Os
senhores do mundo, aqueles que detêm o poder invisível sobre as estruturas
sociais, econômicas e políticas, esforçam-se para nos fazer sentir “bem” e
“responsáveis” ao seguir suas diretrizes.
Nos
últimos trinta anos, observamos como a população, de maneira gradual e quase
imperceptível, tornou-se mais obediente e submissa, moldada por campanhas
cuidadosamente orquestradas que vendem a ilusão de liberdade e virtude.
Um
exemplo claro disso é a promoção do voluntariado, que hoje é exaltada como um
ato heroico, quase santificado. Os que se engajam são elogiados e
“heroificados”, mas o objetivo último dessa narrativa não é tão altruísta
quanto parece: trata-se de uma estratégia para aplacar o mal-estar social
gerado pelo desemprego crônico e pela precariedade, evitando assim que o
descontentamento se transforme em distúrbios ou revoltas.
Para
testar os limites da nossa docilidade, esses “senhores” conduzem experimentos
sociais constantes, como a atual cruzada contra o tabaco. Se fumamos ou não,
isso, em si, não é tão relevante para os governos quanto nos querem fazer crer.
A
campanha antitabaco, vendida como uma questão de saúde pública, é apenas uma
fachada conveniente. Muito mais danosos à saúde coletiva são os gases expelidos
diariamente por milhões de carros, ou a poluição industrial que envenena o ar
das cidades, contra os quais pouco ou nada se faz de concreto.
Enquanto
os técnicos e ativistas que implementam essas campanhas acreditam piamente em
sua missão – movidos por um fervor quase religioso –, para os que estão no
topo, tudo não passa de mais um teste de submissão. E os resultados, ao que
parece, os deixam bastante satisfeitos.
Basta
observar o que acontece no metrô ou no ônibus quando alguém, em um ato de
rebeldia ou descuido, ousa acender um cigarro. O “infrator” é imediatamente
tratado como um pária, um leproso dos tempos modernos.
Logo
surge alguém – muitas vezes com um tom ríspido e autoritário – para lembrá-lo
de que “é proibido fumar”. E o mais revelador não é o confronto em si, mas a
expressão de quem repreende: um misto de orgulho e satisfação, como a de uma
criança que tira uma boa nota na escola ou de um cidadão que se sente
“virtuoso” por cumprir seu papel no sistema.
É
o prazer de se perceber “adequado”, de pertencer, de ser um elo funcional na
corrente da obediência coletiva. Mas o experimento não para por aí. A cada nova
regra imposta, a cada nova proibição aceita sem questionamento, o cerco se
aperta.
Hoje
é o cigarro; amanhã pode ser o consumo de carne, o uso de certas palavras ou
até mesmo a forma como respiramos, tudo em nome do “bem comum”.
E
enquanto nos distraímos com essas pequenas batalhas morais, os verdadeiros
problemas – a desigualdade galopante, a destruição ambiental irreversível, a
concentração de poder nas mãos de poucos – seguem intocados, longe dos
holofotes.
Talvez o maior triunfo desses “senhores do mundo” não seja apenas nos fazer obedecer, mas nos convencer de que, ao fazê-lo, estamos sendo livres.
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