Juliana
Marins, uma publicitária brasileira de 26 anos, natural de Niterói (RJ),
faleceu após um trágico acidente durante uma trilha no Monte Rinjani, o segundo
maior vulcão da Indonésia, localizado na ilha de Lombok.
O
incidente ocorreu na noite de sexta-feira, 20 de junho de 2025 (madrugada de
sábado, 21, no horário local), enquanto Juliana realizava uma trilha guiada
como parte de um mochilão pela Ásia, que já incluíra passagens por Filipinas,
Vietnã e Tailândia.
Formada
em Publicidade e Propaganda pela UFRJ e apaixonada por pole dance, Juliana
compartilhava em suas redes sociais a intensidade de suas experiências de
viagem, escrevendo em 29 de maio: “Fazer uma viagem longa sozinha significa que
o sentir vai sempre ser mais intenso e imprevisível do que a gente tá
acostumado. E tá tudo bem. Nunca me senti tão viva”.
Durante
a trilha, Juliana, que estava acompanhada por um guia local e outros turistas,
relatou cansaço e pediu para descansar. Segundo sua irmã, Mariana Marins, o
guia, identificado como Ali Musthofa, aconselhou-a a parar, mas seguiu adiante
com o grupo, deixando-a sozinha por um período que varia, conforme relatos,
entre três minutos (segundo o guia) e mais de uma hora (segundo a família).
Foi
nesse intervalo que Juliana tropeçou e caiu, escorregando por uma encosta
rochosa e íngreme, parando inicialmente a cerca de 300 metros abaixo da trilha.
Com o
passar dos dias, devido ao terreno instável e às condições climáticas adversas,
ela deslizou ainda mais, sendo localizada a aproximadamente 650 metros de
profundidade.
O
acidente deixou Juliana gravemente ferida, com uma fratura na perna e incapaz
de se movimentar. Sem acesso a água, comida, agasalhos ou óculos (ela tinha
miopia), ela enfrentou frio intenso, neblina e umidade em uma área remota entre
2.600 e 3.000 metros de altitude.
Três
horas após a queda, um grupo de turistas espanhóis a encontrou e tentou
contatar familiares pelas redes sociais, enviando fotos e vídeos que
confirmavam sua situação crítica.
A falta
de sinal de celular na região impossibilitou que Juliana acionasse socorro
diretamente, e a comunicação dependeu inteiramente de terceiros. As operações
de resgate enfrentaram inúmeros obstáculos.
O
terreno vulcânico, composto por rochas soltas e instáveis, aliado à condições
climáticas desfavoráveis, como neblina densa e chuvas intermitentes, dificultou
o acesso ao local.
Helicópteros
não puderam ser utilizados devido à baixa visibilidade e à ausência de
equipamentos específicos, como guinchos para resgates em áreas de difícil
acesso.
Equipes
de busca, incluindo voluntários e membros da Agência Nacional de Busca e
Resgate da Indonésia (Basarnas), levaram oito horas para serem notificadas do
acidente, devido à distância do local e à precariedade da comunicação.
Na
segunda-feira, 23 de junho, um drone com sensor térmico localizou Juliana, que
aparecia “visualmente imóvel” a 500 metros de profundidade, mas as equipes só
conseguiram alcançá-la na terça-feira, 24, quando foi constatada sua morte.
A
demora no resgate gerou indignação entre familiares, amigos e internautas. A
família de Juliana relatou que a empresa de turismo contratada forneceu
informações falsas, afirmando que o resgate estava em andamento quando, na
verdade, nada havia sido feito.
Vídeos
simulando a entrega de suprimentos também circularam, atrasando ainda mais a
mobilização. Nas redes sociais, figuras públicas como Felipe Neto e Tatá
Werneck expressaram revolta, apontando negligência por parte das autoridades
indonésias e a permissão de trilhas perigosas sem estrutura adequada para
emergências.
Um
usuário no X escreveu: “Juliana Marins morreu por negligência de um governo
incompetente, uma equipe de resgate despreparada e um guia que merece ser
penalizado por homicídio culposo!”.
O
perfil @resgatejulianamarins, criado para divulgar atualizações, alcançou 1,5
milhão de seguidores em quatro dias, evidenciando a comoção gerada pelo caso.
O
governo brasileiro, por meio da Embaixada em Jacarta, mobilizou autoridades
locais e enviou diplomatas para acompanhar as buscas. Em nota, o Itamaraty
lamentou a morte de Juliana e destacou as dificuldades impostas pelo terreno e
pelo clima.
Manoel
Marins, pai de Juliana, viajou de Lisboa para Bali, mas enfrentou atrasos
devido ao fechamento de aeroportos no Oriente Médio por conflitos regionais.
Após a
confirmação da morte, ele prestou uma homenagem comovente nas redes sociais,
compartilhando uma foto da filha com versos da música “Pedaço de Mim”, de Chico
Buarque: “Oh, pedaço de mim / Oh, metade arrancada de mim”.
O corpo
de Juliana foi localizado por um socorrista voluntário, Hafiz Hasadi, a 600
metros de profundidade na região de Cemara Nunggal. Devido às condições
climáticas, o içamento foi adiado para a manhã de quarta-feira, 25 de junho, às
6h no horário local (19h em Brasília), quando foi transportado por trilha até o
posto de Sembalun e, posteriormente, levado de helicóptero ao Hospital
Bhayangkara, em Mataram.
A
família organiza o translado do corpo ao Brasil, com assistência consular do
Itamaraty, embora os custos não possam ser cobertos por recursos públicos,
conforme decreto federal.
O caso
de Juliana Marins reacendeu o debate sobre a segurança em trilhas turísticas no
Monte Rinjani, conhecido por sua beleza, mas também por sua periculosidade.
Nos
últimos anos, o vulcão registrou outros acidentes fatais, como a morte de um
montanhista malaio em maio de 2025, um adolescente indonésio em 2024 e um jovem
israelense em 2022.
A
administração do Parque Nacional Gunung Rinjani fechou temporariamente o trecho
da trilha onde Juliana caiu, após críticas por permitir a passagem de turistas
durante as buscas.
A
tragédia expôs falhas na infraestrutura de resgate e na regulamentação de
atividades de aventura em destinos remotos, levantando questões sobre a
responsabilidade de empresas turísticas e governos locais.
Juliana
Marins deixou um legado de coragem e paixão por explorar o mundo. Sua história,
marcada por uma busca por vivências intensas, também serve como alerta para os
riscos de aventuras em ambientes extremos e para a necessidade de maior preparo
e responsabilidade em atividades turísticas.
Sua família agradeceu o apoio recebido: “Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio”. Enquanto enfrentam a dor da perda, a memória de Juliana permanece como um convite à reflexão sobre a fragilidade da vida e a importância de valorizar cada momento.
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