A União Soviética e
os Estados Unidos já haviam enviado animais vivos em voos
suborbitais. Três cães foram treinados para embarcar no Sputnik 2: Albina,
Mushka e Laika. Os cientistas soviéticos Vladimir Yazdovsky e Oleg
Gazenko, especializados em vida no espaço, treinaram os cães.
Para adaptar os
cães à pequena cabine do Sputnik 2, eles foram mantidos em gaiolas
progressivamente menores por períodos de até vinte dias. O extenso confinamento
fez com que parassem de urinar e defecar, os tornou inquietos e fez com que sua
condição geral se deteriorasse.
O uso de
laxantes não melhorou a condição dos animais, e os pesquisadores
descobriram que esse treinamento apenas se mostrava eficaz após longos
períodos. Os cães foram colocados em centrífugas, que simulavam a aceleração do
lançamento de foguetes, e em máquinas que simulavam os ruídos da nave.
Isso fez com que
seus impulsos cardíacos dobrassem e sua pressão arterial aumentasse de 30 a 60
Torr. Os cães também foram treinados para comer um gel especial de alta
nutrição, que seria sua comida no espaço.
Antes do
lançamento, Yazdovsky levou Laika para casa, para brincar com seus filhos. Em
um livro que conta a história da medicina espacial soviética, ele escreveu:
"Laika era quieta e encantadora [...] eu queria fazer algo de bom para
ela: ela tinha tão pouco tempo de vida".
Vladimir Yazdovsky
fez a seleção final dos cães e designou as funções que cada um desempenharia.
Laika seria o "cão de voo" – um sacrifício à ciência em uma missão
apenas de ida ao espaço.
Albina, que já
havia voado duas vezes em um foguete de teste de alta altitude, atuaria como a
substituta de Laika. O terceiro cão, Mushka, seria uma "cadela de
controle" – ela permaneceria na Terra e seria usada para testar a
instrumentação e o sistema de suporte à vida.
Antes de partirem
para o Cosmódromo de Baikonur, Yazdovsky e Gazenko realizaram uma cirurgia nos
cães, para conectar os cabos do transmissor aos sensores que mediam a sua
respiração, pulso e pressão sanguínea.
Como a pista de
pouso existente em Tyuratam, perto do cosmódromo, era pequena, os cães e a
equipe tiveram que voar a bordo de um avião Tu-104 para Tashkent. De lá,
um avião IIyushin II-14, menor e mais leve, os levou para Tyuratam.
O treinamento dos
cães continuou na chegada; um após o outro, eles foram colocados nas cápsulas
para se familiarizarem com o sistema de alimentação. Segundo um documento da
NASA, Laika foi colocada na cápsula da nave em 31 de outubro de 1957, três dias
antes do início da missão.
Naquela época do
ano as temperaturas no local de lançamento eram extremamente baixas e uma
mangueira conectada a um aquecedor era usada para manter a cabine
aquecida.
Dois assistentes
foram designados para monitorar constantemente Laika antes do lançamento. Pouco
antes da decolagem, em 3 de novembro, seu pelo foi limpo com uma solução a base
de etanol e cuidadosamente escovado, e iodo foi aplicado nas áreas em que
ela levava os sensores que monitorariam suas funções corporais.
Um dos técnicos que
preparava a cápsula antes da decolagem final declarou que "depois de
colocar Laika na cápsula, e antes de fechar a escotilha, beijamos seu nariz e
lhe desejamos boa viagem, sabendo que ela não sobreviveria ao voo".
A hora exata do
lançamento varia, de acordo com diferentes fontes, mas ocorreu entre 5h30min42
e 7h22min, no horário de Moscou. No pico da aceleração após a decolagem, a
respiração de Laika aumentou para três a quatro vezes a taxa de
pré-lançamento.
Os sensores
mostraram que sua frequência cardíaca era de 103 batimentos por minuto antes do
lançamento e aumentou para 240 batimentos por minuto durante a aceleração
inicial.
Após atingir a
órbita, a ponta cônica do Sputnik 2 foi descartada com sucesso; no entanto, o
núcleo do "Bloco A" não se separou conforme planejado, impedindo o
funcionamento correto do sistema de controle térmico.
Parte do isolamento
térmico se soltou, elevando a temperatura da cabine para 40 °C. A taxa de
pulso de Laika retornou para 102 batimentos por minuto após três horas de
microgravidade, tempo três vezes maior que aquele identificado em testes
anteriores e que serviu como indicação do estresse que a cadela estava
sofrendo.
A
telemetria inicial indicou que ela estava agitada, mas estava se
alimentando. Após aproximadamente cinco a sete horas de voo, sinais de
vida deixaram de ser recebidos da nave.
Os cientistas
soviéticos planejavam sacrificar Laika com uma porção de comida envenenada. Por
muitos anos, a União Soviética deu declarações conflitantes de que ela havia
morrido de asfixia quando as baterias falharam, ou que ela havia sido
sacrificada. Muitos rumores circularam sobre a maneira exata de sua morte.
Em 1999 várias
fontes russas relataram que Laika morreu quando a cabine superaqueceu, em sua
quarta órbita. Em outubro de 2002 o cientista Dimitri Malashenkov, que
participou do lançamento do Sputnik 2, revelou que Laika morreu de cinco a sete
horas após a decolagem, devido ao estresse e ao superaquecimento.
De acordo com um
artigo que ele apresentou ao Congresso Espacial Mundial em Houston, nos
Estados Unidos, "era praticamente impossível criar um controle de
temperatura confiável em tão pouco tempo".
Mais de cinco meses
depois, após 2,57 mil órbitas, o Sputnik 2, incluindo os restos de Laika, se
desintegrou durante sua reentrada na atmosfera, em 14 de abril de 1958.
Devido à questão
sombria da corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética,
as questões éticas levantadas por esse experimento praticamente não foram
atendidas por algum tempo.
A imprensa de 1957
estava mais preocupada em relatar o impacto de um ponto de vista político,
enquanto a saúde e a recuperação de Laika - ou ausência - se tornaram apenas um
problema menor.
O Sputnik 2 não foi
projetado para ser recuperável e sempre se teve o conhecimento de que Laika
morreria. A missão desencadeou um debate global sobre abuso e testes com
animais em geral para promover a ciência.
No Reino Unido, a
Liga Nacional de Defesa Canina pediu a todos os donos de cães que observassem
um minuto de silêncio, enquanto a Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade
contra Animais (RSPCA) recebeu protestos antes mesmo da Rádio Moscou
terminar de anunciar o lançamento.
Grupos de direitos
dos animais da época pediram aos membros da sociedade que protestassem nas
embaixadas soviéticas. Outros se manifestaram em frente às Nações
Unidas em Nova Iorque.
Esses protestos
foram amplamente despertados e instrumentalizados como uma luta ideológica por
vários grupos de interesse. Pesquisadores de laboratório nos Estados
Unidos ofereceram apoio aos soviéticos, pelo menos antes da notícia da morte de
Laika.
Na União Soviética,
houve menos controvérsia. Nem a mídia, nem os livros dos anos seguintes, nem o
público questionaram abertamente a decisão de enviar um cão ao espaço.
Somente em 1998,
após o colapso do regime soviético, Oleg Gazenko, um dos cientistas responsáveis
pelo envio de Laika, se arrependeu de ter permitido que ela morresse: Trabalhar
com animais é uma fonte de sofrimento para todos nós.
Nós os tratamos
como bebês que não conseguem falar. Quanto mais o tempo passa, mais sinto
muito. Não deveríamos ter feito isso ... Não aprendemos o suficiente desta
missão para justificar a morte da cadela.
Em outros países do
Pacto de Varsóvia, as críticas abertas ao programa espacial soviético foram
difíceis por causa da censura política, mas houve casos notáveis de críticas
nos círculos científicos poloneses.
Um periódico
científico polonês, "Kto, Kiedy, Dlaczego" ("Quem, quando, por
que"), publicado em 1958, discutiu a missão do Sputnik 2. Na seção do
periódico dedicada à astronáutica, Krzysztof Boruń descreveu a missão do
Sputnik 2 como "lamentável" e criticou não trazer Laika de volta à
Terra como "indubitavelmente uma grande perda para a ciência".
Laika foi lembrada
na forma de uma estátua e placa na Cidade das Estrelas, na Rússia, que era a
instalação de treinamento de cosmonautas russos. Levantada em 1997, a
escultura mostra Laika atrás dos cosmonautas com os ouvidos eretos. O
Monumento aos Conquistadores do Cosmos, construído em 1964, também a
incluem.
Em 11 de abril de
2008, nas instalações de pesquisa militar onde os funcionários haviam sido
responsáveis pela preparação de Laika para o voo, as autoridades revelaram um
monumento dela em cima de um foguete espacial. Em 9 de março de 2005, um
pedaço de terreno em marte foi chamado "Laika" de forma não-oficial
pelos controladores da missão Mars Exploration Rover.
Em diferentes
países, selos postais foram criados com a imagem dela em comemoração ao
seu voo. Marcas de chocolate e charutos foram nomeadas em sua memória, e uma
grande coleção de souvenirs da cadela ainda são destaque em leilões atuais.
Futuras missões
espaciais carregando cães seriam projetadas para eles serem recuperados. Quatro
outros cães morreram em missões espaciais soviéticas: Bars e
Lisichka foram mortos quando seu foguete R-7 explodiu logo após o
lançamento, em 28 de julho de 1960; Pchvolka e Mushka morreram quando o
Korabl-Sputnik 3 foi propositalmente destruído com uma carga explosiva
para impedir que potências estrangeiras inspecionassem a cápsula após uma
trajetória errática de reentrada atmosférica em 1 de dezembro de 1960.
Embora nunca tenha
sido mostrada, Laika é mencionada de maneira proeminente no filme de 1985 Mitt
liv som hund, no qual o personagem principal (um jovem garoto sueco no
final da década de 1950) se identifica fortemente com a cadela. Laika,
um romance gráfico de 2007 criado por Nick Abadzis que conta uma história
ficcional da vida de Laika, ganhou o Prêmio Eisner de melhor publicação para
adolescentes.
Ela também é
mencionada na música de 2004 "Neighborhood #2 (Laika)", de Arcade
Fire, incluída no seu álbum de estreia, Funeral. Lajka,
um filme animado de comédia e ficção científica checo de 2017 também foi
inspirado em Laika. Sua morte supostamente foi no dia 3 de novembro de 1957.