamente se adaptaram ao ambiente e iniciaram um processo de reprodução acelerada.

Nos primeiros meses, a população cresceu exponencialmente, dobrando a cada 55 dias. Tudo parecia perfeito, com os camundongos vivendo em um ambiente sem escassez ou ameaças externas.

No entanto, após cerca de 315 dias, quando a população atingiu aproximadamente 600 indivíduos, sinais de desequilíbrio começaram a surgir.

O Declínio Social

Com o aumento da densidade populacional, uma hierarquia social rígida emergiu. Camundongos dominantes, geralmente machos maiores, começaram a monopolizar recursos como espaço e acesso às fêmeas, marginalizando os mais fracos.

Esses roedores subordinados, que Calhoun chamou de "desgraçados", eram frequentemente atacados e excluídos, sofrendo estresse crônico. Como resultado, muitos machos começaram a exibir sinais de colapso psicológico, como apatia e comportamentos erráticos.

As fêmeas, por sua vez, também foram afetadas. Sob pressão social e sem a proteção dos machos dominantes, muitas se tornaram agressivas, inclusive com seus próprios filhotes, negligenciando cuidados maternos essenciais.

A taxa de natalidade despencou, enquanto a mortalidade entre os filhotes aumentava drasticamente, muitas vezes devido a abandono ou ataques diretos.



A Ascensão dos "Ratos Bonitos"

Um fenômeno particularmente curioso foi o surgimento de uma nova classe de machos, apelidados por Calhoun de "ratos bonitos". Esses camundongos se recusavam a competir por espaço, acasalar ou defender territórios.

Em vez disso, dedicavam-se exclusivamente a atividades como comer, dormir e cuidar da própria aparência, evitando conflitos ou interações sociais significativas. Enquanto isso, muitas fêmeas começaram a se isolar, vivendo em ninhos solitários e rejeitando qualquer comportamento reprodutivo.

Com o tempo, os "ratos bonitos" e as "fêmeas isoladas" passaram a representar a maioria da colônia. A reprodução praticamente cessou, e a população entrou em declínio irreversível.

Mesmo com abundância de recursos, a sociedade dos camundongos colapsava devido à perda de comportamentos cooperativos e reprodutivos.

As Fases da Morte

Calhoun descreveu o colapso em duas fases distintas: a "primeira morte" e a "segunda morte". A primeira morte referia-se à perda de propósito social, na qual os camundongos sobreviviam, mas sem motivação para acasalar, criar filhotes ou desempenhar papéis ativos na colônia.

A segunda morte era literal: a extinção da população. A mortalidade juvenil atingiu 100%, e a reprodução chegou a zero. Observaram-se também comportamentos extremos, como homossexualidade (em um contexto de desvio das normas reprodutivas) e canibalismo, apesar da abundância de comida.

Em 1973, cerca de dois anos após o início do experimento, o último filhote nasceu, e a colônia entrou em colapso total. O último camundongo morreu pouco depois.

Calhoun repetiu o experimento 25 vezes, com diferentes configurações, mas os resultados foram consistentes: todas as colônias atingiram o mesmo destino de extinção.

Contexto e Implicações

O experimento "Universo 25" foi projetado para simular condições de superpopulação em um ambiente de recursos abundantes, refletindo preocupações de Calhoun sobre o impacto do crescimento populacional humano em áreas urbanas.

Ele acreditava que a densidade extrema poderia levar a um "colapso comportamental", onde as estruturas sociais se desintegram, mesmo em condições de abundância.

O trabalho de Calhoun tornou-se um ponto de referência em estudos de sociologia, psicologia e urbanismo, sendo frequentemente citado em discussões sobre o impacto da superpopulação, estresse social e alienação.

Contudo, suas conclusões também geraram controvérsias, especialmente quando extrapoladas diretamente para sociedades humanas. Críticos argumentam que os paralelos com humanos são limitados, já que camundongos não possuem a complexidade cultural, tecnológica ou cognitiva das sociedades humanas.

Paralelos com a Sociedade Moderna

Embora o experimento seja uma simplificação, ele levanta questões sobre os efeitos do estresse social, isolamento e perda de propósito em comunidades densamente povoadas.

Alguns interpretam os "ratos bonitos" como uma metáfora para indivíduos que, em sociedades modernas, optam por estilos de vida individualistas, evitando compromissos sociais ou reprodutivos.

Da mesma forma, o aumento da agressividade e a negligência materna observados no experimento são comparados a tensões sociais em ambientes urbanos sobrecarregados.

No entanto, é importante abordar essas comparações com cautela. A sociedade humana é influenciada por fatores como cultura, economia, tecnologia e políticas públicas, que não têm equivalentes diretos no experimento.

Além disso, interpretações que atribuem características humanas específicas, como "homens fracos" ou "mulheres agressivas", podem simplificar demais a complexidade das dinâmicas sociais modernas e reforçar estereótipos.

Legado e Reflexões

O "Universo 25" permanece um experimento marcante, não apenas pelos resultados chocantes, mas por sua capacidade de provocar reflexões sobre o equilíbrio entre densidade populacional, recursos e bem-estar social.

Ele destaca a importância de papéis sociais, interações cooperativas e saúde mental para a sustentabilidade de uma comunidade. Embora não seja uma previsão literal do futuro humano, o estudo de Calhoun continua a inspirar debates sobre como projetar sociedades que promovam equilíbrio e resiliência em um mundo cada vez mais urbanizado.


Lyudmila Pavlichenko

  


Lyudmila Mikhailovna Pavlichenko nasceu em 12 de julho de 1916, na cidade de Bila Tserkva, localizada na Oblast de Kiev, Ucrânia, então parte da União Soviética.

Conhecida como uma das mais letais franco-atiradoras da história, ela desempenhou um papel crucial durante a Segunda Guerra Mundial, sendo creditada oficialmente com a eliminação de 309 soldados inimigos, incluindo 36 atiradores de elite e pelo menos 100 oficiais nazistas.

Há especulações de que seu número real de baixas pode ter sido ainda maior, possivelmente ultrapassando 500, o que a consagra até hoje como a franco-atiradora mais bem-sucedida da história militar.

Início da Vida e Interesse pelo Tiro

Aos 14 anos, Lyudmila mudou-se com sua família para Kiev, onde começou a demonstrar interesse pelo tiro esportivo. Ela se associou a um clube de tiro local, rapidamente se destacando como uma atiradora excepcional.

Antes de sua carreira militar, trabalhou em uma fábrica de armamentos em Kiev, o que a familiarizou com equipamentos bélicos. Em 1937, ingressou na Universidade de Kiev para estudar história, onde defendeu sua dissertação de mestrado sobre a vida de Bohdan Khmelnytsky, um líder cossaco que desempenhou um papel importante na história ucraniana.

A Segunda Guerra Mundial e a Escolha pelo Combate

Em junho de 1941, com 24 anos e no quarto ano de seus estudos universitários, Lyudmila viu sua vida mudar drasticamente quando a Alemanha Nazista iniciou a Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética.

Determinada a contribuir para a defesa de sua pátria, ela foi uma das primeiras a se voluntariar para o serviço militar. Apesar da possibilidade de atuar como enfermeira, Lyudmila recusou categoricamente essa opção, insistindo em participar ativamente dos combates.

Após passar por um rigoroso processo de seleção, foi designada para a 25ª Divisão de Infantaria do Exército Vermelho, onde se tornou uma das cerca de 2.000 mulheres franco-atiradoras recrutadas pelo exército soviético. Dessas, apenas aproximadamente 500 sobreviveriam à guerra.

Lyudmila começou sua trajetória como atiradora de elite nas proximidades de Belyayevka, utilizando um rifle de ferrolho Mosin-Nagant equipado com uma luneta, arma comum entre os atiradores de elite soviéticos, como Roza Shanina e Vasily Zaitsev.

Sua primeira vítima confirmada marcou o início de uma carreira militar lendária. Durante cerca de dois meses e meio em Odessa, Lyudmila eliminou 187 soldados inimigos, demonstrando notável habilidade e coragem.

Combates em Sebastopol e Reconhecimento

Quando as forças alemãs tomaram Odessa, a unidade de Lyudmila foi evacuada pelo Mar Negro para Sebastopol, na Península da Crimeia, onde ela continuou a lutar em condições extremamente adversas.

Em maio de 1942, já promovida a tenente, foi condecorada por sua contagem de 257 mortes confirmadas. Sua precisão e paciência eram notáveis: Lyudmila frequentemente trabalhava com um observador, posicionando-se a 200-300 metros à frente de sua unidade, permanecendo imóvel por até 18 horas em condições extremas, como frio intenso ou calor escaldante, para evitar ser detectada.

Em junho de 1942, durante os intensos combates em Sebastopol, Lyudmila foi gravemente ferida por estilhaços de um morteiro. Após quase um mês de recuperação, sua fama já havia se espalhado, e o comando soviético decidiu retirá-la da linha de frente, temendo que sua morte pudesse ser explorada como propaganda pelos nazistas.

Em vez de retornar ao combate, ela foi enviada em uma missão diplomática para o Canadá e os Estados Unidos, onde se tornou o primeiro cidadão soviético recebido pelo presidente americano Franklin D. Roosevelt na Casa Branca.

Viagem aos Estados Unidos e Impacto Internacional

Durante sua visita aos EUA, Lyudmila foi convidada pela primeira-dama Eleanor Roosevelt para um tour pelo país, compartilhando suas experiências de combate e inspirando apoio à luta contra o nazismo.

Sua presença cativou o público americano, embora ela tenha enfrentado perguntas sexistas da imprensa, como comentários sobre sua aparência ou vestimenta, que ela respondeu com firmeza, enfatizando seu papel como soldado.

Como reconhecimento, recebeu uma pistola Colt semiautomática nos EUA e um rifle Winchester no Canadá, este último hoje exposto no Museu Central das Forças Armadas em Moscou.

Carreira Pós-Combate e Legado

Promovida a major, Lyudmila nunca mais voltou à linha de frente. Em vez disso, tornou-se instrutora de atiradores de elite, treinando dezenas de snipers soviéticos que desempenharam papéis cruciais até o fim da guerra.

Em 1943, sua bravura foi reconhecida com a Estrela de Ouro de Herói da União Soviética, uma das maiores condecorações do país, e sua imagem foi imortalizada em um selo comemorativo.

Seu rifle preferido durante a guerra foi o Tokarev SVT-40 semiautomático, que ela considerava mais versátil que o Mosin-Nagant. Após o término da guerra em 1945, Lyudmila concluiu seus estudos na Universidade de Kiev e iniciou uma carreira como historiadora.

Entre 1945 e 1953, trabalhou como assistente de pesquisas no Quartel-General da Marinha Soviética. Mais tarde, integrou o Comitê Soviético de Veteranos da Guerra, onde continuou a compartilhar sua experiência e a inspirar novas gerações. Em 1976, dois anos após sua morte, sua imagem apareceu novamente em selos comemorativos, reforçando seu status como ícone nacional.

Vida Pessoal e Morte

Lyudmila faleceu em 10 de outubro de 1974, aos 58 anos, em Moscou, vítima de um acidente vascular cerebral. Foi sepultada com honras no Cemitério Novodevichy, um dos mais prestigiosos da Rússia. Dois anos depois, em 1976, um navio cargueiro ucraniano foi batizado em sua homenagem, perpetuando seu legado.

Impacto e Relevância

A história de Lyudmila Pavlichenko transcende suas façanhas militares. Como mulher em um papel predominantemente masculino, ela desafiou estereótipos de gênero e demonstrou que coragem e habilidade não têm sexo.

Sua determinação em combater na linha de frente, sua resiliência sob pressão e sua influência diplomática durante a guerra a tornaram uma figura inspiradora. Além disso, sua trajetória destaca o papel crucial das mulheres no Exército Vermelho, muitas vezes negligenciado em narrativas históricas.

Lyudmila também foi tema de livros, filmes e documentários, como o filme russo Battle for Sevastopol (2015), que retrata sua vida e contribuições. Sua história continua a inspirar não apenas na Ucrânia e na Rússia, mas em todo o mundo, como um símbolo de bravura, sacrifício e resistência frente à adversidade.

quinta-feira, julho 18, 2024

A Criação do Universo


A criação do Universo, conforme está escrita na Bíblia, tem um jeitão meio simplista, quase como uma historinha que a gente contaria pra acalmar uma criança antes de dormir.

É tudo tão mágico, tão instantâneo: um estalar de dedos divino e, pá, surge a luz. Mais um aceno celestial e, tchã, aparecem as trevas, os mares, as montanhas, os bichos e, como o gran finale de um show de mágica, o ser humano.

É uma narrativa tão direta, tão poética, que parece até o roteiro de um desenho animado ou o número de um mágico tirando um coelho da cartola. Não é difícil entender por que essa história pegou tão forte por séculos.

Ela é redondinha, resolve tudo num passe de varinha e dá um conforto danado pra quem busca respostas prontas. Mas, quando a gente para pra pensar, fica aquele gostinho de “é só isso mesmo?”.

Eu, particularmente, me inclino mais pra ideia de que o Universo não nasceu de um truque divino, mas de um processo longo, tortuoso, cheio de idas e vindas.

Não é uma criação do nada, como se alguém tivesse ligado um interruptor cósmico, mas uma transformação lenta, bagunçada, com matéria se mexendo, se chocando, se desfazendo e virando outra coisa.

A ciência, com toda a sua confusão de hipóteses, buracos teóricos e perguntas sem resposta, me parece mais honesta do que uma explicação tão certinha.

Pensa só: o Big Bang, aquele momento em que tudo era uma sopa quente e densa, explodindo e se espalhando em todas as direções. Depois, bilhões de anos de gás e poeira se juntando pra formar estrelas, galáxias girando como discos cósmicos, planetas esfriando e, num canto qualquer, a vida surgindo aos poucos num caldo primordial.

Não tem o glamour de um “faça-se a luz”, mas tem uma lógica que conversa melhor com o que a gente observa no céu e no chão. E tem mais: o Universo não é só sobre criar, é sobre destruir também.

O caos é tão essencial quanto a ordem nessa dança cósmica. Estrelas nascem em explosões violentas e morrem em colapsos catastróficos, espalhando seus restos pra formar novos astros.

Galáxias se chocam, despedaçando sistemas inteiros pra criar outros. Aqui na Terra, os dinossauros são o exemplo perfeito disso. Sem aquele asteroide - ou o que quer que tenha varrido eles do mapa há 66 milhões de anos -, a história seria completamente diferente.

Os mamíferos, que eram só uns bichinhos miúdos tremendo nas sombras, nunca teriam tido espaço pra evoluir. A gente, que tá aqui batendo esse papo, é fruto direto de uma catástrofe.

Isso me faz pensar que o Universo é uma mistura de construção e ruptura, como se cada passo pra frente exigisse que algo fosse despedaçado antes.

Essa ideia de caos como motor da evolução é fascinante. Pensa num vulcão: ele destrói tudo ao redor, mas a lava que esfria vira solo fértil, onde a vida explode de novo.

Ou nas placas tectônicas, que se chocam, derrubam montanhas e criam outras. Até no nosso corpo, isso acontece - células morrem o tempo todo pra dar lugar a novas.

O Universo parece funcionar assim: nada é eterno, tudo se transforma, e muitas vezes essa transformação vem com uma dose generosa de bagunça. A narrativa bíblica, com sua ordem divina e criação impecável, não dá muito espaço pra esse vaivém.

É como se Deus tivesse desenhado tudo com régua e compasso, sem deixar margem pro erro ou pro imprevisto. Mas o mundo real, com suas cicatrizes cósmicas e terrestres, conta uma história bem mais desajeitada - e, pra mim, mais interessante.

Outra coisa que me pega é como a ciência abraça o mistério, enquanto a narrativa bíblica parece querer eliminá-lo. A ciência não tem vergonha de dizer “não sei”. O Big Bang? A gente tem uma ideia do que aconteceu, mas o que veio antes, se é que tinha um “antes”, é um baita ponto de interrogação.

A vida? Sabemos que ela surgiu, mas o exato momento em que uma sopa química virou algo que pulsa e se reproduz ainda é um enigma. A Bíblia, por outro lado, com toda a certeza que carrega, oferece um conforto pra quem prefere respostas definitivas.

Só que, pra mim, esse conforto vem com um preço: ele fecha a porta pro assombro, praquele frio na espinha que dá quando a gente encara o tamanho do desconhecido.

E tem mais um ponto que acho que enriquece essa reflexão: o tempo. Na Bíblia, tudo acontece em seis dias, como se o Universo pudesse ser montado numa semana de trabalho.

Mas o tempo cósmico é outra história. São 13,8 bilhões de anos desde o Big Bang, com eventos que demoram eras pra se desenrolar. Estrelas levam milhões de anos pra nascer e morrer.

A Terra levou bilhões de anos pra esfriar, formar oceanos e abrigar vida. Até a evolução humana, que parece rapidinha perto disso tudo, levou milhões de anos de tentativa e erro.

Esse tempo profundo, essa paciência do Universo, é algo que a narrativa bíblica não captura. Ela é apressada, quer tudo pronto logo. Mas o Universo real é mais como um artesão teimoso, que refaz a obra mil vezes até acertar - ou até decidir que o “acerto” é só uma etapa pra próxima ruptura.

No fim, acho que o pulo do gato tá aí: a ideia de criar algo do nada é bonita na poesia, mas não cola com o que a gente vê no mundo. Tudo vem de algum lugar.

A semente vira árvore, o rio corta a pedra, o pó estelar vira planeta, e até a gente veio de uma longa cadeia de acasos, catástrofes e transformações. A ciência não explica tudo, e às vezes tropeça feio, mas pelo menos ela tem a coragem de encarar o caos e dizer: “tá, isso aqui é uma bagunça, mas vamos tentar entender”.

Eu prefiro essa honestidade, mesmo que ela venha com mais perguntas do que respostas. E, no fundo, acho que o mistério é o que faz essa história toda valer a pena. É ele que nos faz olhar pro céu e pensar: “caramba, como é que a gente chegou aqui?”.

E você, o que acha dessa bagunça cósmica toda? Acha que o caos e a destruição são mesmo o tempero que dá graça à evolução, ou prefere uma história mais arrumadinha, como a da Bíblia?

 Francisco Silva Sousa - Foto: Pixabay             

Czeslawa Kwoka - Vítima de Auschwitz



Czesława Kwoka nasceu em 15 de agosto de 1928, na pequena vila de Wólka Złojecka, na Polônia, uma região rural marcada pela simplicidade e pela forte influência da fé católica.

Czesława e sua mãe, Katarzyna Kwoka, eram católicas romanas, um grupo que, junto com judeus, ciganos, homossexuais e outros, foi alvo da perseguição sistemática do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

O Partido Nazista, sob a liderança de Adolf Hitler, considerava qualquer grupo ou instituição que não estivesse sob seu controle absoluto - como a Igreja Católica em áreas da Polônia - uma ameaça à sua ideologia totalitária.

Essa intolerância levou à prisão e deportação de milhares de poloneses, incluindo Czesława e sua mãe. Em 13 de dezembro de 1942, Czesława, então com apenas 14 anos, foi deportada para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em Oświęcim, junto com outras 318 mulheres.

Sua mãe, Katarzyna, também foi levada para o mesmo campo, onde enfrentariam condições desumanas de fome, trabalho forçado e violência. Katarzyna faleceu em 18 de fevereiro de 1943, menos de dois meses após sua chegada, vítima das brutalidades do campo.

Czesława, agora sozinha, tornou-se uma das muitas crianças que sofreram a perda de familiares e a violência implacável do Holocausto. Logo após sua chegada a Auschwitz, Czesława foi fotografada pelo prisioneiro polonês Wilhelm Brasse, um fotógrafo que, sob coação dos nazistas, foi obrigado a registrar imagens de prisioneiros para os arquivos do campo.

As fotografias de Brasse, tiradas de frente e de perfil, eram parte do processo burocrático nazista para documentar os prisioneiros antes de submetê-los ao trabalho forçado, experimentos médicos ou execução.

As imagens de Czesława, em particular, capturaram sua expressão de medo e confusão, um testemunho silencioso do terror vivido por uma adolescente arrancada de sua vida e confrontada com a crueldade inimaginável.

Wilhelm Brasse, em uma entrevista anos depois ao correspondente da BBC Fergal Keane, descreveu vividamente o momento em que fotografou Czesława:
"Ela era tão jovem e tão aterrorizada. A garota não entendia por que estava ali e não conseguia compreender o que lhe diziam. Uma mulher Kapo, uma supervisora prisioneira, pegou um pedaço de pau e bateu no rosto dela.

Aquela mulher alemã estava descarregando sua raiva na menina. Uma menina tão bonita, tão inocente. Ela chorou, mas não podia fazer nada. Antes da foto ser tirada, Czesława secou as lágrimas e o sangue do corte no lábio.

Para ser honesto, senti como se eu mesmo estivesse sendo atingido, mas não podia interferir. Teria sido fatal para mim."

Apenas três meses após sua chegada, em 12 de março de 1943, Czesława Kwoka foi assassinada com uma injeção letal de fenol no coração, uma prática comum em Auschwitz para eliminar prisioneiros considerados "inúteis" ou que não suportavam mais as condições do campo.

Sua morte, aos 14 anos, foi uma das cerca de 230.000 crianças e adolescentes assassinadas em Auschwitz, um número que reflete a escala da brutalidade nazista contra os mais vulneráveis.

Antes da libertação do campo pelos Aliados em janeiro de 1945, os nazistas ordenaram a destruição de todos os registros fotográficos para apagar as evidências de seus crimes. No entanto, Wilhelm Brasse, em um ato de coragem, conseguiu esconder e preservar algumas das fotografias, incluindo as de Czesława.

Essas imagens sobreviveram como um testemunho poderoso dos horrores do Holocausto, garantindo que as vítimas, como Czesława, não fossem esquecidas.

No 75.º aniversário de sua morte, em 2018, a artista brasileira Marina Amaral, natural de Minas Gerais, publicou uma versão colorida da fotografia de Czesława, junto com imagens de outros prisioneiros.

O trabalho de Amaral busca dar vida às faces em preto e branco, destacando a humanidade e a dor por trás de cada olhar. Ao colorir a fotografia de Czesława, Amaral revelou os hematomas em seu rosto, os traços de sua juventude e a expressão de medo que Brasse descreveu, trazendo uma nova camada de impacto visual ao horror do Holocausto.

O projeto de Amaral não apenas honra a memória das vítimas, mas também serve como um lembrete da importância de preservar a história para combater a negação do genocídio e a intolerância.

A história de Czesława Kwoka é um símbolo da tragédia vivida por milhões durante a Segunda Guerra Mundial. Sua fotografia, preservada contra todas as probabilidades, tornou-se um ícone da resiliência da memória humana diante da tentativa nazista de apagar suas vítimas.

Além disso, a violência sofrida por Czesława reflete o destino de muitos outros poloneses católicos, que, embora menos lembrados em comparação com as vítimas judaicas do Holocausto, também foram alvos da máquina de extermínio nazista.

Estima-se que cerca de 1,8 a 2 milhões de poloneses não judeus foram mortos durante a ocupação alemã, muitos deles em campos como Auschwitz, usados não apenas para o genocídio de judeus, mas também para a eliminação de opositores políticos, intelectuais, religiosos e qualquer pessoa que desafiasse o regime.

Hoje, a fotografia de Czesława Kwoka é exibida em memoriais e museus, como o Museu Estatal de Auschwitz-Birkenau, e continua a inspirar reflexões sobre a fragilidade da vida, a crueldade do preconceito e a importância de preservar a memória histórica para garantir que tais atrocidades nunca se repitam.