Czesława
Kwoka nasceu em 15 de agosto de 1928, na pequena vila de Wólka Złojecka, na
Polônia, uma região rural marcada pela simplicidade e pela forte influência da
fé católica.
Czesława
e sua mãe, Katarzyna Kwoka, eram católicas romanas, um grupo que, junto com
judeus, ciganos, homossexuais e outros, foi alvo da perseguição sistemática do
regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
O
Partido Nazista, sob a liderança de Adolf Hitler, considerava qualquer grupo ou
instituição que não estivesse sob seu controle absoluto - como a Igreja
Católica em áreas da Polônia - uma ameaça à sua ideologia totalitária.
Essa
intolerância levou à prisão e deportação de milhares de poloneses, incluindo
Czesława e sua mãe. Em 13 de dezembro de 1942, Czesława, então com apenas 14
anos, foi deportada para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em
Oświęcim, junto com outras 318 mulheres.
Sua
mãe, Katarzyna, também foi levada para o mesmo campo, onde enfrentariam
condições desumanas de fome, trabalho forçado e violência. Katarzyna faleceu em
18 de fevereiro de 1943, menos de dois meses após sua chegada, vítima das
brutalidades do campo.
Czesława,
agora sozinha, tornou-se uma das muitas crianças que sofreram a perda de
familiares e a violência implacável do Holocausto. Logo após sua chegada a
Auschwitz, Czesława foi fotografada pelo prisioneiro polonês Wilhelm Brasse, um
fotógrafo que, sob coação dos nazistas, foi obrigado a registrar imagens de
prisioneiros para os arquivos do campo.
As
fotografias de Brasse, tiradas de frente e de perfil, eram parte do processo
burocrático nazista para documentar os prisioneiros antes de submetê-los ao
trabalho forçado, experimentos médicos ou execução.
As
imagens de Czesława, em particular, capturaram sua expressão de medo e
confusão, um testemunho silencioso do terror vivido por uma adolescente
arrancada de sua vida e confrontada com a crueldade inimaginável.
Wilhelm
Brasse, em uma entrevista anos depois ao correspondente da BBC Fergal Keane,
descreveu vividamente o momento em que fotografou Czesława:
"Ela era tão jovem e tão aterrorizada. A garota não entendia por que
estava ali e não conseguia compreender o que lhe diziam. Uma mulher Kapo, uma
supervisora prisioneira, pegou um pedaço de pau e bateu no rosto dela.
Aquela
mulher alemã estava descarregando sua raiva na menina. Uma menina tão bonita,
tão inocente. Ela chorou, mas não podia fazer nada. Antes da foto ser tirada,
Czesława secou as lágrimas e o sangue do corte no lábio.
Para
ser honesto, senti como se eu mesmo estivesse sendo atingido, mas não podia
interferir. Teria sido fatal para mim."
Apenas
três meses após sua chegada, em 12 de março de 1943, Czesława Kwoka foi
assassinada com uma injeção letal de fenol no coração, uma prática comum em
Auschwitz para eliminar prisioneiros considerados "inúteis" ou que
não suportavam mais as condições do campo.
Sua
morte, aos 14 anos, foi uma das cerca de 230.000 crianças e adolescentes
assassinadas em Auschwitz, um número que reflete a escala da brutalidade
nazista contra os mais vulneráveis.
Antes
da libertação do campo pelos Aliados em janeiro de 1945, os nazistas ordenaram
a destruição de todos os registros fotográficos para apagar as evidências de
seus crimes. No entanto, Wilhelm Brasse, em um ato de coragem, conseguiu
esconder e preservar algumas das fotografias, incluindo as de Czesława.
Essas
imagens sobreviveram como um testemunho poderoso dos horrores do Holocausto,
garantindo que as vítimas, como Czesława, não fossem esquecidas.
No 75.º
aniversário de sua morte, em 2018, a artista brasileira Marina Amaral, natural
de Minas Gerais, publicou uma versão colorida da fotografia de Czesława, junto
com imagens de outros prisioneiros.
O
trabalho de Amaral busca dar vida às faces em preto e branco, destacando a
humanidade e a dor por trás de cada olhar. Ao colorir a fotografia de Czesława,
Amaral revelou os hematomas em seu rosto, os traços de sua juventude e a
expressão de medo que Brasse descreveu, trazendo uma nova camada de impacto
visual ao horror do Holocausto.
O
projeto de Amaral não apenas honra a memória das vítimas, mas também serve como
um lembrete da importância de preservar a história para combater a negação do
genocídio e a intolerância.
A
história de Czesława Kwoka é um símbolo da tragédia vivida por milhões durante
a Segunda Guerra Mundial. Sua fotografia, preservada contra todas as
probabilidades, tornou-se um ícone da resiliência da memória humana diante da
tentativa nazista de apagar suas vítimas.
Além
disso, a violência sofrida por Czesława reflete o destino de muitos outros
poloneses católicos, que, embora menos lembrados em comparação com as vítimas
judaicas do Holocausto, também foram alvos da máquina de extermínio nazista.
Estima-se
que cerca de 1,8 a 2 milhões de poloneses não judeus foram mortos durante a
ocupação alemã, muitos deles em campos como Auschwitz, usados não apenas para o
genocídio de judeus, mas também para a eliminação de opositores políticos,
intelectuais, religiosos e qualquer pessoa que desafiasse o regime.
Hoje, a
fotografia de Czesława Kwoka é exibida em memoriais e museus, como o Museu
Estatal de Auschwitz-Birkenau, e continua a inspirar reflexões sobre a
fragilidade da vida, a crueldade do preconceito e a importância de preservar a
memória histórica para garantir que tais atrocidades nunca se repitam.