Noam
Chomsky, renomado linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e
ativista político norte-americano, é uma figura monumental no pensamento
contemporâneo.
Reverenciado
no meio acadêmico como “o pai da linguística moderna” por suas contribuições
revolucionárias à teoria da sintaxe, ele também se destaca como uma das vozes
mais influentes da filosofia analítica e da crítica social.
Sua
análise sobre os mecanismos de poder e controle das sociedades modernas é
amplamente reconhecida, especialmente no que diz respeito à manipulação do
pensamento coletivo.
Em uma
de suas reflexões mais contundentes, Chomsky afirma:
"Em um estado totalitário, não se importa com o que as pessoas pensam,
desde que o governo possa controlá-las pela força, usando cassetetes.
Mas
quando você não pode controlar as pessoas pela força, você tem que controlar o
que elas pensam, e a maneira típica de fazer isso é através da propaganda
(fabricação de consentimento, criação de ilusões necessárias), marginalizando o
público em geral ou reduzindo-o a alguma forma de apatia"
Essa
ideia, extraída de suas análises sobre a democracia e a mídia, sublinha uma
distinção crucial: em regimes autoritários, a coerção física basta; já em
sistemas que se dizem democráticos, o controle sutil das ideias torna-se
essencial para manter a ordem.
Inspirado
por essas reflexões, o escritor francês Sylvain Timsit elaborou uma lista
intitulada “As 10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos
meios de comunicação de massa”. Publicada em 2002, a lista - frequentemente
atribuída erroneamente ao próprio Chomsky - detalha táticas utilizadas há
décadas para moldar a percepção pública, criar um senso comum artificial e
alinhar o comportamento das populações aos interesses de uma pequena elite
global.
Entre
essas estratégias estão a distração, a infantilização do público, o apelo
emocional em detrimento da razão e a promoção da ignorância como virtude, todas
aplicadas de forma sistemática pelos grandes meios de comunicação.
Contexto
e Aplicação
As
ideias de Chomsky e Timsit ecoam com particular força ao observar a realidade
contemporânea, incluindo o Brasil. Não é coincidência que os grandes
conglomerados de mídia, historicamente alinhados a elites políticas e
econômicas, empreguem incansavelmente essas estratégias.
No
Brasil, por exemplo, a concentração da mídia nas mãos de poucas famílias e
empresas tem permitido a disseminação de narrativas que favorecem interesses
privados em detrimento do bem público.
Durante
períodos de crise política ou econômica, como os impeachment de presidentes ou
reformas impopulares, a cobertura midiática frequentemente prioriza escândalos
sensacionalistas ou debates polarizados, desviando a atenção de questões
estruturais como desigualdade social, corrupção sistêmica ou privatizações
controversas.
Um
exemplo prático é o uso da estratégia da distração - a primeira da lista de
Timsit -, que mantém o público ocupado com trivialidades enquanto decisões
cruciais são tomadas nos bastidores.
Outro
caso evidente é a “culpabilização da vítima”, em que problemas sociais
complexos, como o desemprego, são atribuídos à falta de esforço individual,
ignorando políticas econômicas excludentes.
Essas
táticas, aplicadas diariamente, criam uma ilusão de autonomia: as pessoas
passam a acreditar que suas opiniões são espontâneas, quando, na verdade, foram
moldadas por um fluxo constante de mensagens manipuladoras.
Raízes
Históricas e Impacto
A
análise de Chomsky sobre a “fabricação de consentimento” tem raízes em seu
livro Manufacturing Consent (1988), coescrito com Edward S. Herman, onde ele
disseca como a mídia serve aos interesses de elites corporativas e
governamentais.
Inspirado
por pensadores como Walter Lippmann, que cunhou o termo no início do século XX,
Chomsky argumenta que a democracia moderna depende de uma engenharia do
consenso, na qual a liberdade de expressão existe formalmente, mas é
neutralizada por filtros invisíveis como a propriedade dos meios de comunicação
e a dependência de fontes oficiais.
No
Brasil, esse fenômeno pode ser traçado até o período colonial, quando a
imprensa nascente era controlada por interesses da Coroa e da Igreja, evoluindo
para o domínio oligárquico no século XX e, mais recentemente, para a hegemonia
de grupos como Globo, Record e Bandeirantes.
A
transição para a era digital não rompeu esse padrão: as redes sociais, embora
descentralizadas, amplificaram a manipulação por meio de algoritmos que
reforçam vieses e disseminam desinformação, muitas vezes alinhada aos mesmos
interesses.
Reflexão
e Desafios
A
atualidade do pensamento de Chomsky e das estratégias listadas por Timsit é
inegável. Em um mundo hiperconectado, a manipulação das massas tornou-se mais
sofisticada, utilizando dados pessoais para personalizar narrativas e
aprofundar a apatia ou a polarização.
No Brasil, a ascensão de movimentos populistas e a disseminação de fake news nas últimas eleições são sintomas claros desse processo. Superar essa dinâmica exige não apenas alfabetização midiática, mas uma postura ativa de questionamento e busca por fontes diversas - um desafio monumental em uma sociedade marcada por desigualdades educacionais e acesso limitado à informação de qualidade.
0 Comentários:
Postar um comentário