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quarta-feira, março 12, 2025

Noam Chomsky e a Manipulação das Massas



Noam Chomsky, renomado linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, é uma figura monumental no pensamento contemporâneo.

Reverenciado no meio acadêmico como “o pai da linguística moderna” por suas contribuições revolucionárias à teoria da sintaxe, ele também se destaca como uma das vozes mais influentes da filosofia analítica e da crítica social.

Sua análise sobre os mecanismos de poder e controle das sociedades modernas é amplamente reconhecida, especialmente no que diz respeito à manipulação do pensamento coletivo.

Em uma de suas reflexões mais contundentes, Chomsky afirma:
"Em um estado totalitário, não se importa com o que as pessoas pensam, desde que o governo possa controlá-las pela força, usando cassetetes.

Mas quando você não pode controlar as pessoas pela força, você tem que controlar o que elas pensam, e a maneira típica de fazer isso é através da propaganda (fabricação de consentimento, criação de ilusões necessárias), marginalizando o público em geral ou reduzindo-o a alguma forma de apatia"

Essa ideia, extraída de suas análises sobre a democracia e a mídia, sublinha uma distinção crucial: em regimes autoritários, a coerção física basta; já em sistemas que se dizem democráticos, o controle sutil das ideias torna-se essencial para manter a ordem.

Inspirado por essas reflexões, o escritor francês Sylvain Timsit elaborou uma lista intitulada “As 10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação de massa”. Publicada em 2002, a lista - frequentemente atribuída erroneamente ao próprio Chomsky - detalha táticas utilizadas há décadas para moldar a percepção pública, criar um senso comum artificial e alinhar o comportamento das populações aos interesses de uma pequena elite global.

Entre essas estratégias estão a distração, a infantilização do público, o apelo emocional em detrimento da razão e a promoção da ignorância como virtude, todas aplicadas de forma sistemática pelos grandes meios de comunicação.

Contexto e Aplicação

As ideias de Chomsky e Timsit ecoam com particular força ao observar a realidade contemporânea, incluindo o Brasil. Não é coincidência que os grandes conglomerados de mídia, historicamente alinhados a elites políticas e econômicas, empreguem incansavelmente essas estratégias.

No Brasil, por exemplo, a concentração da mídia nas mãos de poucas famílias e empresas tem permitido a disseminação de narrativas que favorecem interesses privados em detrimento do bem público.

Durante períodos de crise política ou econômica, como os impeachment de presidentes ou reformas impopulares, a cobertura midiática frequentemente prioriza escândalos sensacionalistas ou debates polarizados, desviando a atenção de questões estruturais como desigualdade social, corrupção sistêmica ou privatizações controversas.

Um exemplo prático é o uso da estratégia da distração - a primeira da lista de Timsit -, que mantém o público ocupado com trivialidades enquanto decisões cruciais são tomadas nos bastidores.

Outro caso evidente é a “culpabilização da vítima”, em que problemas sociais complexos, como o desemprego, são atribuídos à falta de esforço individual, ignorando políticas econômicas excludentes.

Essas táticas, aplicadas diariamente, criam uma ilusão de autonomia: as pessoas passam a acreditar que suas opiniões são espontâneas, quando, na verdade, foram moldadas por um fluxo constante de mensagens manipuladoras.

Raízes Históricas e Impacto

A análise de Chomsky sobre a “fabricação de consentimento” tem raízes em seu livro Manufacturing Consent (1988), coescrito com Edward S. Herman, onde ele disseca como a mídia serve aos interesses de elites corporativas e governamentais.

Inspirado por pensadores como Walter Lippmann, que cunhou o termo no início do século XX, Chomsky argumenta que a democracia moderna depende de uma engenharia do consenso, na qual a liberdade de expressão existe formalmente, mas é neutralizada por filtros invisíveis como a propriedade dos meios de comunicação e a dependência de fontes oficiais.

No Brasil, esse fenômeno pode ser traçado até o período colonial, quando a imprensa nascente era controlada por interesses da Coroa e da Igreja, evoluindo para o domínio oligárquico no século XX e, mais recentemente, para a hegemonia de grupos como Globo, Record e Bandeirantes.

A transição para a era digital não rompeu esse padrão: as redes sociais, embora descentralizadas, amplificaram a manipulação por meio de algoritmos que reforçam vieses e disseminam desinformação, muitas vezes alinhada aos mesmos interesses.

Reflexão e Desafios

A atualidade do pensamento de Chomsky e das estratégias listadas por Timsit é inegável. Em um mundo hiperconectado, a manipulação das massas tornou-se mais sofisticada, utilizando dados pessoais para personalizar narrativas e aprofundar a apatia ou a polarização.

No Brasil, a ascensão de movimentos populistas e a disseminação de fake news nas últimas eleições são sintomas claros desse processo. Superar essa dinâmica exige não apenas alfabetização midiática, mas uma postura ativa de questionamento e busca por fontes diversas - um desafio monumental em uma sociedade marcada por desigualdades educacionais e acesso limitado à informação de qualidade.

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