Hans
Frank: O Açougueiro da Polônia
Hans
Michael Frank, nascido em 23 de maio de 1900 em Karlsruhe, Alemanha, foi um
advogado que ascendeu ao poder como um dos mais cruéis administradores do
regime nazista.
Conhecido
como "o Açougueiro da Polônia", Frank desempenhou um papel central no
reinado de terror imposto à Polônia ocupada durante a Segunda Guerra Mundial,
sendo responsável pela morte e sofrimento de milhões de pessoas, especialmente
judeus, em um dos capítulos mais sombrios do Holocausto.
Origens
e Ascensão no Partido Nazista
Filho
de uma família de classe média, Hans Frank formou-se em Direito e começou sua
carreira como advogado, mas sua trajetória mudou drasticamente ao se filiar ao
Partido Alemão dos Trabalhadores, precursor do Partido Nazista (NSDAP), em
1923.
Sua
lealdade ao movimento nazista foi consolidada durante o fracassado Putsch de
Munique, em 1923, um golpe mal-sucedido liderado por Adolf Hitler para tomar o
poder na Baviera.
Após o
fiasco, Frank tornou-se o conselheiro jurídico pessoal de Hitler e advogado do
NSDAP, utilizando seu conhecimento jurídico para defender membros do partido em
tribunais e justificar suas ações violentas.
Em
1930, Frank foi eleito deputado pelo NSDAP, consolidando sua posição no
partido. Em 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, ele foi nomeado Ministro
sem Pasta do Reich, um cargo que, embora sem uma função específica, reforçava
sua proximidade com o Führer.
Em
1934, Frank desempenhou um papel crucial ao fornecer suporte jurídico para os
assassinatos da "Noite das Facas Longas", um expurgo político em que
os nazistas eliminaram opositores internos, como membros da SA
(Sturmabteilung), e outros rivais.
Ele
também esteve envolvido na legalização das atrocidades cometidas no campo de
concentração de Dachau, onde milhares foram torturados e mortos.
Governador-Geral
da Polônia: Um Reinado de Terror
Com a
invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939, Hans Frank foi nomeado
Governador-Geral do Governo-Geral, a administração nazista que controlava
partes do território polonês não anexadas diretamente ao Reich.
Sob seu
comando, de 1939 a 1945, a Polônia tornou-se um epicentro de brutalidade
nazista. Frank arquitetou um sistema de opressão que incluía deportações em
massa, trabalhos forçados, reclusão em guetos e extermínio sistemático,
especialmente de judeus, mas também de poloneses e outras minorias.
Como
Governador-Geral, Frank supervisionou a criação de guetos, como o de Varsóvia,
onde centenas de milhares de judeus foram confinados em condições desumanas,
enfrentando fome, doenças e violência.
Ele
também implementou políticas de trabalho escravo, explorando a população
polonesa em fábricas e campos de trabalho para sustentar a máquina de guerra
nazista.
Sob sua
administração, campos de extermínio como Treblinka, Sobibor, Belzec e
Auschwitz-Birkenau operaram na Polônia ocupada, resultando no assassinato de
milhões de pessoas no contexto do Holocausto.
Frank
demonstrou uma obediência cega às ordens de Hitler, mas também exibiu uma
ambição pessoal que o levou a competir por poder dentro da hierarquia nazista.
Em
1942, seus discursos públicos, que defendiam uma administração mais
"eficiente" do Governo-Geral, desagradaram a Hitler, e ele perdeu
influência na disputa pela Secretaria de Segurança, que foi entregue a Wilhelm
Koppe, sob a liderança de Friedrich Wilhelm Krüger. Apesar disso, Frank
continuou a exercer seu poder com crueldade implacável.
Prisão,
Julgamento e Execução
Com a
derrota iminente da Alemanha em 1945, Hans Frank fugiu do Governo-Geral pouco
antes da chegada do Exército Vermelho. Ele foi capturado pelos norte-americanos
em 4 de maio de 1945, em Berchtesgaden, na Baviera.
Durante
sua prisão, tentou se suicidar duas vezes, mas sem sucesso. Em um esforço para
minimizar sua culpa, Frank apresentou ao Tribunal de Nuremberg 14 petições de
demissão que alegava ter enviado a Hitler - todas rejeitadas - e entregou 40
volumes de seus diários pessoais, nos quais detalhava suas atividades como
Governador-Geral.
Esses
documentos, no entanto, apenas reforçaram as evidências de seus crimes. No
julgamento de Nuremberg, Frank foi acusado de crimes de guerra e crimes contra
a humanidade.
Durante
o processo, ele se converteu ao catolicismo romano, expressando remorso público
por seus atos, embora muitos historiadores questionem a sinceridade de sua
contrição, considerando-a uma tentativa de suavizar sua imagem.
Em 16
de outubro de 1946, ele foi condenado à morte e enforcado. O jornalista da CBS
Howard K. Smith, que testemunhou a execução, descreveu seus últimos momentos:
"Hans
Frank entrou na câmara de execução com um sorriso nervoso. Apesar de
visivelmente tenso, engolindo em seco repetidamente, ele parecia aliviado com a
ideia de expiar seus crimes.
Após
responder calmamente à chamada de seu nome, disse em um sussurro: “Agradeço
pelo tratamento recebido durante meu cativeiro e peço a Deus que me receba em
sua piedade.”
O
Legado Familiar e a Rejeição de Niklas Frank
Hans
Frank teve cinco filhos, mas foi Niklas Frank, o caçula, quem mais se destacou
ao confrontar o legado sombrio de seu pai. Escritor e jornalista, Niklas
publicou o livro "Der Vater: Eine Abrechnung" ("O Pai: Um Acerto
de Contas"), no qual condena veementemente as ações de Hans Frank.
Em
entrevistas e documentários, Niklas expressou desprezo pela tentativa de seu
pai de se redimir com gestos religiosos ou cartas sentimentais. Antes de sua
execução, Frank deixou um bilhete para cada um de seus filhos, datado de 18 de
setembro de 1946, dentro de um livreto de orações. O bilhete dizia:
"Com
todo amor no coração, lhe dou esse livreto de orações e lhe desejo uma vida
ótima sob a proteção de Deus."
Niklas,
ao comentar o bilhete em um documentário, rejeitou-o com indignação, afirmando:
"É
tudo mentira! Eu preferia que ele tivesse escrito: 'Meu querido e amado Niklas,
eu fui um criminoso, tenho certeza que terei a pena de morte, e eu mereço. Por
favor, tenha um pouco mais de civilidade que eu nunca tive. Por favor, viva de
forma diferente do seu pai!'"
Em um
gesto simbólico de repúdio, Niklas transformou um luxuoso casaco de seu pai -
um dos pertences favoritos de Hans Frank - em um espantalho, colocado em um
pomar nos fundos de sua casa, ao lado de um pequeno lago. Ele declarou:
"Todo
dia, eu digo ao meu pai: 'Isso é tudo que você merecia, ser um espantalho aqui
no meu lar!”
Impacto
Histórico e Reflexão
Hans
Frank não foi apenas um executor das ordens de Hitler, mas um arquiteto ativo
do genocídio e da opressão na Polônia ocupada. Sua administração no
Governo-Geral foi marcada por uma eficiência cruel, que transformou a Polônia
em um dos palcos mais trágicos do Holocausto.
A
história de Frank é um lembrete sombrio de como indivíduos aparentemente comuns
podem se transformar em agentes de atrocidades quando seduzidos pelo poder e
pela ideologia.
O
repúdio de Niklas Frank ao legado de seu pai também reflete a luta de uma
geração para lidar com a culpa herdada e a responsabilidade de confrontar o
passado.
Enquanto
Hans Frank buscava redenção em seus últimos dias, o testemunho de Niklas e a
memória das vítimas de suas ações garantem que sua verdadeira face - a do
"Açougueiro da Polônia" - nunca seja esquecida.