Foi
assim que o Brasil começou... E continua. Continua… e continua... ad eternum.
Parece
ser o destino inevitável de um povo acomodado, ignorante, alienado e, pior,
acostumado a ser explorado e roubado em sua essência.
Nos
tempos em que os reis governavam com mãos de ferro, numa noite fria e escura de
dezembro, quando o mês já se encaminhava para as festas natalinas, o rei saiu à
varanda de seu palácio reluzente.
Olhando
para além dos muros, percebeu que a cidade lá embaixo estava mergulhada em
trevas, negra como o breu. Intrigado, chamou seu primeiro-ministro e, com voz
firme, decretou:
-
Antes do Natal, quero ver esta cidade toda iluminada. Aqui estão 500 cruzados.
Resolva isso imediatamente.
O
primeiro-ministro, sem perder tempo, convocou o presidente da câmara e passou
adiante a ordem real:
-
O rei exige que a cidade esteja completamente iluminada antes do Natal. Toma
aqui 250 cruzados e trata de resolver isso agora.
O
presidente da câmara, por sua vez, chamou o chefe da polícia e disse, com tom
de urgência:
-
O rei mandou iluminar toda a cidade para o Natal. Aqui estão 100 cruzados. Faz
isso acontecer imediatamente.
O
chefe da polícia, sem hesitar, publicou um edital severo que ecoou pelas ruas:
“Por ordem do rei, todas as casas e ruas devem instalar iluminação natalina
imediatamente. Quem desobedecer será enforcado sem piedade.”
Dias
depois, o rei retornou à varanda. Diante de seus olhos, a cidade brilhava como
um mar de estrelas, profusamente iluminada. Satisfeito, exclamou:
Que
espetáculo! Bendito seja o dinheiro que investi. Valeu cada cruzado!
Mas
o que o rei não viu - ou talvez tenha preferido ignorar - foi o rastro de mãos
que se encheram pelo caminho. Dos 500 cruzados iniciais, apenas uma fração
chegou ao povo, e a iluminação, embora bela, foi paga com o suor e o medo de
quem temia à forca, mais do que com o ouro do tesouro real.
E
assim, dizem, o Brasil começou a funcionar: uma cadeia de ordens, promessas e
recursos que se perdem entre os poderosos, enquanto o povo, refém das ameaças e
da necessidade, carrega o fardo de fazer brilhar o que os outros apenas mandam.
Séculos
se passaram, os reis viraram história, mas o enredo segue o mesmo - um ciclo de
ilusão, desperdício e obediência cega. Hoje, as luzes de Natal ainda enfeitam
as ruas, mas a escuridão da desigualdade e da corrupção continua a reinar
soberana.
E
eu, cá com meus botões, pergunto: haverá um dia em que o povo, cansado de ser
apenas o executor das ordens alheias, tomará os cruzados para si e iluminará
não só as ruas, mas também o futuro?
Por
enquanto, sigo sem esperança na mudança, mas com um fio de curiosidade sobre o
que poderia ser, se um dia ousássemos romper esse script tão antigo.
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