O
sofrimento causado pela perda de um amor, seja pela morte da pessoa amada, seja
pelo surgimento de um rival mais favorecido, é uma dor singular, incomparável a
qualquer outra.
Essa
angústia não se limita a ferir o indivíduo em sua existência pessoal, mas
atinge sua essência mais profunda, ligada à própria continuidade da vida e da
espécie.
Para
Arthur Schopenhauer, essa dor transcende o âmbito individual, pois está enraizada
na vontade universal - a força primordial que impulsiona a existência, segundo
sua filosofia.
A perda
amorosa, nesse sentido, não é apenas uma experiência pessoal, mas um confronto
com a frustração da vontade de viver, que busca perpetuar-se por meio do amor e
da procriação.
Schopenhauer,
em sua obra principal, O Mundo como Vontade e Representação (1819), argumenta
que o amor romântico, longe de ser apenas um sentimento sublime, é uma
manifestação da vontade da espécie, que utiliza os indivíduos como instrumentos
para garantir sua continuidade.
Quando
esse impulso é interrompido - pela morte, que aniquila a possibilidade de
união, ou por um rival, que redireciona o objeto do desejo - o sofrimento
resultante é devastador, pois vai além da perda de um indivíduo específico e
atinge o cerne da própria existência.
É uma
dor que ressoa no âmago metafísico do ser, como se a própria vida, em sua
essência, fosse negada. Além disso, Schopenhauer via o amor como uma ilusão
poderosa, capaz de ofuscar a razão e subordinar o indivíduo a um propósito
maior, muitas vezes inconsciente.
Quando
esse propósito é frustrado, a dor não é apenas emocional, mas existencial, pois
confronta o indivíduo com a futilidade de seus desejos frente à indiferença do
mundo.
Esse
sofrimento, para o filósofo, é um lembrete da condição trágica da existência
humana, marcada pela incessante busca da vontade por satisfação, uma busca que,
segundo ele, raramente encontra repouso.
Um
exemplo hipotético que ilustra esse conceito seria o de um jovem apaixonado
que, após anos de dedicação a uma relação, vê seu amor desmoronar pela chegada
de um rival ou pela tragédia da morte.
Essa
perda não é apenas a ausência de uma pessoa, mas a destruição de um projeto de
vida, de uma visão de futuro que parecia essencial à própria identidade do
indivíduo.
Schopenhauer
diria que essa dor é transcendente porque ecoa a luta da vontade universal
contra os limites impostos pela realidade.
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